Número 2 - Ano I - Edição fechada em 21 de Novembro de 2002 Florianópolis-SC
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A atriz e seu candidato galã: beijim-beijim, tchau-tchau / Foto: Antônio Gaudério - Folha ImagemQuando decidiu participar do programa eleitoral do candidato José Serra na TV, Regina Duarte, a “namoradinha do Brasil”, não imaginava a polêmica que surgiria em torno de seu pronunciamento. E não esperava, também, que seu discurso seria melhor aproveitado pelo PT do que pelo PSDB. Na estréia do programa eleitoral tucano do segundo turno das eleições presidenciais, a atriz afirmou que sente que o Brasil corre o risco de perder, com a vitória de Lula, toda a estabilidade tão duramente conquistada. Não imaginava ainda, o desgaste que aquilo traria para sua imagem e que teria de ser escoltada para poder votar no segundo turno.

Naquela semana (de 14 a 18 de outubro), o fato tomou conta do país, que se dividiu entre o apoio e a revolta contra a atriz. Além do discurso não surtir o efeito desejado, foi mais benéfico para os petistas. Após o resultado das eleições, o assunto foi explorado nos pronunciamentos do presidente eleito, que não se cansou de repetir que o povo votou “sem medo de ser feliz”, lembrando o velho bordão do jingle de sua campanha para a presidência em 1989. O publicitário Duda Mendonça, responsável pelo marketing da campanha da Lula, aproveitou o caso para usar a frase “e a esperança venceu o medo” – também repetida por Lula em seus pronunciamentos depois de eleito e nas camisetas de comemoração da vitória.

A declaração da atriz foi taxada de terrorista por parte dos eleitores de Lula. A primeira manifestação de repúdio à inserção foi de João Felício, presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), que enviou carta a Regina Duarte, na qual dizia que a atriz “prestou-se ao papel de terrorista e/ou patrulheira do voto dos que querem mudança”. A partir daí, vieram à tona diversas discussões, desde o direito à liberdade de expressão até a questão ética desse tipo de discurso naquela circunstância. Intelectuais, como o cineasta Jorge Furtado, o dramaturgo Jair Alves e o compositor Aldir Blanc, criticaram a atitude da atriz sob óticas diferentes, mas com o mesmo objetivo de mostrar a falta de fundamentos do discurso. Furtado, em uma análise semiótica da questão, apontou que Regina Duarte tem vários medos, menos o de dizer frases sem sentido. E artistas, como Carlos Vereza, Raul Cortez e Lima Duarte, se posicionaram em defesa da colega. A cantora Nana Caymmi, eleitora de Serra, defendeu Regina Duarte com o argumento de que “ela expressou o sentimento de uma parcela da sociedade e o que o mercado está dizendo”.

Dois dias depois da primeira veiculação do depoimento de Regina Duarte, a atriz Paloma Duarte participou do programa eleitoral de Lula. Em sua inserção, Paloma diz ter procurado a produção do programa petista porque se sentiu “desrespeitada, violentada como cidadã brasileira e como eleitora e queria registrar seu protesto”. No final de sua aparição, Paloma acentuou que um candidato que precisa aterrorizar a população brasileira para tentar se eleger não merece meu respeito, confiança e não mereceria jamais ser presidente da República. Mais dois dias se passaram e a campanha tucana não deixou a síndrome do medo terminar. Desta vez a veterana atriz Beatriz Segal se expôs na defesa de Regina Duarte, e do programa de Serra. Tentou impressionar com a frase de que “tenho medo de dizer que estou com medo”. Sua atuação não repercutiu.

Regina, a porta-voz do medo da eliteOs efeitos do depoimento assustaram Regina Duarte, que foi descansar em uma fazenda no interior paulista. O recolhimento foi “para amadurecer antes de falar sobre o assunto”. Ao voltar de viagem, concedeu uma entrevista à Agência Estado e confessou que estava com mais medo do que quando gravou o depoimento, que tinha medo de perder coisas já conquistadas. Ao ser questionada se foi paga e se o texto era de sua autoria, respondeu que não era verdade, que sua adesão à campanha era ideológica. Já no jornal O Globo, Regina Duarte se contradisse. Esclareceu que seu medo não era de Lula, mas do retorno da hiperinflação caso Lula ganhasse as eleições. Na mesma entrevista, acrescentou que “disse que tinha medo de Lula. Mas meu medo aumentou com a reação de intolerância e ‘patrulha’ política de gente do PT”. No segundo turno, a atriz votou no Instituto de Ensino Pedro Ivo, em São Paulo, escoltada por cerca de 23 pessoas do PSDB. A escolta foi oferecida por integrantes do partido e aceita de imediato, pois ela achava que a presença deles daria um toque “festivo”. Festividade de funeral para uma campanha desastrada e desastrosa. O veneno matou o feiticeiro.

Por causa da polêmica declaração feita para o horário político do PSDB, Regina Duarte quase perdeu um cachê de R$ 250 mil. A atriz havia gravado duas peças para a campanha publicitária da empresa de telefonia Telemar. Depois da veiculação de seu depoimento na campanha do candidato José Serra, a empresa informou a atriz que não pagaria o cachê, mas depois desistiu da atitude. Para a Telemar, o contrato assinado vetava a participação da atriz em qualquer campanha política.

O caso Regina Duarte criou outra polêmica. As opiniões em relação à postura da empresa também se dividiram. A atitude de Regina Duarte de atacar acusando de preconceito e patrulhamento foi mantida inclusive em relação à empresa. Para ela, o preconceito foi causado por sua participação na campanha política. Ameaçada de não receber o cachê, a atriz enviou carta à empresa contestando a decisão.

Em 31 de outubro a Telemar desistiu de cancelar o pagamento, mas manteve a decisão de não veicular as peças publicitárias por tempo indeterminado. O jornal Folha de São Paulo infromou que os anúncios foram gravados em 10 de outubro, e a campanha estrearia no dia 29 em dois estados do Nordeste.


Flávia Lima

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