Número 3 - Ano I - Edição fechada em 13 de Dezembro de 2002 Florianópolis-SC
História Prêmios Capas Jornal Laboratório Expediente Contato Home
Zero comemora 20 anos!
Conheça sua história.
Entre em contato com a gente.
Envie sua mensagem.

Parte da carga de um caminhão que ia para a Colômbia foi roubada. Um fato que não merecia registro nem mesmo nos jornais locais, e no entanto foi noticiado pela mídia internacional. Motivo: tratava-se de quinze exemplares de Vivir para Contarla , primeiro dos três volumes da autobiografia Gabriel Garcia Márquez, prêmio Nobel em 1982 e o mais famoso escritor latino-americano vivo.

Com uma tiragem inicial de dois milhões de exemplares, lançamento simultâneo nos países de língua espanhola e tradução prevista para 35 idiomas, o livro é um fenômeno editorial. Na Argentina, filas de espera foram abertas uma semana antes do lançamento, dia 10 de outubro. Na Espanha, 300 mil exemplares se esgotaram em oito dias. Por aqui, a editora Record já garantiu o lançamento da versão brasileira, mas ainda não há data prevista. Para os leitores mais ansiosos, a Livraria Cultura, de São Paulo, está importando a versão em castelhano do livro, a R$77 o exemplar.

A repercussão está sendo proporcional à espera. Márquez não publicava desde 1997, e há três anos descobriu que tinha câncer linfático. Foi então que decidiu escrever suas memórias, projeto que vinha pensando e repensando há uma década. Para ele “a vida não é o que se viveu, mas o que se recorda e como se recorda para contá-la”. Proveito para o leitor, que se depara com 579 páginas de um Márquez repleto de lembranças, e que tem ou coloca nelas o realismo fantástico – estilo literário que mistura realidade, mito e magia – que o consagrou.

Muito antes da consagração, porém, o livro traz um Gabito (de Gabo, apelido do autor) que nasce em 1928 na cidade de Arataca, Colômbia, onde viveu até os oito anos. Nesse período, é o menino curioso que acompanha a avó por toda a parte, e ouve fascinado mãe e tias conversando sobre mitos locais. Mais tarde, o estudante de Direito que abandona a faculdade para se tornar jornalista, profissão que logo dividirá com a de escritor. Um escritor de vinte anos influenciado por Kafka, Faulkner, Joyce, Virgínia Woolf que, diante de um crítico literário que menosprezara a nova geração de ficcionistas colombianos, em artigo no jornal El Espectador, envia um conto para o jornal. Ele acaba sendo publicado e elogiado: “Nasce um novo e notável escritor”, diz o mesmo crítico. Se Gabo tinha talento, faltava-lhe dinheiro para comprar um só exemplar da publicação. Quando enfim lê o jornal, deixado no banco de trás de um táxi, fica frustrado, e diz que “o conto é uma merda”.

Além das histórias do jovem repórter querendo ser escritor e das curiosidades da infância e adolescência de Márquez, Vivir para Contarla brinda o leitor com passagens detalhando suas influências literárias e fazendo referências aos lugares e pessoas que deram vida e inspiração aos seus personagens. E se já era sabido, por exemplo, que a sua cidade-natal Arataca serviu de espelho para a Macondo de Cem Anos de Solidão, agora se saberá por que. E serão conhecidos também os motivos pelos quais o avô do autor servia de ponto de partida para a saga dos Buendía, e também para o romance Ninguém Escreve ao Coronel. A morte de um amigo toma a forma de ficção em Crônica de uma Morte Anunciada. Baseados nos pais do autor, foram criados Firmina Daza e Florentino Ariza, o casal de O Amor nos Tempos do Cólera, livro considerado pelo próprio Márquez como o melhor que já escreveu.

Boatos de que o autor estaria nos seus últimos dias e teria escrito um texto de despedida correm em diversos sítios da internet. Basta digitar seu nome completo em um canal de busca como o Yahoo para se encontrar dezenas de páginas da Web que reproduzem a brincadeira, literal e literariamente, de mau-gosto. Nas palavras do Nobel colombiano, trata-se de algo feito por um “escritorzinho medíocre”. A verdade é que ele, Márquez, vive atualmente entre o México e os Estados Unidos, se dedicando ao tratamento e à continuação de Vivir para Contarla.

O segundo volume da série, com lançamento previsto para 2004, lembrará a trajetória do autor desde o fim da juventude até os quarenta anos, quando escreveu Cem Anos de Solidão, seu livro seu de maior sucesso. A obra impulsionou sua carreira e já vendeu mais de 30 milhões de exemplares, sendo definido pelo poeta Pablo Neruda como “o melhor romance em língua castelhana depois do Quixote”. Já o terceiro volume trará histórias de suas relações de amizade com grandes líderes mundiais, como Bill Clinton e Fidel Castro. Este, inclusive, de quem Gabo é amigo pessoal há décadas, declarou em entrevista que “na próxima encarnação, quero ser Garcia Márquez”. Os americanos que se cuidem.

Thiago Momm






"Mi madre me pidió que la acompañara a vender la casa. Havia llegado a Barranquilla desde el pueblo distante donde vivía la familia y no tenía la menor idea de cómo encontrarme. Preguntando por aquí y por allá entre los conocidos, le indicaran que me buscara en la libraria Mundo o en los cafés vecinos, donde iba dos veces al día a convesar com mis amigos escritores. El que se lo dijo le advirtió: “Vaya com cuidado porque son locos de remate”. Llegó a las doce en punto. Se abrió paso com su andar ligero por entre las mesas de libros en exhibición, se me plantó enfrente, mirándome a los ojos com la sonrisa pícara de sus días mejores, y antes que yo pudiera reaccionar, me dijo:
– Soy tu madre.
Algo había cambiado en ella que me impidió reconocerla a primera vista. Tenía cuarenta y cinco años. Sumando sus once partos, había pasado casi diez años encinta y por lo menos otros tanto amamantando a sus hijos. Había encanecido por completo antes de tiempo, los ojos se le veían más grandes y atónitos detrás de sus primeros lentes bifocales, y guardaba un luto cerrado y serio por la muerte de su madre, pero conservaba todavia la bellaza romana de su retrato de bodas, ahora dignificada por un aura otoñal. Antes de nada, aun antes de abrazarme, me dijo com su estilo ceremonial de costumbre:
– Vengo a pedirle el favor de que me acompañes a vender la casa.
No tuvo que decirme quál, ni dónde, porque para nosotros sólo existía una en el mundo: la vieja casa de los abuelos en Aracataca, donde tuve la buena suerte de nacer y donde no volví a vivir después de los ocho años. Acababa de abandonar la faculdad de derecho al cabo de seis semestres, destinados más que nada a leer lo que me cayera en las manos y recitar de memoria la poesía irrepetible del Siglo de Oro español. Había leído ya, tracidos y en ediciones prestadas, todos los libros que me habrían bastado pra aprender la técnica de novelar, y había publicado seis cuentos en suplementos de periódicos, que merecieran el entusiasmo de mis amigos y la atención de algunos críticos. Iba a cumplir veintitrés años el mes siguiente, era ya infractor del servicio militar y veterano de dos blenorragias, y me fumaba cada día, sin premoniciones, sesenta cigarrillos de tabaco bárbaro. Alternaba mis ocios entre Barranquilla y Cartagena de Indias, en la costa caribe de Colombia, sobreviviendo a cuerpo de rey de lo que me pagaban por mis notas diarias en El Heraldo, que era casi menos que nada, y dormía lo mejor acompañado posible donde me sorprendiera la noche. Como si no fuera bastante la incertidumbre de mis pretensiones y el caos de mi vida, un grupo de amigos inseparables nos disponíanos a publicar una revista temeraria y sin recursos que Alfonso Fuenmayor planeaba desde hace tres anõs. ¿Qué más podía desear?
Más por escasez que por gusto me antecipé a la moda en veinte anõs: bigote silvestre, cabellos alborotados, pantalones de vaquero, camisas de flores equívocas y sandalias de peregrino. En la obscuridad de un cine, y sin saber que yo estaba cerca, una amiga de entonces le dijo a alguien: “El pobre Gabito es un caso perdido”. De modo que cuando mi madre me pidió que fuera com ella a vender la casa no tube ningún estorbo para decir-le que sí. Ella me planteó que no tenía dinero bastante y por orgullo le dije que pagaba mis gastos.
En el periódico en que trabajaba no era posible resolverlo. Me pagaban tres pesos por una nota diaria y cuatro por un editorial cuando faltaba alguno de los editorialistas de planta, pero apenas me alcanzaban. Traté de hacer un préstamo, pero el gerente me recordó que mi deuda original ascendía a más de cincuenta pesos. Esa tarde cometí un abuso del cual ninguno de mis amigos habría sido capaz. A la salida del café Colombia, junto a la librería, me emparejé com don Ramón Vinyes, el viejo maestro e librero catalán, y le pedi prestados diez pesos. Sólo tenía seis.
Ni mi madre ni yo, por supuesto, hubiéramos podido imaginar siquiera que aquel cándido paseo de sólo dos dias iba a ser tan determinante para mí, que la más larga y diligente de las vidas no alcanzaría para acabar de contarlo. Ahora, com más de setenta y cinco años bién medidos sé que fue la decisión más importante de cuantas tuve que tomar en mi carrera de escritor. Es decir: en toda mi vida."
Para ler o primeiro capítulo, em espanhol:
Grupo Editora Norma (http://www.norma.com)
página principal
Se você tiver algum problema ao navegar nesta página envie um email para zero@cce.ufsc.br.
ÚLTIMA EDIÇÃO:
13 de Dezembro

Sistema Integrado de Transporte Coletivo

EDIÇÕES ANTERIORES:
21 de Novembro
O triunfo da esperança sobre o medo
15 de Agosto
Deserdados
Especial Colômbia