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JORNALISMO
- UFSC
Leia. Recomende aos amigos.
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O
escritor e cartunista Ziraldo realizou um sonho antigo: republicar
a Turma do Pererê, quatro décadas depois
de sua primeira edição. O Pererê
é considerada a mais importante HQ brasileira criada
na década de 60. Ziraldo, que sempre teve uma paixão
enorme por seu personagem, decidiu que reorganizaria as histórias
para republicá-las depois de ver o álbum Toda
Mafalda, criado pelo argentino Quino. Ziraldo tinha guardado
todos os originais da Turma do Pererê e iniciou
então a fase de restauração deles. “Foi
um trabalho delicado e moroso. Agora chegou às bancas
o primeiro volume”, diz, orgulhoso. As histórias
não serão publicadas na mesma seqüência
em que foram elaboradas. O primeiro volume, por exemplo, traz
uma história sobre futebol. A proposta da editora Salamandra
é lançar a cada três meses um novo volume
e até o fim do ano familiarizar os leitores com toda
a turma.
Retorno - O
relançamento de Pererê, é a oportunidade
para o público acompanhar as traquinagens e aventuras
de um personagem bem brasileiro. Pererê é
inspirado na figura folclórica do Saci, um menino negro,
de uma perna só, que habita uma floresta chamada Mata
do Fundão. Ele se diverte escondendo objetos e aprontando
travessuras junto com sua turma de amigos: o jabuti Moacir,
o coelho vermelho Geraldinho, uma onça chamada Galileu,
o tatu Pedro Vieira, o macaco Alan e a coruja Professor Nogueira.
Pra completar a tchurminha, tem também a Boneca
de Piche, a indiazinha Tuiuiú e o bravo guerreiro Tininim.
Por ser uma ficção atemporal, a volta do Pererê
às bancas é perfeitamente po ssível.
Os temas são universais, as pessoas sorriem, choram,
emocionam-se como há 40 anos. “É possível
publicar esse texto porque ele não envelhece. A temática
continua e está próxima do universo das pessoas,
como em outros quadrinhos, como a Turma da Mônica,
por exemplo”.
O primeiro volume do relançamento, intitulado Todo
Pererê, teve uma tiragem inicial de 10 mil exemplares.
O lançamento oficial foi na Bienal do Livro. Como em
edições anteriores, o autor atendeu uma longa
fila de leitores. “Participo da Bienal do Livro de São
Paulo desde a década de 80, minha fila é famosa.
Todas as vezes que participo, encontro pessoas que eram meninos
outro dia e hoje levam seus filhos para autografar os livros”.
A Origem -
A revista Pererê foi lançada pela primeira
vez em outubro de 1960 pela revista O Cruzeiro, principal
publicação de atualidades do período.
Na época as revistas da Luluzinha e Bolinha vendiam
muito, tinham público cativo. Daí surgiu a idéia
de fazer uma revista naqueles moldes, com um personagem tipicamente
brasileiro: o Pererê. “Recebi a proposta
numa sexta-feira e na segunda apresentei a revista pronta.
A Turma do Pererê a lcançou
um sucesso tremendo, chegamos a publicar mais de 150 mil exemplares”,
conta Ziraldo. Ele, aos 28 anos, se lançava no mercado
homenageando os amigos de Caratinga, sua cidade natal, e que
estudavam com ele em Belo Horizonte. O gibi, no formato 17,5
x 25 cm e com 36 páginas, durou 43 meses, encerrando
sua trajetória em abril de 64, por causa da ditadura.
Ziraldo partiu para outros trabalhos, na imprensa alternativa
(O Pasquim) e criou novos personagens (A Supermãe,
Menino Maluquinho). Na década de 70 a editora
Abril relançou Pererê, mas só
publicou dez edições. Isso não desanimou
Ziraldo: depois de se incursionar pela literatura e teatro
infantis, tem planos de transformar em filme a Turma do
Pererê e fala também em montar um parque
temático, inspirado na revista.
Personagens - Mas... para onde
vão os personagens quando as histórias terminam?
No caso de Moacir, Quiquica e Pimentel, três integrantes
da Turma do Pererê , eles saíram da
Mata do Fundão e foram cuidar de suas próprias
vidas em Florianópolis. Só que, mesmo distantes
1.500 km de Caratinga, onde se conheceram, e 32 anos após
o fim da primeira época da revista, eles ainda se encontram
com os pererês espalhados pelo país,
convivendo com as lembranças da infância e as
historinhas desenhadas por Ziraldo.
O médico aposentado Moacir Viggiano, 72 anos, leva
uma vida tranqüila no bairro Serrinha, perto da UFSC.
Mineiro de Inhapim e morando em Florianópolis desde
1961, ele nunca foi de muita agitação - e isso
lhe rendeu seus instantes de fa ma.
O autor Ziraldo, ao lançar a revista em quadrinhos
Pererê, aproveitou o nome dos amigos de infância
para batizar os personagens. O pacato Moacir virou a tartaruga,
o jaboti Moacir.
No bairro Saco dos Limões vivem mais dois personagens
da Turma do Pererê: Antônio Pimentel
Pontes e Maria Francisca Arreguy Pimentel, amigos de Ziraldo
e Moacir na Caratinga (MG) dos anos 50. Eles são o
casal de joão-de-barro Pimentel e Quiquica,
ambos com 65 anos. Após visitar Moacir em 1972, Pimentel
voltou para Brasília, onde moravam, garantindo à
esposa que, quando se aposentassem, migrariam para Florianópolis.
“Pensei que fosse conversa fiada mas, no início
dos anos 90 viemos para cá”, conta ela.
O autor Ziraldo costuma negar a presença de elementos
físicos ou psíquicos dos amigos de infância
nos personagens homônimos. “Ele diz que não
tem nada a ver, mas a gente percebe coisas que só quem
participou daquela época em Caratinga pode identificar”,
explica Moacir. Realmente, há fatos da vida real refletidos
nas páginas da revista – por exemplo, o nascimento
do filho de Allan Viggiano, o irmão de Moacir, que
empresta o nome ao macaco da turma. No caso dos joões-de-barro,
Quiquica comenta: “o Ziraldo fez o Pimentel falador
e eu tímida, retraída. Na verdade é o
oposto, ele fez uma brincadeira com a gente”.
Os personagens da Turma do Pererê e o próprio
Ziraldo se reencontram, no mínimo, a cada dois anos.
Num desses encontros, em Itajubá (RJ), Quiquica percebeu
a maior diferença entre a Turma do Pererê
na vida real e na ficção: o envelhecimento.
Um grupo de crianças foi apresentado aos “pererês”
e houve espanto com o aspecto sexagenário de todos.
“A beleza da coisa taí”, acredita Moacir,
mas Quiquica não se conforma: “os personagens
nos quadrinhos deveriam envelhecer também. Não
que ficassem de cabelo branco, mas que amadurecessem, ao menos.
O Ziraldo se diz jovem, independente da idade. Eu já
enxergo diferente: podemos não ser jovens, mas devemos
nos manter atualizados”.
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