Número 1 - Ano I - Edição fechada em 29 de Julho de 2002 Florianópolis-SC
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Recordista de livros infantis volta à origem: histórias em quadrinhos / Foto: Paulo Prandini - AEO escritor e cartunista Ziraldo realizou um sonho antigo: republicar a Turma do Pererê, quatro décadas depois de sua primeira edição. O Pererê é considerada a mais importante HQ brasileira criada na década de 60. Ziraldo, que sempre teve uma paixão enorme por seu personagem, decidiu que reorganizaria as histórias para republicá-las depois de ver o álbum Toda Mafalda, criado pelo argentino Quino. Ziraldo tinha guardado todos os originais da Turma do Pererê e iniciou então a fase de restauração deles. “Foi um trabalho delicado e moroso. Agora chegou às bancas o primeiro volume”, diz, orgulhoso. As histórias não serão publicadas na mesma seqüência em que foram elaboradas. O primeiro volume, por exemplo, traz uma história sobre futebol. A proposta da editora Salamandra é lançar a cada três meses um novo volume e até o fim do ano familiarizar os leitores com toda a turma.

Retorno - O relançamento de Pererê, é a oportunidade para o público acompanhar as traquinagens e aventuras de um personagem bem brasileiro. Pererê é inspirado na figura folclórica do Saci, um menino negro, de uma perna só, que habita uma floresta chamada Mata do Fundão. Ele se diverte escondendo objetos e aprontando travessuras junto com sua turma de amigos: o jabuti Moacir, o coelho vermelho Geraldinho, uma onça chamada Galileu, o tatu Pedro Vieira, o macaco Alan e a coruja Professor Nogueira. Pra completar a tchurminha, tem também a Boneca de Piche, a indiazinha Tuiuiú e o bravo guerreiro Tininim. Por ser uma ficção atemporal, a volta do Pererê às bancas é perfeitamente possível. Os temas são universais, as pessoas sorriem, choram, emocionam-se como há 40 anos. “É possível publicar esse texto porque ele não envelhece. A temática continua e está próxima do universo das pessoas, como em outros quadrinhos, como a Turma da Mônica, por exemplo”.

O primeiro volume do relançamento, intitulado Todo Pererê, teve uma tiragem inicial de 10 mil exemplares. O lançamento oficial foi na Bienal do Livro. Como em edições anteriores, o autor atendeu uma longa fila de leitores. “Participo da Bienal do Livro de São Paulo desde a década de 80, minha fila é famosa. Todas as vezes que participo, encontro pessoas que eram meninos outro dia e hoje levam seus filhos para autografar os livros”.


A Origem - A revista Pererê foi lançada pela primeira vez em outubro de 1960 pela revista O Cruzeiro, principal publicação de atualidades do período. Na época as revistas da Luluzinha e Bolinha vendiam muito, tinham público cativo. Daí surgiu a idéia de fazer uma revista naqueles moldes, com um personagem tipicamente brasileiro: o Pererê. “Recebi a proposta numa sexta-feira e na segunda apresentei a revista pronta. A Turma do Pererê alcançou um sucesso tremendo, chegamos a publicar mais de 150 mil exemplares”, conta Ziraldo. Ele, aos 28 anos, se lançava no mercado homenageando os amigos de Caratinga, sua cidade natal, e que estudavam com ele em Belo Horizonte. O gibi, no formato 17,5 x 25 cm e com 36 páginas, durou 43 meses, encerrando sua trajetória em abril de 64, por causa da ditadura. Ziraldo partiu para outros trabalhos, na imprensa alternativa (O Pasquim) e criou novos personagens (A Supermãe, Menino Maluquinho). Na década de 70 a editora Abril relançou Pererê, mas só publicou dez edições. Isso não desanimou Ziraldo: depois de se incursionar pela literatura e teatro infantis, tem planos de transformar em filme a Turma do Pererê e fala também em montar um parque temático, inspirado na revista.

Personagens
- Mas... para onde vão os personagens quando as histórias terminam? No caso de Moacir, Quiquica e Pimentel, três integrantes da Turma do Pererê , eles saíram da Mata do Fundão e foram cuidar de suas próprias vidas em Florianópolis. Só que, mesmo distantes 1.500 km de Caratinga, onde se conheceram, e 32 anos após o fim da primeira época da revista, eles ainda se encontram com os pererês espalhados pelo país, convivendo com as lembranças da infância e as historinhas desenhadas por Ziraldo.

O médico aposentado Moacir Viggiano, 72 anos, leva uma vida tranqüila no bairro Serrinha, perto da UFSC. Mineiro de Inhapim e morando em Florianópolis desde 1961, ele nunca foi de muita agitação - e isso lhe rendeu seus instantes de fama. O autor Ziraldo, ao lançar a revista em quadrinhos Pererê, aproveitou o nome dos amigos de infância para batizar os personagens. O pacato Moacir virou a tartaruga, o jaboti Moacir.

No bairro Saco dos Limões vivem mais dois personagens da Turma do Pererê: Antônio Pimentel Pontes e Maria Francisca Arreguy Pimentel, amigos de Ziraldo e Moacir na Caratinga (MG) dos anos 50. Eles são o casal de joão-de-barro Pimentel e Quiquica, ambos com 65 anos. Após visitar Moacir em 1972, Pimentel voltou para Brasília, onde moravam, garantindo à esposa que, quando se aposentassem, migrariam para Florianópolis. “Pensei que fosse conversa fiada mas, no início dos anos 90 viemos para cá”, conta ela.

O autor Ziraldo costuma negar a presença de elementos físicos ou psíquicos dos amigos de infância nos personagens homônimos. “Ele diz que não tem nada a ver, mas a gente percebe coisas que só quem participou daquela época em Caratinga pode identificar”, explica Moacir. Realmente, há fatos da vida real refletidos nas páginas da revista – por exemplo, o nascimento do filho de Allan Viggiano, o irmão de Moacir, que empresta o nome ao macaco da turma. No caso dos joões-de-barro, Quiquica comenta: “o Ziraldo fez o Pimentel falador e eu tímida, retraída. Na verdade é o oposto, ele fez uma brincadeira com a gente”.

Os personagens da Turma do Pererê e o próprio Ziraldo se reencontram, no mínimo, a cada dois anos. Num desses encontros, em Itajubá (RJ), Quiquica percebeu a maior diferença entre a Turma do Pererê na vida real e na ficção: o envelhecimento. Um grupo de crianças foi apresentado aos “pererês” e houve espanto com o aspecto sexagenário de todos. “A beleza da coisa taí”, acredita Moacir, mas Quiquica não se conforma: “os personagens nos quadrinhos deveriam envelhecer também. Não que ficassem de cabelo branco, mas que amadurecessem, ao menos. O Ziraldo se diz jovem, independente da idade. Eu já enxergo diferente: podemos não ser jovens, mas devemos nos manter atualizados”.



Thaís Corrêa

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