Número 1 - Ano I - Edição fechada em 29 de Julho de 2002 Florianópolis-SC
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Gasperin: com óculos e antes de ser paiHá muito tempo os chamados indies não estavam tão bem representados nas bancas. A revista Frente já está em sua terceira edição, prometendo valorizar o mercado independente e revelar os novos astros da música jovem no país. Os responsáveis pela empreitada são os jornalistas Ricardo Alexandre, Marcelo Ferla e Emerson Gasperin, editor-chefe da extinta Showbizz e ex-aluno do Curso de Jornalismo da UFSC. A publicação é uma parceria entre sua editora, REM, com a Ágata, também de São Paulo.

A idéia de criar a revista surgiu no segundo semestre do ano passado, quando os três jornalistas perderam seus empregos. A Showbizz tinha acabado, Marcelo Ferla não era mais editor de cultura da revista Única e Ricardo Alexandre deixara a editoria de conteúdo do site Usina do Som. Emerson Gasperin acredita que seria muito difícil achar um emprego condizente com o que eles faziam até o momento. “É mais fácil achar emprego de repórter do que de editor-chefe”. Eles criaram a editora REM (iniciais de seus prenomes) e o primeiro trabalho que realizaram juntos foi o site do Free Jazz Festival.

Para produzir a Frente, os jornalistas fecharam um acordo com a Editora Ágata – proprietária da revista DJ World. A REM é contratada para fazer a revista DJ World e as duas editoras assumem o projeto da Frente. O acordo feito inicialmente para três edições pode ser prorrogado. Como até agora a revista não deu lucro, embora sem causar prejuízo, talvez os jornalistas desistam do projeto. “Se eu fizer três edições e a revista acabar, fiz o que era afim de fazer. Se as pessoas não quiseram, problema delas” diz Emerson.

Enquanto a revista circula, os três sócios trabalham em casa. Emerson Gasperin e Marcelo Ferla têm computadores Macintosh e fazem o trabalho de edição. Os textos e páginas são enviados para a diretora de arte pela Internet – por conexão discada. “Nunca pensei que ia trabalhar em condições piores que as da Showbizz”. Mesmo com essa estrutura de fanzine, os editores tentam preservar um esquema profissional. Ninguém edita o próprio texto, todos os colaboradores são pagos. “A gente não tá brincando de ser publisher”. Emerson diz que se acostumou a não separar as funções de jornalista das de empresário. “Vender a revista é tão excitante quanto ter o furo”. Mesmo assim, alerta que toda vez que se encontra com os outros editores para discutir problemas da empresa, o encontro acaba virando uma reunião de pauta. “A gente se controla, porque não pode ser assim. Não é só uma revista, é o nosso negócio”.

A maior dificuldade dos leitores da Frente tem sido encontrar a revista na banca. Emerson reclama da distribuição feita pela Fernando Chinaglia Distribuidora, mas lembra, que com uma tiragem de 30 mil exemplares, a editora não têm força pra pressioná-los. Ele diz que os problemas de distribuição também ocorriam quando editava a Showbizz, mas não se conforma. “Nas bancas da minha rua não tem a revista que eu faço”.

Terceiro número (direita), sem disco e mais barato, pode alavancar vendas pelo país

Aspirador de pó na capa
- Outro problema enfrentado pelos jornalistas foi o CD com novas bandas que acompanhou as duas primeiras edições da revista. Apesar de ser o grande diferencial da publicação, aumentava o preço (R$ 10,90) e criava dificuldades de circulação no Rio Grande do Sul, onde o Governo do Estado sobretaxa as revistas que trazem brindes. Quando a revista foi planejada, eles imaginavam que o mercado gaúcho seria o segundo mais importante em vendas. “Inclusive cogitou-se que ela só circulasse em São Paulo e no Rio Grande do Sul”. A terceira edição não traz CD e vai custa muito menos: R$ 5,90. Eles acreditam que essa decisão pode dar novo impulso ao projeto.

Tentando acertar o público-alvo, a Frente vai sofrendo modificações a cada edição. Emerson admite que a revista foi planejada para um público indie, talvez até com uma visão estereotipada desse leitor. Mas foram surpreendidos pelas respostas ao questionário encartado na primeira edição. “Quem compra a revista é muito parecido com a gente”. No primeiro número a capa era mais conceitual e mostrava quem está trabalhando para reconstruir o pop nacional. No segundo, Supla – um artista mais popular. Para a terceira edição, o destaque da capa é um artista estrangeiro, a banda americana Weezer. “O meu sonho era que as pessoas comprassem a revista porque gostam dos textos, das bandas, mesmo que eu colocasse um aspirador de pó na capa”.

Do CD encartado na primeira revista, as bandas mais destacadas pelos leitores que responderam ao questionário foram Casino, Thee Butcher’s Orchestra e Wander Wildner. A escolha das bandas foi feita com um critério bem claro: “são as bandas que a gente gostaria de ouvir no rádio, por isso privilegiamos a música pop”. Emerson diz que o segundo cd foi mais heterogêneo e representa um painel das bandas que estão surgindo no país. “É um CD Frankenstein”.

Entre as maiores recompensas que os jornalistas tem tido com a Frente está o espaço dado a bandas talentosas que não tem onde se revelar. Emerson destaca que as bandas Stereo Maracanã e Wado conseguiram gravar seus primeiros CDs depois de integrarem a coletânea encartada na primeira edição. Eles também estão satisfeitos com a resposta dos leitores. “Um cara do interior da Bahia mandou e-mail dizendo que não imaginava que existissem bandas tão interessantes no país”.

Mas o fato mais destacado é a liberdade para fazer a revista. Emerson diz que tem aproveitado a experiência como editor-chefe da Showbizz para fazer a Frente, mas que os outros sócios estão muito empolgados com o projeto. “Ter responsabilidade não é inédito pra mim”. Para ele, a grande diferença entre ser dono e empregado da publicação é ter que zelar pela qualidade editorial e pelo desempenho comercial. “O dono é sempre muito mais careta que o empregado.”

Upiara Boschi

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