Durante
um mês inteirinho tivemos que nos manter acordados para
ver a Copa 2002. Vai demorar outro mês para recuperar
o sono perdido. Mas no fim foi gratificante. O brasileiro
saiu de alma lavada. Tínhamos um time desacreditado
e pior...nossos maiores rivais estavam na crista da onda.
Argentina, França e Itália figuravam entre os
favoritos para leva a taça. Por fim, acabou dando em
Pentacampeonato para o Brasil. Como estampou na capa o francês
Liberation, o Brasil ressuscitou! Mas a primeira
Copa sediada por dois países não serviu apenas
para a confirmar a supremacia do futebol brasileiro. O mundo
passou a conhecer craques como os senegaleses Diouf, Camara,
Fadiga e Bouba Dioup. Nos encantamos com o futebol do espanhol
Raúl, do irlandês Robbie Keane e do inglês
David Beckham. O argentino Verón e o meia francês
Djorkaeff, por outro lado, não repetiram as atuações
que os levaram à glória em 1998. A Copa trouxe
a volta da Celeste Uruguaia depois de doze anos de ausência.
Foi a primeira de Senegal, Eslovênia, China e Equador
e a última de craques como o croata Suker (artilheiro
da Copa passada), o espanhol Hierro (maior goleador da “Fúria”
em mundiais), o meia belga Walem e o goleiro encrenqueiro,
gordo e paraguaio Chilavert. O “futebol decadente”
como definiu o francês Viera, acabou por cima da carne
seca. De mansinho, o Brasil venceu.
Pedra no sapato - Nunca
em uma Copa viu-se tantos resultados inesperados. De anfitriã
desacreditada à equipe revelação do mundial,
a Coréia do Sul impressionou até mesmo o mais
fanático torcedor do país. A maré-vermelha,
como ficou conhecida a torcida coreana, ainda parece abismada
com a campanha da seleção nacional. Os asiáticos
mandaram para casa mais cedo três favoritos ao título
- Portugal (na primeira fase), Itália (nas oitavas-de-final)
e Espanha (nas quartas) sentiram na pele a eficácia
do futebol coreano. Aliando velocidade à disciplina
técnica (implantada pelo técnico holandês
Guus Hiddink), a Coréia venceu quatro partidas e só
não foi à final porque encontrou pelo caminho
o futebol de resultados da vice-campeã Alemanha.
Já os turcos foram comendo pelas beiradas. Tiveram
o caminho facilitado pelos cruzamentos das fases eliminatórias
(enfrentaram um inexperiente Japão e um cansado Senegal).
O exército turco só curvou-se diante do gol
de bico do artilheiro Ronaldo.
Os suecos não chegaram tão longe - foram derrotados
na morte súbita das oitavas-de-final - mas tiveram
o mérito de se classificar no chamado “Grupo
da Morte”, que reunia as campeãs Argentina e
Inglaterra, além da sempre perigosa Nigéria.
Aliás, eliminar os argentinos na primeira fase foi
o grande feito da Suécia.
Por fim, Senegal. Não dá para chamar de zebra
uma seleção formada por jogadores que jogam
no futebol francês. Porém, não deixa de
ser surpreendente os africanos terem se classificado jogando
contra adversários como a França dos craques
Zidane e Trezeguet, e o Uruguai - que apesar de há
décadas não ter conseguido resultados expressivos,
conta com craques como Recoba e Montero.
Fenômeno - O
mundo não entendeu. Ronaldo recuperou-se da lesão
que o afastou por dois anos dos gramados, esqueceu o trauma
da final de 1998 e foi o artilheiro da Copa com oito gols.
Apesar de tudo isso perdeu o título de melhor jogador
para o goleiro alemão Oliver Kahn. Para quem não
lembra, Kahn engoliu um verdadeiro frango na partida final
da Copa. Soltou um chute de Rivaldo nos pés do artilheiro.
A partir daquele momento o Brasil tomou conta do jogo e logo
fez o segundo, novamente com Ronaldo. Não deu para
entender. Parece que o prêmio foi uma espécie
de consolação àquele que era a única
esperança alemã. Pegou mal.
Mas isso não abalou Ronaldo em seu retorno. Ele deu
a volta por cima e respondeu à altura a todos que não
acreditavam na sua volta aos gramados. Se igualou ao rei Pelé
em número de gols em Copas do Mundo (fez quatro na
Copa da França e oito neste ano) e não deve
parar por aí. Ronaldo tem 25 anos e no mínimo
mais uma Copa pela frente. Daqui a quatro anos vai estar tinindo.
É o que se espera. Pode se tornar o maior artilheiro
do Brasil em Mundiais e honrar o apelido que recebeu nos anos
em que brilhou no futebol europeu. Ronaldo voltou a ser Fenômeno.
O apito pode ter decidido muita coisa nesta Copa. E os maiores
beneficiados com os erros dos senhores árbitros foram
- não se sabe bem porque - Coréia do Sul e Brasil.
É difícil afirmar que se agiu de má-fé,
mas a Comissão de Arbitragem poderia ter tido um pouco
mais de cuidado ao escalar os juízes. Colocar um árbitro
coreano, sem nenhuma experiência internacional, para
comandar a estréia da seleção brasileira,
cheira a agrado político. E o tiro acabou saindo pela
culatra. Depois de ter marcado um pênalti inexistente
em cima do atacante Luizão, o coreano foi afastado
do quadro de árbitros da Copa. Nas oitavas-de-final
o Brasil também foi favorecido. Na partida contra os
belgas um gol de cabeça do atacante Wilmots foi anulado
pelo árbitro da partida. Até hoje se tenta saber
o porquê. A pior arbitragem aconteceu, porém,
na partida entre Coréia do Sul e Espanha pelas quartas-de-final.
O juiz do jogo conseguiu anular dois gols legítimos
dos espanhóis e ainda marcar um impedimento duvidoso
em favor dos coreanos. Mais estranho ainda é lembrar
que a Coréia havia se classificado em uma partida conturbada
contra a Itália. Os europeus reclamam da expulsão
do atacante Totti que teria, segundo o juiz, simulado um pênalti.
No mesmo jogo um gol do meia italiano Tomasi foi mal anulado.
É melhor pensar que foi tudo coincidência. Os
erros de arbitragem são normais...as jogadas acontecem
em frações de segundo e afinal...sem esses pequenos
equívocos o futebol não teria a menor graça.
Baixo nível - Há
quem diga que foi o baixo nível técnico dos
adversários que fez com que o Brasil vencesse sete
partidas consecutivas. São os mesmos que sustentam
a idéia de que a Argentina e França teriam feito
a melhor final desta Copa. Pois as duas seleções
foram incompetentes quando um mínimo deslize poderia
causar-lhes a desclassificação. A até
então divina seleção francesa saiu do
mundial de cabeça baixa sem ter marcado um único
gol. Mostrou-se dependente demais do futebol do astro Zidane.
O meia se machucou pouco antes do início da Copa e
só jogou na última partida dos franceses. Mesmo
contundido foi o melhor em campo. Foi o único que se
salvou. Volta para casa tranqüilo. Para os argentinos,
o grande problema - além da exagerada soberba que os
levou a entrar em campo como quem faz um passeio de fim-de-semana
- foi o técnico Marcelo Bielsa. Ele deixou de fora
da convocação os astros Riquelme e Saviola.
Preferiu levar os já decadentes Hernán Crespo
e Caniggia. Além disso não soube mexer na equipe.
Quando precisava dos astros Verón e Simeone em campo,
preferiu inovar e escalou Kily Gonzales e Aimar. E, para quem
não lembra, o Brasil acabou tendo um caminho bastante
difícil até o título. Passou por cima
da retranca belga na partida mais difícil da fase eliminatória,
dinamitou a forte Inglaterra dos craques Beckham e Owen, venceu
apertado a surpreendente Turquia e esculachou a tradicional
Alemanha do goleiro Kahn. Portanto, não foi tão
fácil assim...
Esquema suicida - Felipão
arriscou. Enquanto o Brasil pedia Romário ele preferiu
apostar na recuperação de Ronaldo e Rivaldo.
Os dois foram decisivos para o título. Juntos fizeram
treze gols em sete partidas. A média é de quase
dois por jogo.
A idéia de jogar com três zagueiros nunca agradou
aos brasileiros. Muito pelo contrário, nos fazia lembrar
da trágica Copa de 1990. Pois Scolari manteve os três
ali, mesmo que tivessem a mesma característica de zagueiros
centrais, que pouco marcam pelas faixas laterais e têm
dificuldades de sair jogando pelas alas. Felipão escalou
o capitão Cafu praticamente como um quarto zagueiro,
dando maior
liberdade para Roberto Carlos ir para o ataque. Manteve Gilberto
Silva preso à marcação e Kléberson
um pouquinho mais solto no meio. Liberdade mesmo, só
para o trio de “erres” do ataque. Com isso o Brasil
sofreu no meio-campo. Pouco desarmou, pouquíssimo criou.
Não marcou sob pressão no campo de ataque, não
tabelou, não jogou o que podia ter jogado. A entrada
de Ricardinho poderia ter dado um maior equilíbrio
tático à equipe. Contudo, o Brasil venceu. Os
170 milhões de técnicos brasileiros não
acreditavam no esquema suicida de Scolari mas foi com ele
que trouxemos o Penta para casa.
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