|
Zero
comemora 20 anos!
Conheça sua história. |
|
|
|
Entre
em contato com a gente.
Envie sua mensagem. |
|
|
|
 |
Os
catarinenses deram a prova definitiva de que estão
com Luís Inácio Lula da Silva no comício
de Florianópolis na última quarta-feira
antes da eleição. Mais de 30 mil pessoas
se espremeram no Largo da Alfândega, aguardando
desde as seis horas da tarde a chegada do candidato
do Partido dos Trabalhadores à Presidência
da República. Logo que a banda Guaypeka começou
o primeiro show da noite, ficou claro que ninguém
estava ali por causa dos artistas convidados. Queriam
ver Lula em seu último comício do segundo
turno eleitoral. Isso em sua noite em que o time de
futebol mais popular do Brasil enfrentava o mais popular
de Santa Catarina no estádio Orlando Scarpelli.
E foi o próprio Lula quem melhor definiu o entusiasmo
do momento: “Isso não é um comício.
Isso aqui é uma aula de pós-graduação
em Sociologia Política”.
E a capital catarinense finalmente colaborou com Lula.
A chuva e o mau tempo, que já haviam atrapalhado
seus comícios no segundo turno de 89 e no primeiro
turno dessa campanha, dessa vez passaram longe. Em todos
os lugares do Centro de Florianópolis se encontrava
gente com adesivos do PT, camisas com o nome de Lula
e cabos eleitorais de Luiz Henrique da Silveira trazidos
de Joinville especialmente para o evento. Discutia-se
política na porta dos colégios e na frente
dos bares e restaurantes, onde muita gente preferiu
esperar a chegada de Lula. Pais com bebês e crianças
compareceram em grande número, para orgulho do
presidente eleito: “Em um comício com baderna,
bagunça e ladrões, um pai não levaria
seu filho”.
Os policiais do posto do Largo da Alfândega não
registraram nenhuma ocorrência grave, mas a multidão,
aguardando o petista atrás do palanque, acabou
bloqueando a rua que desce a Praça XV. Muitos
deles, como a gaúcha Helena Vaghetti, queria
apenas aproveitar para ver Lula de perto. Outros estavam
ali porque acreditavam que Luís Inácio
era o único que poderia resolver seus problemas.
Um grupo de funcionários das empresas Cipla,
Profiplast e Interfibra, todas de Joinville, queria
entregar ao candidato uma carta contando como o dono
das três empresas vem atrasando salários
e deixando de depositar o FGTS.
“A Justiça do Trabalho é lenta e
defende o dono da empresa, fizemos uma greve para protestar
contra o atraso dos salários e foram demitido
79 funcionários sem receber seus direitos”,
conta Idemar Lopes, que trabalhou cinco anos na empresa,
se demitiu porque não recebia e até hoje
não viu a cor do seu dinheiro. Embora evite criticar
abertamente, Lopes não acredita que a Prefeitura
ou o Governo se interessem pelo problema. “O Lula
pode fazer alguma coisa, a gente sabe”, diz Lopes.
Até as nove da noite cada vez que alguém
da organização dizia que Luís Inácio
iria atrasar um pouco, os joinvilenses cochichavam entre
si, com medo de não conseguirem falar com ele.
Quando souberam que o candidato iria do aeroporto e
diretamente para o palanque, a decepção
foi visível. “Mas tudo bem, um cara da
organização garantiu que ia entregar a
carta em mãos”, disfarçou um deles.
Eles acreditam em Lula porque se identificam com ele.
O ex-torneiro mecânico e líder sindical
que lutou com os trabalhadores do ABC paulista parece
ser o único dos candidatos que vai se importar
em resolver os problemas cuja solução
sempre foi adiada. E Lula procura se manter junto a
esse povo para não perder de vista seus problemas.
Para a crítica do adversário de ser despreparado,
Lula enfatizou: “Me preparei conhecendo todo meu
país, estado por estado e acho que temos muitos
problemas porque nossos dirigentes preferem viajar pra
Paris e Londres ao invés de ir para Xanxerê
e Concórdia”. Com esse perfil, o candidato
enchia de entusiasmo todos que queriam a mudança
do modo como o Brasil é governado. Nas palavras
do apresentador, era “um mar de catarinenses com
o coração cheio de esperança”.
Antes mesmo de subir no palanque, várias vezes
os gritos de “Brasil decente, Lula Presidente”
encobriam a voz do apresentador. “Nunca na história
do Brasil um Presidente da República ficou mais
de quatro horas no Pará. Os nossos governantes
deviam olhar pra cara do nosso povo e entender como
pensam essas pessoas”, pregava Lula em um dos
pontos mais emocionantes do comício.
“Lula presidente e Figueira campeão”?!
- Desde as seis da tarde as camisas e bandeiras
vermelhas de quem desembarcava no Terminal Urbano de
Florianópolis se confundiam com as rubro-negras
dos torcedores do Flamengo que iam ao estádio.
Das 20h30min em diante, aqui e acolá, eleitores
com radinhos preferiam ignorar o discurso de aliados
menos representativos do PT e se concentrar no que acontecia
no estádioOrlando Scarpelli. Mesmo na frente
do palco era possível encontrar cidadãos
como Ricardo Brasil, que saiu do trabalho com a camisa
do Figueirense, mas resolveu parar no Largo da Alfândega
para acompanhar a festa. “Eu sou sócio
do Figueirense e torço pro Flamengo, mas é
a última vez que o Lula vem pra cá. Depois
ele vai governar o país durante oito anos e vai
ser difícil outra noite como essa. Futebol tem
outra hora” conclui. Um outro torcedor aproveita
a oportunidade e pergunta como estava o placar do jogo.
Naquele momento 1x0 para o Flamengo.
Para quem pensa que a consciência política
de Ricardo Brasil era uma exceção, quando
a senadora eleita Ideli Salvatti saudou os torcedores
do Figueirense que estavam presentes, não foram
poucas vozes que responderam - para manter a diplomacia
foi necessário saudar também a torcida
do Avaí. Dez e meia e o Figueirense faz 2x1 no
Flamengo e, poucos minutos depois Lula, entra no palco
acompanhado de José Fritsch (PT) e Luiz Henrique
(PMDB), anunciando nos discursos que acabariam com uma
das últimas oligarquias que governam.
Alguém joga para Lula uma camiseta do Flamengo
que começa a exibi-la, até que José
Fritsch alerta, constrangido, que o rubro-negro estava
jogando contra um dos times da cidade. Lula disfarçou
como pôde e, enquanto o ex-candidato do PT ao
governo do estado discursava, choviam camisetas para
que Lula autografasse, até o candidato desistir
de assiná-las. Todos os que estavam espalhados
pelo centro se concentraram no Largo da Alfândega.
O jogo acabou quando Fritsch concluía seu discurso,
e aos poucos, muitos torcedores chegaram em tempo de
ver Lula. O Largo da Alfândega chega ao ponto
máximo de lotação, todos apenas
esperando Fritsch e Luiz Henrique completarem seus discursos
para ouvir o futuro presidente do Brasil.
Por toda a mobilização que Lula conseguiu
no Estado, não é de estranhar que além
de se eleger, ele tenha levado junto Luís Henrique.
A mobilização do governador Amin (PPB)
foi discreta, se limitando a uns poucos cabos eleitorais
visivelmente constrangidos, agitando bandeiras em frente
a catedral. Uma única eleitora com um adesivo
de Amin colado na camiseta foi ouvindo gozações
e pedidos de voto até o terminal. “Tão
bonita e tão burra” foram os comentários
mais sinceros que se ouviu em frente ao famoso café.
Durante o discurso de Luís Henrique, a notícia
da vitória do Figueirense foi se espalhando de
boca em boca. Enquanto ele e José Fritsch anunciavam
a vitória sobre os tradicionais donos do país,
dois ou três otimistas chegaram a ensaiar um coro
de “Lula presidente e Figueira campeão”,
mas não foram longe. A segunda parte da frase
era obviamente, um exagero.
“Esse
caboclo deve ser meu cabo eleitoral” -
Depois de agradecer aos catarinenses pela maior porcentagem
de votos que teve em todo o paísno primeiro turno,
Lula afirmou estar satisfeito com o apoio das dez legendas
que estavam representadas no comício. Também
rebateu eventuais críticas de militantes petistas
por ter se aliado a Luís Henrique, lembrando
que Santa Catarina foi escolhido como local do comício
de encerramento mesmo não tendo candidato do
PT no segundo turno. Isso porque além da votação
que o Partido dos Trabalhadores teve, o candidato do
PMDB ao governo não era um estranho para Lula:
“A primeira vez que vim para Santa Catarina, em
78, foi a convite do Luiz Henrique, para falar de direitos
dos trabalhadores”. Explicou também, que
essas alianças não são eternas
e podem acabar se descobrirem que os objetivos do PMDB
são muito diferentes do PT. “Aliança
política é como casamento, não
dá certo, então separa” comparou
Lula.
Em seguida foi o momento de bater nos adversários,
começando por Amin, que chegou a imprimir panfletos
e adesivos com seu nome junto ao de Lula. “Ao
invés de ser chamado governador, ele devia ser
chamado de imperador, de tanto tempo que ele governa
esse estado, (...) espero que os catarinenses não
se confundam. Meu candidato aqui é o Luiz Henrique.
E o Amin que vá fazer cédula com o nome
do Serra”.
Quanto ao candidato do PSDB à presidência,
Lula manteve um tom de ironia e deboche ao comentar
as críticas raivosas que recebia: “no meu
programa eleitoral, eu falo do meu projeto. No horário
do PSDB eles falam mais de mim que do José Serra,
tô desconfiado que esse caboclo deve ser meu cabo
eleitoral. Se o Serra não parar de falar meu
nome é capaz de ele votar em mim no dia 27”.
Rebateu as críticas por não comparecer
a todos os debates televisivos mostrando que tem que
apoiar candidatos em 14 dos 15 estados onde há
segundo turno. “O Serra não tem pra onde
ir, tem mais setores do PMDB comigo do que com ele.
Até o Alckmin tem feito santinhos com o ‘Lula
lá e Alckmin aqui’, se bobear, tem mais
setores do PSDB comigo do que com o Serra”, tripudiava.
“Mas eu não troco o olhar de vocês
por debates de televisão”. No fim do comício,
Lula afirma que vai provar que um torneiro mecânico
é capaz de fazer política melhor do que
a que vem sendo feita até agora. A multidão
aplaudiu com entusiasmo e muita esperança. |
|
Se
você tiver algum problema ao navegar nesta página
envie um email para zero@cce.ufsc.br. |
|
 |
|