Número 2 - Ano I - Edição fechada em 21 de Novembro de 2002 Florianópolis-SC
História Prêmios Capas Jornal Laboratório Expediente Contato Home
Zero comemora 20 anos!
Conheça sua história.
Entre em contato com a gente.
Envie sua mensagem.



Carisma e popularidade do marido garantiram eleição de Rosinha no RJ / Foto: www.rosinha.com.brA nova correlação de forças no Congresso e nas Assembléias legislativas estaduais indica que, se a política brasileira não mudou de cara, ao menos tornou-se mais feminina, após as eleições. Maioria do eleitorado, as mulheres conseguiram aumentar consideravelmente sua representatividade política: foram eleitas 42 deputadas federais, oito senadoras e 133 deputadas estaduais. Embora continuem sendo minoria nas plenárias abarrotadas de ternos e gravatas, as mulheres receberam nas urnas a confiança de que podem fazer muito mais pela política do país que simplesmente “dormir com o candidato” – expressão desestrada de Ciro Gomes sobre sua companheira.

Em números absolutos, o avanço das mulheres quase não é detectável. Elas ocuparão apenas 42 das 513 cadeiras na Câmara Federal e no Senado, representam menos de 15% do total de candidatos eleitos. Os dados só se tornam animadores quando comparados com a atual bancada. Na Câmara, o número de mulheres eleitas aumentou em 45%, - em 1998, foram eleitas 29 deputadas. Mas o número de senadoras vai dobrar: das atuais cinco representantes, passará a ter dez, oito eleitas este ano e duas cujos mandatos se estendem até 2006.

São Paulo e Rio de Janeiro foram os estados que elegeram mais mulheres com seis deputadas federais cada. Mato Grosso, Rio Grande do Norte e Roraima obtiveram 20% de eleitas em relação à bancada masculina. Alagoas, Ceará, Mato Grosso do Sul, Pernambuco e Sergipe não terão representação feminina na Câmara. Este índice, contudo, é menor que em 1998, quando nove estados não elegeram nenhuma candidata.

Oito mulheres tiveram as maiores votações em seus estados: Perpétua Almeida (PCdoB-AC), Janete Capiberibe (PSB-AP), Vanessa Grazziottin (PCd B–AM), Maria Trindade (PT–PI), Denise Frossard (PSDB–RJ), Fátima Bezerra (PT–RN), Maria Helena (PST–RR) e Kátia Abreu (PFL–TO). Em outros seis estados, as mulheres estiveram entre os candidatos mais votados: Maninha (PT-DF), Raquel Teixeira (PSDB-GO), Maria do Carmo Lara (PT-MG), Ieda Crusius (PSDB-RS), Maria do Rosário (PT-RS), Marinha Raupp (PMDB-RO) e Jandira Feghali (PCdoB-RJ).

Em relação aos partidos políticos, o PT terá a maior bancada feminina, tanto na Câmara como no Senado. Além das 14 deputadas federais petistas , foram eleitas cinco senadoras: Marina Silva (AC), Serys Marly (MT), Ana Júlia (PA), Fátima Cleide (RO) e Ideli Salvatti (SC). As outras senadoras eleitas são Patrícia Gomes (PPS – CE), Lúcia Vânia (PSDB –GO) e Roseana Sarney (PFL – MA).

Causas do fenômeno - Muitos fatores podem ter contribuído para que as mulheres avançassem nestas eleição. A consolidação do PT e a “onda Lula”, por exemplo, atrelados a um cenário eleitoral de valorização do voto feminino, constituem a explicação mais plausível para a dobradinha “PT e mulher” que se viu nas eleições para o Congresso. O que parece não ter tido muita influência foi justamente a Lei de Cotas, que vigora no Brasil desde 1995. A lei é aplicável somente às eleições proporcionais e, determina, que os partidos políticos reservem um mínimo de 30% de suas candidaturas a determinado sexo – no caso, para as mulheres, que ainda são minoria. O partido que descumpre a regra não sofre punição, mas não pode ocupar com pessoas do sexo oposto as vagas remanescentes dos 30%.

O resultado foi que nessas eleições nenhum dos grandes partidos preencheu a cota mínima para mulheres. A exceção foi o PCB que ocupou 37% das vagas. Embora o número absoluto de candidatas à Câmara tenha aumentado 60% em relação a 1998, o crescimento da participação de mulheres em relação ao total de inscritos é inexpressivo indo de 10% para 12%.

Para a deputada eleita Iara Bernardi (PT–SP), a Lei de Cotas é uma ação afirmativa, mas ainda não é suficiente para uma participação feminina equilibrada na politica: “ Não queremos que as mulheres entrem sem condições de ganhar uma eleição, apenas para cumprir a lei de cotas. Queremos uma participação efetiva, de igualdade”, diz. Em linha oposta, o deputado Pedro Corrêa (PPB–PE) admitiu, em entrevista ao jornal o Estado de São Paulo , que certa prática é corriqueira:.“Às vezes a gente procura mulheres que não têm vocação política ou representatividade apenas para
preencher as vagas”.

Ideli: recordista em SC / Foto: Márcio H. dos SantosJá Ideli Salvatti (PT-SC), eleita senadora, acredita que a política de cotas vem surtindo efeito – na medida em que o tema vem sendo debatido - mas que o resultado das mulheres nas urnas é a soma de vários fatores. “O que vimos nas eleições”, diz “não deve ser uma surpresa, quando consideramos que as mulheres ocupam metade dos bancos escolares, das universidades, e têm se destacado em diversas esferas, inclusive em profissões que antes eram exclusivamente masculinas”. Quanto ao fato de ter sido a primeira senadora eleita em Santa Catarina, com mais de 1 milhão de voto, acredita que é resultado da “onda de crescimento e mudança trazida pelo PT”.

Mas o fenômeno feminino não se restringe apenas ao legislativo nem só no PT. Os demais partidos, se não haviam percebido a necessidade estratégica de se ter mulheres postulando cargos públicos, passaram a prestar mais atenção nelas a partir da pré-candidatura de Roseana Sarney. A ex-governadora do Maranhão, eleita senadora, chegou ao segundo lugar nas intenções de voto para a presidência no início do ano, ancorada em 60% da preferência feminina. A candidatura naufragou, mas permaneceu a idéia de que uma mulher na chapa poderia representar modernidade e arrojo. Foi nessa corrente que a improvável Rita Camata tornou-se vice do candidato do governo José Serra. Também o PSTU lançou uma candidata à vice-presidência, e nos estados, quatro mulheres disputaram o segundo turno. No Rio de Janeiro, a ex-primeira-dama Rosinha Garotinho (PSB-RJ) elegeu-se governadora com mais da metade dos votos válidos.

Farias: "corrupção é menor" / Foto: Wagner Maia - ZeroNos partidos de oposição e situação, a participação e a representatividade feminina têm origens distintas. Na análise da professora Elisabeth Farias, do Curso de Ciências Socias da UFSC, os partidos mais progressistas tendem a ter mulheres que se autoconstruíram politicamente, enquanto nos mais conservadores, as mulheres crescem, em geral, à sombra de homens: “Luci Choinacki e Ideli Salvatti se fizeram sozinhas, enquanto Rita Camata e Ângela Amin emergiram através de seus maridos”. Entretanto, outros fatores também podem ter influência: “Roseana Sarney tinha um forte aparato publicitário, e foi uma jogada oportunista do partido”, diz. A professora lembra também que a inserção feminina é um processo natural nos partidos modernos , que representam, de fato, o interesse das massas.

Independentemente da esfera partidária ou política, Farias acredita que o panorama feminino na vida pública é positivo. “As mulheres são batalhadoras e mais sensíveis a determinadas causas. E já foi provado por órgãos internacionais, que quanto maior o número de mulheres na administração, menores são os índices de corrupção”, completa.

Mariana Faraco

Leia também:
PSDB perde presidência mas vence nos principais estados

página principal
Se você tiver algum problema ao navegar nesta página envie um email para zero@cce.ufsc.br.