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Pessoas
com problemas de visão que não podem ser
corrigidos por óculos ou lentes de contato são
quase a metade de todos os brasileiros com algum tipo
de deficiência física – um contingente
de 14,5 por cento da população. Esse número,
apontado pelo IBGE no Censo 2000, surpreendeu a Coordenação
Nacional para Integração da Pessoa Portadora
de Deficiência (Corde), órgão do Ministério
da Justiça que antes estimava que os deficientes
não fossem mais do que dez por cento da população
do país.
Entre as cinco categorias de deficiência pesquisadas,
48,1% ou 16 milhões de pessoas, correspondem a
problemas de visão. Em seguida, vêm os casos
de deficiência motora, com 22, 9%; auditiva, 16,7%;
mental 8,3%; e física, 4,1%. Ao todo, são
24,5 milhões de brasileiros com um ou mais tipos
de deficiência, considerando-se somente os casos
em que as dificuldades continuam mesmo com o uso de próteses
ou aparelhos corretivos. Entre os deficientes motores
e visuais, a maioria é de mulheres.
Esse foi o primeiro levantamento detalhado feito sobre
a questão. As perguntas sobre deficiência
foram introduzidas no questionário do censo, no
entanto, desde 1991, por força da Lei 7.853, de
1989.
Durante o século XX, houve grandes avanços
na oftalmologia, tanto nas reparações cirúrgicas
quanto na tecnologia das lentes. É muito provável
que, se vivesse hoje, Machado de Assis, que sofria de
miopia irreparável em seu tempo, tivesse descrito
mais paisagens em sua obra – ela não as via
– e, na velhice, não se referisse a seus
“olhos mal-feridos”, como fez no soneto À
Carolina.
A visão é apontada como responsável
por 80% do contato do homem com o mundo exterior. A luz
entra pelo olho, passando pela córnea, humor aquoso,
pupila, cristalino, humor vítreo e retina, onde
é transformada em estímulo elétrico
que, por sua vez, é enviado através do nervo
óptico até o córtex occipital (região
posterior da cabeça). Para que a visão seja
perfeita, todas as camadas por onde a luz passa devem
ser transparentes, o sistema de condução
deve estar completo e ileso e o cérebro ser capaz
de interpretar a mensagem, que a retina recebe de maneira
fragmentada.
O olho humano sofre muitas modificações
até os 20 anos de idade; crianças só
têm capacidade visual equivalente à de um
adulto a partir dos cinco anos. Entre 20 e 40 anos, a
visão permanece estável; a partir daí,
ocorre perda gradativa.
Cegueira - Entre as principais
doenças causadoras de cegueira estão a catarata,
a retinopatia diabética e dos prematuros, o glaucoma,
a toxoplasmose, o tracoma, as uveítes (inflamações
internas), e a degeneração macular relacionada
à idade. De acordo com a Organização
Mundial da Saúde, mais de dois terços desses
problemas – cerca de 70% poderiam ser evitados com
os recursos da medicina preventiva. Os outros 30% dos
casos de cegueira ocorrem por problemas genéticos
ou acidentes.
A catarata, problema de maior incidência na população
deficiente, pode ter conotação genética
(catarata congênita) ou acontecer após trauma
e ingestão inadequada de medicamentos, como, por
exemplo, corticóides. Geralmente acontece em pessoas
com mais de 50 anos e só é visível
a olho nu em estado muito avançado percebendo-se,
então, a pupila esbranquiçada. Ao contrário
da confusão feita por muitos, que acreditam que
a catarata é uma “pele” que cresce
na frente da menina do olho (problema chamado pterígio),
o que realmente acontece é que o cristalino, uma
lente orgânica situada atrás da pupila, passa
de transparente a opaco e impede a passagem de luz. A
sensação provocada é a de estar olhando
através de um vidro cada vez mais embaçado.
O tratamento da catarata é a cirurgia, indicada
quando a diminuição da visão afeta
as tarefas do cotidiano.
Para evitar que recém-nascidos com problemas visuais
fiquem cegos, existem vários cuidados e tratamentos
possíveis. No caso da catarata congênita,
isto é, adquirida durante a gestação,
a visão não irá se desenvolver se
a criança não for submetida à cirurgia
o mais rápido possível; o cérebro
não terá condições de interpretar
os sinais que chegarem à retina. Já a retinopatia
dos prematuros, doença que ocorre com bebês
quando são expostos a alta concentração
de oxigênio na incubadora, é irreversível:
a lesão não tem cura.
O controle dos diabetes pode evitar, por sua vez, a retinopatia
diabética, que lesa o fundo do olho e pode levar
à cegueira em até cinco anos. O risco de
desenvolver catarata também é maior em quem
tem diabetes – doença de 7,8 por cento da
população brasileira.
Uma doença que progride inicialmente sem sintomas
é o glaucoma, que não é contagioso,
mas pode ser hereditário. Prejudica o nervo óptico
e o campo visual e é a terceira principal causa
de cegueira no país. Para detectar o glaucoma,
no entanto, basta submeter-se pelo menos uma vez por ano
a um exame de pressão ocular e do fundo do olho.
Em alguns casos, a doença pode provocar dor intensa,
enjôo, vômitos, perda gradual da visão
e vermelhidão nos olhos. É um quadro muito
grave porque pode levar a cegueira súbita.
Com o aumento da expectativa de vida no país, aumentou
também a incidência dos casos de cegueira
por degeneração macular relacionada à
idade, que os oftalmologistas denominam pelas iniciais,
DMRI. O problema aparece normalmente após os 60
anos e afeta a área central da retina, a mácula.
Os danos ocorrem principalmente pela falta de proteção
dos olhos durante a exposição ao sol. Por
isso, recomenda-se o uso de óculos escuros com
proteção para raios ultravioletas. O tratamento
é feito com vitaminas e a ajuda de objetos para
leitura, como as lupas ou lentes de aumento, por exemplo.
As fezes de gato, cachorro e aves podem estar contaminadas
com o protozoário que provoca a toxoplasmose e
transmitir a doença, causando uma uveíte,
que pode levar à cegueira. Apesar de ser tratável,
ela pode tornar-se irreversível para o filho de
uma gestante que contrair a toxoplasmose durante a gravidez.
A estatística mostra que a maioria dos acidentes
domésticos que afetam os olhos acontece com crianças
entre cinco e 14 anos, três quartos delas meninos.
Brincadeiras perto de panelas no fogão, com produtos
de limpeza, fogos de artifício, tesouras e facas
são os responsáveis mais comuns por esses
acidentes. Desastres envolvendo crianças que viajam
no banco da frente do automóvel ou passageiros
em geral sem cinto de segurança podem provocar
traumatismos graves na cabeça, atingindo os olhos
ou o nevo óptico.
Causas do problema - Ainda
na avaliação do Censo 2000, o IBGE constatou
que a região sudeste do país é a
que tem o maior índice de deficientes, um total
de 38,1% dos 24,5 milhões de portadores de deficiência
do Brasil. Em seguida, fica a região nordeste com
32,5%, sul com 14,5%, norte com 8,5% e centro-oeste com
um índice de 6,6%.
O equivalente à região sul, segundo o instituto,
soma aproximadamente 2,9 milhões de pessoas cegas
ou com baixa visão. Isso indica que Santa Catarina,
que possui 5,5 milhões de habitantes, pode ter
mais de 300 mil pessoas com algum tipo de deficiência
visual.
Dados do IBGE mostram também que 128 milhões
de brasileiros dependem do SUS, enquanto 42 milhões
possuem acesso à medicina suplementar. Segundo
a Strategy Consultoria e Assessoria, no grupo da medicina
suplementar, um número de 37,1% pertence aos da
medicina de grupo, 22,6% as Unimeds e o restante fica
dividido entre seguros saúde, gestões públicas
e privadas.
Se relacionarmos o número de pessoas cegas ou com
baixa visão, o número de pessoas que dependem
do SUS para as consultas médicas e o total do índice
das doenças visuais que podem ser evitadas, é
possível perceber que as pessoas que necessitam
de atendimento oftalmológico no Brasil e não
têm, constituem o grupo chamado demanda reprimida,
algo em torno de 75% da população, sujeita
a desenvolver algum tipo de deficiência visual.
Fila de espera - Em Santa
Catarina quem precisa de atendimento oftalmológico
e depende do SUS tem que esperar muito. Os postos de saúde
não sabem informar o tempo exato, mas as previsões
variam de um mês a dois anos. Há um grande
número de pessoas que procuram atendimento, mas
nem todos conseguem uma consulta.
Quem quiser marcar uma consulta com o oftalmologista no
Hospital Universitário (HU, por exemplo), deve
procurar o posto de saúde mais próximo e
agendar o atendimento. As consultas são marcadas
primeiro com um clínico geral que avalia o problema
e decide sobre a necessidade ou não do atendimento
com o especialista. Depois da primeira consulta o paciente
pode marcar o retorno no próprio hospital. O HU
dispõe de cinco oftalmologistas para o atendimento
à comunidade, mas não tem nenhum médico
residente nessa área. Para a marcação,
os postos estão interligados através de
computadores com a Central de Marcação de
Consultas, Exames e Serviços, que encaminham os
pacientes para os médicos disponíveis.
Por causa da dificuldade para conseguir uma consulta,
várias pessoas desistem e muitas nem sequer avisam
o posto. Assim, o nome permanece no cadastro, aumentando
a fila de espera. Conforme com a Secretaria de Estado
da Saúde, foram agendadas no ano passado 104 mil
consultas com médicos especialistas na região
da Grande Florianópolis. Dessas, aproximadamente
oito mil pessoas faltaram.
No interior do estado, pessoas que dependem do SUS e têm
baixa renda são vítimas do descaso, muitas
vezes não têm dinheiro para se deslocar até
o local de consulta, nem para pagar um tratamento. Por
esse motivo e pela falta de informação,
além do descaso, acabam sendo vítimas também,
de oportunistas que viajam por essas regiões oferecendo
consultas de graça, e vendem lentes e armações
baratas, mas de qualidade discutível. Essa prática
ilegal da medicina compromete a saúde ocular da
vítima e também a credibilidade dos profissionais
da área da oftalmologia.
O governo realiza algumas campanhas nacionais como: Olho
no Olho, Catarata, Glaucoma e Retinopatia diabética
para combater a cegueira. Contudo, ainda não existem
avaliações sobre a abrangência e resultado
de cada uma. A campanha Olho no Olho, por exemplo,
atinge crianças do ensino fundamental que estão
no primeiro ano de escolas públicas e estaduais,
porém ela só acontece em municípios
com mais de 40 mil habitantes. Em Santa Catarina, somente
27 cidades estão incluídas na campanha.
Os programas do governo têm caráter emergencial
e admite-se que possam ter resultados animadores, mas
campanhas de emergência não têm garantia
de continuidade. Amenizam o problema, mas não o
solucionam.
Projetos de prevenção - Para atender
a população mais carente e que não
tem acesso ao atendimento oftalmológico, um médico
catarinense desenvolveu um projeto de prevenção
à cegueira em Santa Catarina. Com o trabalho, o
Dr. Walter Marra de Andrade, que também é
diretor de Assuntos Profissionais da Sociedade Catarinense
de Oftalmologia, foi finalista do Concurso Unimed de Responsabilidade
Social, no ano passado. Apesar de premiado, o trabalho
proposto para ser realizado com parcerias do Ministério
da Saúde, secretarias estaduais e municipais, e
mpresas, sociedades e voluntários, ainda não
foi colocado em prática por falta de apoio financeiro.
Em relação aos problemas genéticos,
o Hospital Universitário através do Núcleo
de Genética Clínica desenvolve um trabalho
de aconselhamento, onde casais são orientados quanto
à possibilidade de seus futuros filhos desenvolverem
algum tipo de deficiência. |
Rúbia Muttini
Finalista do 1o Prêmio de Jornalismo Unimed SC |
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