Número 1 - Ano I - Edição fechada em 29 de Julho de 2002 Florianópolis-SC
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Imagem: Paul Rogers - GráficaDiante de um quadro de demissões contínuas de jornalistas, queda de anunciantes e aumento das dívidas das empresas de comunicação, o Congresso Nacional aprovou a emenda constitucional 36/02, que permite a participação estrangeira nas empresas jornalísticas e de radiodifusão do país. Mas, para que o capital externo tenha parte do poder acionário dos meios de comunicação nacionais, ainda é necessário que seja aprovada uma lei específica regulamentando a participação. Não há previsão de quando essa lei será criada, mas Juarez Quadros, ministro das Comunicações, adiantou que ela deverá trazer outra novidade: uma mudança no limite de concessões.

De acordo com a emenda, o capital estrangeiro pode ter até 30% do capital votante de empresas jornalísticas e de radiodifusão nacionais. Além disso, a propriedade deixou de ser privativa de brasileiros e se estendeu a pessoas jurídicas mas constituídas sob as leis brasileiras e com sede no país. Esta mudança torna possível que as ações das empresas sejam negociadas em bolsas de valores e ampliou as alternativas de empréstimos. O Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (Bndes), por exemplo, só concede crédito a pessoas jurídicas. Apesar das alterações, a programação ficou restrita a brasileiros.

Para Aécio Neves, presidente da Câmara de Deputados, a aprovação da emenda é uma adaptação das regras legais à necessidade do setor. Devido à crise financeiras nas empresas de comunicação, no ano passado, cerca de 700 vagas para jornalistas foram fechadas, sendo 250 somente no jornal Gazeta Mercantil. “Com isso (a aprovação da emenda), garantimos que os brasileiros tenham o controle das empresas e de sua programação. Estamos nos adaptando ao que há de mais moderno no mundo, sem que percamos os limites que garantem ao cidadão o controle da gestão administrativa, e a definição da programação das empresas”.

Mas Daniel Herz, coordenador geral do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC), discorda. “É uma saída muito simplista para solucionar um problema imediato (crise das empresas de comunicação)”. Ele acredita que o país não está preparado para a abertura ao capital estrangeiro, devido à defasada legislação da área, aos conflitos de competência entre a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) e o Ministério das Comunicações, à indefinição sobre qual tecnologia digital será implantada para TV e para rádio e à crise das empresas de mídia.

No ano passado, o FNDC fez um abaixo-assinado contra a abertura, pelos motivos citados por Herz e, por considerar fundamental, a preservação do controle dessas empresas no país, para a “afirmação da soberania nacional”. Conforme o documento, ao invés de formular um novo modelo para a área das comunicações, a emenda antecipa somente a definição de um aspecto - a questão do capital estrangeiro - que deveria ser conseqüência da formulação deste novo modelo.

Entretanto, o capital estrangeiro só poderá ter participação nas empresas de mídia, depois de aprovada lei específica, que regulamente a participação. O ministro das Comunicações já declarou que, nesta nova legislação, o número de concessões poderá ser “flexibilizado”. “Pode haver alguma alteração, mas não sei se aumentaria a concentração”. Mas o fenômeno da macrocefalia midiática já existe. Herz alerta para o fato, de que apenas seis redes privadas de televisão aberta, são donas de 667 veículos de comunicação no País.

Valéria Noleto

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