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JORNALISMO
- UFSC
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Ano eleitoral é
sempre especial. É neste período que a população
conhece muitas das falcatruas em que seus políticos mais
representativos – ou os que pretendem ser – estão
envolvidos. Alguns dos episódios ocorreram há
tempos, mas estavam estrategicamente guardados pelos adversários
políticos, esperando uma eleição para serem
divulgados.
Os exemplos estão às claras. Em 2002, os dossiês
e denúncias atingiram quase todos os candidatos à
presidência da república, e inclusive, já
destruíram a candidatura de Roseana Sarney. Grande parte
das denúncias se baseia em fitas de vídeo ou áudio,
gravadas clandestinamente, com mandantes não muito explícitos.
Porém, nem todas as denúncias estão vingando,
pois a maioria dos nomes envolvidos estão confirmando
a disputa à presidência, e apostando que o tempo
faça o povo esquecer a parte escusa de sua história.
A estratégia pode dar certo, afinal, faltam três
meses para a eleição – e, para um povo de
memória curta, isso é muito tempo. Até
agora, a principal característica da eleição
deste ano é a antecipação das campanhas
eleitorais – que foram permitidas pelo Tribunal Superior
Eleitoral (TSE) somente a partir de 6 de julho, mas estavam
sendo praticadas meses antes. Todos os presidenciáveis
viajaram pelo país, antes do prazo permitido, divulgando
sua candidatura e participando de debates e programas de rádio
e TV. E com a campanha eleitoral precoce, vieram as denúncias
que envolvem alguns dos nomes que disputam a vaga de presidente.
Ciro Gomes (PPS) e José Maria de Almeida (PSTU) foram
os únicos ainda não citados
Sobe e desce - A primeira a ser atingida
pela guerra dos dossiês foi Roseana, a governadora e filha
do ex-governador do Maranhão, José Sarney. Surgiu
como fenômeno nas pesquisas de opinião em setembro
do ano passado. As denúncias envolvendo a pré-candidata
do PFL apareceram justamente na época em que as pesquisas
apontavam que Rosena seria a única a derrotar Lula num
suposto segundo turno. Na projeção do Ibope: o
candidato petista teria 46% contra 39% da maranhense. Em janeiro,
Roseana Sarney tinha 21% das intenções de voto
no Nordeste, onde há cerca de 30 milhões de eleitores
– quase um terço do país. Na época,
José Serra contava com apenas 2% na região.
No final de abril, numa inspeção surpresa, e suspeita,
da Polícia Federal na sede da Lunus - empresa na qual
Roseana é sócia de seu marido, Jorge Murad –
apreenderam-se documentos que estabeleceram ligações
entre os negócios da empresa e projetos fraudulentos
da extinta Sudam.
A candidata acabou desistindo de concorrer à presidência,
causando o rompimento entre o PFL e o governo. Parte do PFL
se recusa a apoiar a candidatura de José Serra e a princípio
não fará parte da base governista, caso o candidato
vença as eleições. Passados três
meses, a imprensa não fala mais no assunto e o Ministério
Público não conseguiu nenhuma prova entre as denúncias
e Roseana.
Chapa branca - O
candidato oficial do governo não encontrou boa receptividade
nem dentro do próprio partido. Os filiados ao PMDB também
foram enérgicos em relação ao candidato.
Na convenção oficial, realizada na segunda semana
de junho, o PMDB enfrentou grande resistência para aprovar
o apoio a José Serra e manter o nome da deputada Rita
Camata como vice.
O primeiro obstáculo do candidato do PSDB foi a epidemia
de dengue. O ex-ministro da saúde havia autorizado a
demissão de mais de 5 mil agentes de saúde, responsáveis
por controlar as zonas de foco, alguns meses antes da proliferação
maciça do mosquito transmissor, o Aedes aegypti.
O resultado não poderia ser outro: o Estado do Rio de
Janeiro enfrentou a maior epidemia da doença dos últimos
anos, resultando 61 mortos e mais de 225 mil pessoas contaminadas
até maio. Outros estados também foram atingidos,
porém, em menor escala.
O segundo estorvo não demorou a aparecer: após
ser selada a aliança PSDB/PMDB, em meados de maio, o
vice escolhido pela cúpula dos dois partidos foi Henrique
Eduardo Alves, o Henriquinho. Mas, a gravidade das denúncias
dirigidas ao candidato – fez os partidos recuarem e decidirem
não lançá-lo na chapa para a presidência
da República. A revista IstoÉ publicou
reportagem mostrando as riquezas do futuro vice – 15 milhões
de dólares, no exterior - e como era impossível
alguém acumular licitamente tantos bens em tão
pouco tempo. O processo de separação litigiosa
entre Henrique Alves e sua ex-mulher, Mônica Infante de
Azambuja Alves, comprova o enriquecimento ilícito: está
cheio de extratos bancários, notas fiscais e outros documentos
que confirmam depósitos mantidos em pelo menos três
paraísos fiscais: Ilhas Jersey, Canal da Mancha e Genebra.
Como coringa, foi sugerida pelo marqueteiro Nizan Guanaes a
bela Rita Camata. Escolha que desconsiderou o passado de oposição
da deputada, que no último ano, votou contra alguns dos
projetos mais importantes do governo, como a flexibilização
da CLT.
O terceiro problema enfrentado pelo candidato do PSDB surgiu
em maio, quando denúncias envolveram o nome de Ricardo
Sérgio – ex-presidente do Banco do Brasil e ex-caixa
de campanha de Serra e Fernando Henrique Cardoso – em
mais escândalos com dinheiro público. Ricardo Sérgio
ocupou um cargo de confiança no governo de FHC e está
sendo acusado de ter realizado operações fraudulentas
na privatização do Banespa e da Vale do Rio Doce.
Como presidente do Banco do Brasil, Ricardo Sérgio operava
o fundo de pensão dos funcionários, o Previ, estimado
em aproximadamente R$ 38 bilhões. Além disso,
há a doação de R$ 700 mil feita pelo empresário
Carlos Jereissati para a campanha de José Serra ao senado,
em 1994. Na prestação de contas entregue ao TSE,
consta que Jereissati doou apenas R$ 45 mil.
Vladimir Antônio Rioli, sócio de Serra até
1995 na empresa Consultoria Econômica e Financeira Ltda,
contracenou outras falcatruas que respingam no candidato tucano
à presidência. Rioli era vice-presidente de operações
do Banespa e ajudou Ricardo Sérgio em diversas transações
com o banco, entre elas, a de trazer de volta ao país
grandes somas de dinheiro sujo. Em 1992, por exemplo, em uma
parceria com o Banco do Brasil, retornou ao Brasil cerca de
U$ 3 milhões.
Deputados estaduais de São Paulo, integrantes da CPI
que investiga as fraudes do Banespa, desconfiam ser sobra de
campanha eleitoral tucana que não foi declarada ao TSE.
Entre as transações de Rioli, que envolvem o nome
de Serra, está o empréstimo de R$ 21 milhões,
em 1993, ao empresário Gregório Marin Preciado,
casado com uma prima do candidato tucano. O relatório
da CPI do Banespa, mostra que os empréstimos foram concedidos
às empresas Gremafer e Aceto, de propriedade de Preciado,
sem nenhuma garantia legal. As empresas estavam em liquidação
e os empréstimos não foram quitados até
hoje.
Entre todos os embaraços enfrentados por Serra, talvez
a acusação mais grave seja a de arapongagem. Durante
sua gestão como ministro da Saúde, uma empresa
de contra-espionagem, a Fence, foi contratada sob o argumento
de evitar grampos no ministério. A dispensa de licitação
e os valores pagos à empresa geraram críticas
de adversários, que ligaram Serra à uma suposta
espionagem feita no Maranhão para prejudicar a então
candidata Roseana Sarney.
Coincidentemente, os serviços foram feitos na mesma época
que a empresa da maranhense foi inspecionada pela PF e estabeleceu-se
uma ligação entre Roseana e os escândalos
da Sudam.
Como as denúncias não foram dirigidas diretamente
ao presidenciável, as pesquisas não apontaram
nenhum reflexo nas pesquisas de opinião. O PSDB decidiu
manter a candidatura de Serra e o candidato sobe lentamente
nas pesquisas de intenção de voto. Em meados de
julho ocupava a terceira posição, com 22%.
Lula
– Depois do surgimento dos escândalos
envolvendo o candidato da base governista, foi a vez do presidente
de honra do PT, Luís Inácio Lula da Silva. Não
se tem nenhuma relação de Lula com desvio de dinheiro
ou corrupção, o que seria muito difícil,
pois na vida pública, exerceu apenas um mandato de deputado
federal (SP), eleito em 1986.
Além da resistência dos diretórios regionais
à aliança com o Partido Liberal (PL), a campanha
de Lula enfrentou denúncias de corrupção
em Santo André, cidade do prefeito assassinado Celso
Daniel. Nenhuma acusação se refere diretamente
à Lula, mas o prejudica por abalar a confiança
no PT.
As denúncias feitas por João Francisco Daniel,
irmão do ex-prefeito de Santo André, acusam José
Dirceu, presidente do Partido dos Trabalhadores, de receber
propina das empresas de ônibus da cidade e reverter o
dinheiro ilícito para financiar campanhas eleitorais
petistas. Os promotores do Ministério Público
que investigam a suposta rede de corrupção na
prefeitura de Santo André dizem que, se forem comprovadas
as denúncias, os acusados terão suas ações
enquadradas em crime de formação de quadrilha,
peculato e corrupção ativa e passiva, entre outras.
Os suspeitos já estão envolvidos em três
ações civis públicas, acusados de atos
de improbidade administrativa. O vereador do PT Klinger Luís
de Oliveira Souza, ex-secretário de Serviços Municipais
de Santo André, é um dos envolvidos no processo.
No final de junho, a empresária Rosângela Gabrilli,
sócia da Viação São José
e da Expresso Guarará, confirmou à CPI da Câmara
Municipal de Santo André que sua empresa era extorquida
por membros da prefeitura, na época administrada por
Celso Daniel (PT), assassinado em janeiro. A empresária
diz que, desde 1997, pagava a Ronan Maria Pinto R$ 550,00 por
carro, o que totalizava R$ 41.800 por mês. Rosângela
testemunhou que Ronan se apresentava como porta-voz do secretário
de serviços do município e dizia que o dinheiro
era revertido para as campanhas do PT.
Outro problema enfrentado pelo candidato do PT são as
investigações não autorizadas que a Polícia
Federal fez a seu respeito. A ação da PF serviria
para apurar as denúncias de irregularidades em São
Bernardo do Campo, onde Lula seria dono de imóveis, que
estariam em nome de laranjas. A investigação foi
arquivada por falta de provas, mas as divergências sobre
esse fato está gerando polêmica. Nos documentos
que deveriam iniciar as investigações, consta
que Fernando Tenório Cavalcanti, “ex-prefeito”
da cidade, teria acusado o presidenciável do PT de ser
proprietário de imóveis que não estão
em seu nome. Mas Fernando nunca foi prefeito de São Bernardo
do Campo e afirma que nunca mencionou o nome de Lula e que,
em 2000, denunciou o ex-prefeito Mauricio Soares, do PSDB. As
datas comprovam a irregularidade do documento que é datado
de 4 de abril de 2001, mas contém o depoimento que Fernando
Tenório Cavalcanti prestou em 11 de abril do mesmo ano.
A turbulência no mercado financeiro brasileiro também
passou a ser atribuída a Lula. Em 1992, o PT perdeu a
eleição para Fernando Collor de Mello devido,
entre outras coisas, a uma frase de Mario Amato, presidente
da Fiesp na época, que disse que 800 mil empresários
fugiriam do país caso Lula ganhasse a eleição.
Para evitar a repetição dessa cena, na última
semana de junho, o presidenciável do PT divulgou que
não iria declarar moratória da dívida brasileira
e cumpriria as metas, que o governo brasileiro acordou com o
Fundo Monetário Internacional.
A atitude comprova a mudança de atitudes do presidenciável
que, em anos atrás, jamais anunciaria a continuação
de acordos feitos pelo governo tucano com instituições
liberais como o FMI. O “Lula light”, como foi chamado
pela revista Veja, desagrada a parte mais radical do
PT.
Anthony Garotinho - O ex-governador
do Rio de Janeiro até que tentou começar bem sua
campanha presidencial. Afundado em denúncias contra o
programa que comanda diariamente na rádio Tupi, antes
de se anunciar oficialmente como o candidato do PSB, Garotinho
acertou as contas com a Receita Federal. Mas não adiantou
muito: no início de junho, o empresário e ex-amigo
do candidato, Guilherme Freire, retomou as denúncias
contra Garotinho, que havia iniciado em 2001. Entre lavagem
de dinheiro, contrabando e outras acusações, o
empresário relata ações fraudulentas, da
época em que Garotinho ainda era prefeito da cidade de
Campos (RJ).
Anthony Garotinho faz de tudo para que não circulem as
acusações do empresário. Em maio, o candidato
obteve duas liminares que impediam que a revista Carta Capital
publicasse trechos de uma conversa, gravada por escuta telefônica,
que comprovavam o envolvimento dele. O ato de Garotinho foi
repudiado por entidades, entre elas a Associação
Nacional dos Jornais, e representantes políticos, como
o presidente do Supremo Tribunal Federal, Marco Aurélio
Mello. A revista Carta Capital conseguiu cassar a liminar,
desde que não publicasse integralmente o conteúdo
das conversas, já que foram gravadas clandestinamente.
Caso a liminar não fosse cassada, a revista estaria proibida
de citar o nome de Garotinho, de Jonas Lopes de Carvalho Júnior
(advogado, ex-sócio do presidenciável, hoje conselheiro
do Tribunal de Contas) e Waldemar Linhares Duarte, contador,
sob pena de multa mínima de R$ 500 mil. A reportagem
foi publicada com uma semana de atraso. A censura imposta pelo
candidato já havia ocorrido com o jornal O Globo,
em julho de 2001, quando iria publicar as conversas gravadas
por Guilherme Freire sobre as fraudes dos sorteios promovidos
pelo programa O Show do Garotinho transmitido pela
rádio Tupi e TV Bandeirantes.
Guilherme Freire e Garotinho estudaram juntos no primário
e voltaram a se encontrar na prefeitura de Campos, em 1988.
Lá, relata o empresário, Guilherme conseguia contratos
privilegiados para a sua empreiteira, a Construtora Tucun, que
se tornou a maior do norte e noroeste fluminense em quatro anos,
faturando cerca de R$ 500 mil por mês. Além dos
contratos facilitados e pagamentos privilegiados, o empresário
intermediou diversos negócios para o presidenciável,
como a compra de uma rádio AM, em Macaé, por U$
400 mil. A compra de outro veículo de comunicação
foi o motivo, relatado por Guilherme, para o rompimento da amizade:
Garotinho pretendia realizar um consórcio entre amigos
para a compra da TV Norte, na época retransmissora da
Rede Globo. O negócio sairia por U$ 6 milhões,
mas acabou não dando certo porque o empresário
desistiu. A partir daí, Guilherme diz que perdeu todos
os contratos com a prefeitura de Campos e que passou a ser perseguido
por Garotinho, sendo até ameaçado de morte. Garotinho
afirma que o rompimento se deu quando apurou operações
fraudulentas da empreiteira com a prefeitura de Campos. As fitas
que contêm as gravações que comprovam as
denúncias feitas por Guilherme Freire estão sendo
apuradas pelo Ministério Público. Garotinho teve
seu telefone grampeado clandestinamente durante três anos,
de1994 a 1996.
Ciro
Gomes - Segundo colocado na pesquisa
Ibope do final de julho, com 26% das intenções
de voto, o candidato também teve que dar esclarecimentos
final de julho. José Carlos Martinez, coordenador geral
da campanha, deve dinheiro à família de PC Farias,
ex-tesoureiro de Collor, de quem tomou emprestado US$ 1,6 milhão
para compra da emissora de televisão CNT. Paulo Pereira
da Silva, candidato a vice de Ciro, foi acusado de superfaturar
a compra de uma fazenda da Força Sindical quando era
dirigente da instituição, e de comprar um sítio
em nome de um “laranja”. Além disso, o PPS
brigou para tirar o diretório de Alagoas da campanha
de Collor (PRTB) para governador, mas o PTB , que faz parte
da coligação que apóia Ciro, continuou
com o ex-presidente.
Briga na Internet - Os candidatos à presidência
estão aproveitando os sites na internet, espaço
não controlado pelo Tribunal Superior Eleitoral, para
dizer o que querem dos adversários de campanha. A home-page
de José Serra divulgou uma série de notícias
entituladas Pérolas de grosserias de Ciro, com
frases do candidato da Frente Trabalhista endereçados
a antigos inimigos políticos, e Ciro disse, mas não
é verdade, desmentindo as propostas do presidenciável.
Ainda no site de Serra, há notícias criticando
os outros candidatos, como a que diz que Lula é contra
o direito de informação do público. No
site de Ciro Gomes, na primeira semana em que esteve
no ar, não havia notícia atacando adversários
da disputa à presidência. Existe a seção
Você Sabia?, que mostra, entre outras curiosidades,
que políticos da equipe de Fernando Henrique Cardoso
participaram do governo Collor. A página na internet
de Anthony Garotinho divulgou a notícia de que Ciro conseguiu
palanque com os atuais seguidores de Collor. Na primeira semana
de operação do site de Lula, não
foi encontrada nenhuma referência a outros candidatos
à presidencia. |
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