23 de Março de 2025 Número 1 - Ano I - Edição fechada em 29 de Julho de 2002 Florianópolis-SC
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Ano eleitoral é sempre especial. É neste período que a população conhece muitas das falcatruas em que seus políticos mais representativos – ou os que pretendem ser – estão envolvidos. Alguns dos episódios ocorreram há tempos, mas estavam estrategicamente guardados pelos adversários políticos, esperando uma eleição para serem divulgados.

Os exemplos estão às claras. Em 2002, os dossiês e denúncias atingiram quase todos os candidatos à presidência da república, e inclusive, já destruíram a candidatura de Roseana Sarney. Grande parte das denúncias se baseia em fitas de vídeo ou áudio, gravadas clandestinamente, com mandantes não muito explícitos.

Porém, nem todas as denúncias estão vingando, pois a maioria dos nomes envolvidos estão confirmando a disputa à presidência, e apostando que o tempo faça o povo esquecer a parte escusa de sua história. A estratégia pode dar certo, afinal, faltam três meses para a eleição – e, para um povo de memória curta, isso é muito tempo. Até agora, a principal característica da eleição deste ano é a antecipação das campanhas eleitorais – que foram permitidas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) somente a partir de 6 de julho, mas estavam sendo praticadas meses antes. Todos os presidenciáveis viajaram pelo país, antes do prazo permitido, divulgando sua candidatura e participando de debates e programas de rádio e TV. E com a campanha eleitoral precoce, vieram as denúncias que envolvem alguns dos nomes que disputam a vaga de presidente. Ciro Gomes (PPS) e José Maria de Almeida (PSTU) foram os únicos ainda não citados


Filha do ex-presidente dançou / Foto: Abril Sobe e desce
- A primeira a ser atingida pela guerra dos dossiês foi Roseana, a governadora e filha do ex-governador do Maranhão, José Sarney. Surgiu como fenômeno nas pesquisas de opinião em setembro do ano passado. As denúncias envolvendo a pré-candidata do PFL apareceram justamente na época em que as pesquisas apontavam que Rosena seria a única a derrotar Lula num suposto segundo turno. Na projeção do Ibope: o candidato petista teria 46% contra 39% da maranhense. Em janeiro, Roseana Sarney tinha 21% das intenções de voto no Nordeste, onde há cerca de 30 milhões de eleitores – quase um terço do país. Na época, José Serra contava com apenas 2% na região.

No final de abril, numa inspeção surpresa, e suspeita, da Polícia Federal na sede da Lunus - empresa na qual Roseana é sócia de seu marido, Jorge Murad – apreenderam-se documentos que estabeleceram ligações entre os negócios da empresa e projetos fraudulentos da extinta Sudam.

A candidata acabou desistindo de concorrer à presidência, causando o rompimento entre o PFL e o governo. Parte do PFL se recusa a apoiar a candidatura de José Serra e a princípio não fará parte da base governista, caso o candidato vença as eleições. Passados três meses, a imprensa não fala mais no assunto e o Ministério Público não conseguiu nenhuma prova entre as denúncias e Roseana.


Chapa branca - O candidato oficial do governo não encontrou boa receptividade nem dentro do próprio partido. Os filiados ao PMDB também foram enérgicos em relação ao candidato. Na convenção oficial, realizada na segunda semana de junho, o PMDB enfrentou grande resistência para aprovar o apoio a José Serra e manter o nome da deputada Rita Camata como vice.

Serra: vítima do próprio veneno / Foto: Sérgio Lima - Folha Imagem O primeiro obstáculo do candidato do PSDB foi a epidemia de dengue. O ex-ministro da saúde havia autorizado a demissão de mais de 5 mil agentes de saúde, responsáveis por controlar as zonas de foco, alguns meses antes da proliferação maciça do mosquito transmissor, o Aedes aegypti. O resultado não poderia ser outro: o Estado do Rio de Janeiro enfrentou a maior epidemia da doença dos últimos anos, resultando 61 mortos e mais de 225 mil pessoas contaminadas até maio. Outros estados também foram atingidos, porém, em menor escala.

O segundo estorvo não demorou a aparecer: após ser selada a aliança PSDB/PMDB, em meados de maio, o vice escolhido pela cúpula dos dois partidos foi Henrique Eduardo Alves, o Henriquinho. Mas, a gravidade das denúncias dirigidas ao candidato – fez os partidos recuarem e decidirem não lançá-lo na chapa para a presidência da República. A revista IstoÉ publicou reportagem mostrando as riquezas do futuro vice – 15 milhões de dólares, no exterior - e como era impossível alguém acumular licitamente tantos bens em tão pouco tempo. O processo de separação litigiosa entre Henrique Alves e sua ex-mulher, Mônica Infante de Azambuja Alves, comprova o enriquecimento ilícito: está cheio de extratos bancários, notas fiscais e outros documentos que confirmam depósitos mantidos em pelo menos três paraísos fiscais: Ilhas Jersey, Canal da Mancha e Genebra.

Como coringa, foi sugerida pelo marqueteiro Nizan Guanaes a bela Rita Camata. Escolha que desconsiderou o passado de oposição da deputada, que no último ano, votou contra alguns dos projetos mais importantes do governo, como a flexibilização da CLT.

O terceiro problema enfrentado pelo candidato do PSDB surgiu em maio, quando denúncias envolveram o nome de Ricardo Sérgio – ex-presidente do Banco do Brasil e ex-caixa de campanha de Serra e Fernando Henrique Cardoso – em mais escândalos com dinheiro público. Ricardo Sérgio ocupou um cargo de confiança no governo de FHC e está sendo acusado de ter realizado operações fraudulentas na privatização do Banespa e da Vale do Rio Doce. Como presidente do Banco do Brasil, Ricardo Sérgio operava o fundo de pensão dos funcionários, o Previ, estimado em aproximadamente R$ 38 bilhões. Além disso, há a doação de R$ 700 mil feita pelo empresário Carlos Jereissati para a campanha de José Serra ao senado, em 1994. Na prestação de contas entregue ao TSE, consta que Jereissati doou apenas R$ 45 mil.

Vladimir Antônio Rioli, sócio de Serra até 1995 na empresa Consultoria Econômica e Financeira Ltda, contracenou outras falcatruas que respingam no candidato tucano à presidência. Rioli era vice-presidente de operações do Banespa e ajudou Ricardo Sérgio em diversas transações com o banco, entre elas, a de trazer de volta ao país grandes somas de dinheiro sujo. Em 1992, por exemplo, em uma parceria com o Banco do Brasil, retornou ao Brasil cerca de U$ 3 milhões.
Deputados estaduais de São Paulo, integrantes da CPI que investiga as fraudes do Banespa, desconfiam ser sobra de campanha eleitoral tucana que não foi declarada ao TSE. Entre as transações de Rioli, que envolvem o nome de Serra, está o empréstimo de R$ 21 milhões, em 1993, ao empresário Gregório Marin Preciado, casado com uma prima do candidato tucano. O relatório da CPI do Banespa, mostra que os empréstimos foram concedidos às empresas Gremafer e Aceto, de propriedade de Preciado, sem nenhuma garantia legal. As empresas estavam em liquidação e os empréstimos não foram quitados até hoje.

Entre todos os embaraços enfrentados por Serra, talvez a acusação mais grave seja a de arapongagem. Durante sua gestão como ministro da Saúde, uma empresa de contra-espionagem, a Fence, foi contratada sob o argumento de evitar grampos no ministério. A dispensa de licitação e os valores pagos à empresa geraram críticas de adversários, que ligaram Serra à uma suposta espionagem feita no Maranhão para prejudicar a então candidata Roseana Sarney.
Coincidentemente, os serviços foram feitos na mesma época que a empresa da maranhense foi inspecionada pela PF e estabeleceu-se uma ligação entre Roseana e os escândalos da Sudam.

Como as denúncias não foram dirigidas diretamente ao presidenciável, as pesquisas não apontaram nenhum reflexo nas pesquisas de opinião. O PSDB decidiu manter a candidatura de Serra e o candidato sobe lentamente nas pesquisas de intenção de voto. Em meados de julho ocupava a terceira posição, com 22%.

Acham que é prefeito de Santo AndréLulaDepois do surgimento dos escândalos envolvendo o candidato da base governista, foi a vez do presidente de honra do PT, Luís Inácio Lula da Silva. Não se tem nenhuma relação de Lula com desvio de dinheiro ou corrupção, o que seria muito difícil, pois na vida pública, exerceu apenas um mandato de deputado federal (SP), eleito em 1986.

Além da resistência dos diretórios regionais à aliança com o Partido Liberal (PL), a campanha de Lula enfrentou denúncias de corrupção em Santo André, cidade do prefeito assassinado Celso Daniel. Nenhuma acusação se refere diretamente à Lula, mas o prejudica por abalar a confiança no PT.

As denúncias feitas por João Francisco Daniel, irmão do ex-prefeito de Santo André, acusam José Dirceu, presidente do Partido dos Trabalhadores, de receber propina das empresas de ônibus da cidade e reverter o dinheiro ilícito para financiar campanhas eleitorais petistas. Os promotores do Ministério Público que investigam a suposta rede de corrupção na prefeitura de Santo André dizem que, se forem comprovadas as denúncias, os acusados terão suas ações enquadradas em crime de formação de quadrilha, peculato e corrupção ativa e passiva, entre outras. Os suspeitos já estão envolvidos em três ações civis públicas, acusados de atos de improbidade administrativa. O vereador do PT Klinger Luís de Oliveira Souza, ex-secretário de Serviços Municipais de Santo André, é um dos envolvidos no processo.

No final de junho, a empresária Rosângela Gabrilli, sócia da Viação São José e da Expresso Guarará, confirmou à CPI da Câmara Municipal de Santo André que sua empresa era extorquida por membros da prefeitura, na época administrada por Celso Daniel (PT), assassinado em janeiro. A empresária diz que, desde 1997, pagava a Ronan Maria Pinto R$ 550,00 por carro, o que totalizava R$ 41.800 por mês. Rosângela testemunhou que Ronan se apresentava como porta-voz do secretário de serviços do município e dizia que o dinheiro era revertido para as campanhas do PT.

Outro problema enfrentado pelo candidato do PT são as investigações não autorizadas que a Polícia Federal fez a seu respeito. A ação da PF serviria para apurar as denúncias de irregularidades em São Bernardo do Campo, onde Lula seria dono de imóveis, que estariam em nome de laranjas. A investigação foi arquivada por falta de provas, mas as divergências sobre esse fato está gerando polêmica. Nos documentos que deveriam iniciar as investigações, consta que Fernando Tenório Cavalcanti, “ex-prefeito” da cidade, teria acusado o presidenciável do PT de ser proprietário de imóveis que não estão em seu nome. Mas Fernando nunca foi prefeito de São Bernardo do Campo e afirma que nunca mencionou o nome de Lula e que, em 2000, denunciou o ex-prefeito Mauricio Soares, do PSDB. As datas comprovam a irregularidade do documento que é datado de 4 de abril de 2001, mas contém o depoimento que Fernando Tenório Cavalcanti prestou em 11 de abril do mesmo ano.

A turbulência no mercado financeiro brasileiro também passou a ser atribuída a Lula. Em 1992, o PT perdeu a eleição para Fernando Collor de Mello devido, entre outras coisas, a uma frase de Mario Amato, presidente da Fiesp na época, que disse que 800 mil empresários fugiriam do país caso Lula ganhasse a eleição. Para evitar a repetição dessa cena, na última semana de junho, o presidenciável do PT divulgou que não iria declarar moratória da dívida brasileira e cumpriria as metas, que o governo brasileiro acordou com o Fundo Monetário Internacional.

A atitude comprova a mudança de atitudes do presidenciável que, em anos atrás, jamais anunciaria a continuação de acordos feitos pelo governo tucano com instituições liberais como o FMI. O “Lula light”, como foi chamado pela revista Veja, desagrada a parte mais radical do PT.


Censurou denúncias pela justiça Anthony Garotinho
- O ex-governador do Rio de Janeiro até que tentou começar bem sua campanha presidencial. Afundado em denúncias contra o programa que comanda diariamente na rádio Tupi, antes de se anunciar oficialmente como o candidato do PSB, Garotinho acertou as contas com a Receita Federal. Mas não adiantou muito: no início de junho, o empresário e ex-amigo do candidato, Guilherme Freire, retomou as denúncias contra Garotinho, que havia iniciado em 2001. Entre lavagem de dinheiro, contrabando e outras acusações, o empresário relata ações fraudulentas, da época em que Garotinho ainda era prefeito da cidade de Campos (RJ).

Anthony Garotinho faz de tudo para que não circulem as acusações do empresário. Em maio, o candidato obteve duas liminares que impediam que a revista Carta Capital publicasse trechos de uma conversa, gravada por escuta telefônica, que comprovavam o envolvimento dele. O ato de Garotinho foi repudiado por entidades, entre elas a Associação Nacional dos Jornais, e representantes políticos, como o presidente do Supremo Tribunal Federal, Marco Aurélio Mello. A revista Carta Capital conseguiu cassar a liminar, desde que não publicasse integralmente o conteúdo das conversas, já que foram gravadas clandestinamente. Caso a liminar não fosse cassada, a revista estaria proibida de citar o nome de Garotinho, de Jonas Lopes de Carvalho Júnior (advogado, ex-sócio do presidenciável, hoje conselheiro do Tribunal de Contas) e Waldemar Linhares Duarte, contador, sob pena de multa mínima de R$ 500 mil. A reportagem foi publicada com uma semana de atraso. A censura imposta pelo candidato já havia ocorrido com o jornal O Globo, em julho de 2001, quando iria publicar as conversas gravadas por Guilherme Freire sobre as fraudes dos sorteios promovidos pelo programa O Show do Garotinho transmitido pela rádio Tupi e TV Bandeirantes.

Guilherme Freire e Garotinho estudaram juntos no primário e voltaram a se encontrar na prefeitura de Campos, em 1988. Lá, relata o empresário, Guilherme conseguia contratos privilegiados para a sua empreiteira, a Construtora Tucun, que se tornou a maior do norte e noroeste fluminense em quatro anos, faturando cerca de R$ 500 mil por mês. Além dos contratos facilitados e pagamentos privilegiados, o empresário intermediou diversos negócios para o presidenciável, como a compra de uma rádio AM, em Macaé, por U$ 400 mil. A compra de outro veículo de comunicação foi o motivo, relatado por Guilherme, para o rompimento da amizade: Garotinho pretendia realizar um consórcio entre amigos para a compra da TV Norte, na época retransmissora da Rede Globo. O negócio sairia por U$ 6 milhões, mas acabou não dando certo porque o empresário desistiu. A partir daí, Guilherme diz que perdeu todos os contratos com a prefeitura de Campos e que passou a ser perseguido por Garotinho, sendo até ameaçado de morte. Garotinho afirma que o rompimento se deu quando apurou operações fraudulentas da empreiteira com a prefeitura de Campos. As fitas que contêm as gravações que comprovam as denúncias feitas por Guilherme Freire estão sendo apuradas pelo Ministério Público. Garotinho teve seu telefone grampeado clandestinamente durante três anos, de1994 a 1996.

Com Collor e Farias na sombraCiro Gomes - Segundo colocado na pesquisa Ibope do final de julho, com 26% das intenções de voto, o candidato também teve que dar esclarecimentos final de julho. José Carlos Martinez, coordenador geral da campanha, deve dinheiro à família de PC Farias, ex-tesoureiro de Collor, de quem tomou emprestado US$ 1,6 milhão para compra da emissora de televisão CNT. Paulo Pereira da Silva, candidato a vice de Ciro, foi acusado de superfaturar a compra de uma fazenda da Força Sindical quando era dirigente da instituição, e de comprar um sítio em nome de um “laranja”. Além disso, o PPS brigou para tirar o diretório de Alagoas da campanha de Collor (PRTB) para governador, mas o PTB , que faz parte da coligação que apóia Ciro, continuou com o ex-presidente.

Briga na Internet - Os candidatos à presidência estão aproveitando os sites na internet, espaço não controlado pelo Tribunal Superior Eleitoral, para dizer o que querem dos adversários de campanha. A home-page de José Serra divulgou uma série de notícias entituladas Pérolas de grosserias de Ciro, com frases do candidato da Frente Trabalhista endereçados a antigos inimigos políticos, e Ciro disse, mas não é verdade, desmentindo as propostas do presidenciável. Ainda no site de Serra, há notícias criticando os outros candidatos, como a que diz que Lula é contra o direito de informação do público. No site de Ciro Gomes, na primeira semana em que esteve no ar, não havia notícia atacando adversários da disputa à presidência. Existe a seção Você Sabia?, que mostra, entre outras curiosidades, que políticos da equipe de Fernando Henrique Cardoso participaram do governo Collor. A página na internet de Anthony Garotinho divulgou a notícia de que Ciro conseguiu palanque com os atuais seguidores de Collor. Na primeira semana de operação do site de Lula, não foi encontrada nenhuma referência a outros candidatos à presidencia.

Ginny Carla Morais

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