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JORNALISMO
- UFSC
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O
jornalista Tim Lopes, repórter da rede Globo morreu,
no dia 03 de junho, brutalmente assassinado por traficantes,
quando fazia uma reportagem sobre tráfico de drogas e
exploração sexual em um baile funk na favela Vila
Cruzeiro, no subúrbio do Rio de Janeiro. O repórter
estava exercendo sua profissão perigosamente, em uma
zona de conflito, dominada pela guerra não declarada
do narcotráfico, na cidade. Como Tim Lopes outros tantos
jornalistas no mundo se arriscam e morrem no trabalho de campo.
O Comitê de Proteção aos Jornalistas (CPJ),
com sede em Nova York, divulgou que no ano de 2001, foram mortos
37 jornalistas em vários países sob circunstâncias
violentas.
Na Europa, o medo é que o exemplo colombiano de violência
contra repórteres atinja o Brasil. Segundo a organização
francesa Repórteres Sem Fronteiras (RSF), que defende
a liberdade de imprensa, a América do Sul é hoje
o lugar mais perigoso para exercer a atividade jornalística,
sobretudo a investigativa. Seqüestros, emboscadas e assassinatos
contra jornalistas aumentaram 50% no ano passado. A maioria
destes crimes foi praticada por vingança de corruptos
e traficantes de drogas. Dos 37 jornalistas mortos em todo o
mundo no ano passado, 18 pertenciam à América
Latina. A maior parte dos jornalistas são da Colômbia,
com 10 assassinados. Também aumentou o número
de jornalistas processados por criticar atos do governo: 489
foram presos nos países governados por ditadores, sendo
que 110 continuam na cadeia e 380 foram vítimas de censura.
De acordo com a Sociedade Interamericana de Imprensa, SIP o
número de vítimas do ano passado é o maior
desde 1997, mas houve diminuição em relação
a média anual de 1989 até 2001, com 19 mortes.
Na última década, segundo dados do CPJ, já
se contabilizam 389 mortes, sendo que 16% dos jornalistas foram
mortos em fogo cruzado e 77% assassinados. Desde 1992 foram
confirmadas 30 mortes de jornalistas na Colômbia, enquanto
no Brasil morreram dez profissionais, vítimas de atentados.
O memorial norte-americano Freedom Forum, uma imponente espiral
de vidro e aço que sobe alargando-se em direção
ao céu, no pátio do Museu da Notícia, em
Arlington, Washington é dedicado aos profissionais que
morreram em coberturas de guerra, catástrofes ou foram
vítimas de violência. Em números absolutos,
para o monumento do Freedom Forum Journalists Memorial são
1.086 jornalistas assassinados no exercício da profissão.
O primeiro da lista é James Lingan, do Federal Republic,
morto em Maryland, Estados Unidos, em 1812. No próximo
Dia Mundial da Liberdade de Imprensa - 3 de maio de 2003 - o
nome de Tim Lopes será escrito no memorial de Washington.
Será o 22º brasileiro na lista de jornalistas mortos
no exercício da profissão.
O assassinato do repórter Tim Lopes também motivou
a manifestação de diversas entidades no Brasil
e no mundo. A Associação Brasileira de Imprensa,
a Associação Nacional de Jornais, a Ordem dos
Advogados do Brasil, entre outros, consideraram o caso uma ameaça
à liberdade de imprensa. Lena Williams, do jornal New
York Times, lembrou a morte de Daniel Pearl, repórter
do Wall Street Journal, no Paquistão. Disse
que a violência contra jornalistas não é
mais restrita a coberturas de guerras, mas também faz
parte do cotidiano.
Roy Gutman, da revista Newsweek, diz que a imprensa
brasileira precisa ser solidária, ajudando a descobrir
o que aconteceu ao jornalista. Linda Foley, presidente da Associação
Mundial dos Jornais, acredita na mobilização dos
brasileiros e acha que a população deve compreender
que a violência contra um jornalista é um ataque
à capacidade do povo de receber informação
com credibilidade. Em Washington, nos Estados Unidos, o protesto
veio do Museu da Imprensa. Para a diretora Margaret Engels,
a América Latina é um dos lugares mais perigosos
do mundo para exercer a profissão de repórter.
Segundo a diretora, é preciso que as pessoas e o governo
fiquem mais indignados.
Revolta e indignação não faltam para jornalistas
e moradores do Rio de Janeiro. No dia 24 de junho, cerca de
300 manifestantes, fizeram uma caminhada na orla da Zona Sul
da cidade para evitar que o caso de Tim Lopes não fique
impune e para protestar contra a violência tantas vezes
denunciada pelo profissional. Nacif Elias, presidente do Sindicato
dos Jornalistas Profissionais do Rio, lembra que somente com
a pressão da sociedade, será possível reverter
o quadro de violência no Brasil. Beth Costa, presidente
da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj),
presente na manifestação, disse que o caso repercute
não só no Brasil como em todo o mundo. “A
principal forma de os jornalistas contribuírem para o
fim da violência é incluir nas reportagens propostas
de soluções para o problema”, finaliza.
O
crime - A morte do jornalista Tim
Lopes, de 51 anos, foi confirmada a Zaqueu Teixeira, chefe da
Polícia Civil, na noite do dia 9 de junho pelos traficantes
Fernando Satiro da Silva, “o Frei”, e Reinaldo Amaral
de Jesus, o “Cabê”,. Eles negam a participação
na morte do repórter. No entanto, contaram em detalhes
a maneira como o jornalista foi levado pelos traficantes e seu
assassinato. Tim Lopes saiu do baile funk na Vila Cruzeiro,
por volta das 20 horas e foi até um bar, na Rua 8. Os
traficantes Andro da Cruz Barbosa, o André “Capeta”,
e Maurício de Lima Bastos, o “Boizinho”,
perceberam uma luz que vazava de sua pochete e abordaram o jornalista.
Descobriram a micro-câmera e, através de um rádio,
entraram em contato com Elias Pereira da Silva, o “Elias
Maluco”, que ordenou o espancamento do jornalista. Um
dos traficantes mais procurados do Rio de Janeiro, Elias gerencia
o tráfico na região e é o único
líder da facção Comando Vermelho em liberdade.
Os traficantes atenderam as ordens de “Elias Maluco”
e atiraram nos pés de Tim Lopes, para que não
tentasse fugir, amarraram suas mãos e jogaram o jornalista
dentro do porta-malas de um Fiat Palio. O repórter foi
levado para o alto da favela da Grota, no Complexo do Alemão,
um conjunto de favelas no Rio de Janeiro. Pouco tempo depois,
Elias Maluco estaria diante do autor da matéria Feira
das drogas, que denunciou, no ano passado, o modo como
as drogas eram comercializadas nas ruas e que causou a prisão
de Renato Souza de Paula, o “Ratinho”, como é
conhecido na favela.
“Ratinho” tinha sido flagrado pelo jornalista no
feirão de drogas. Ele foi filmado por Tim Lopes na reportagem,
que deu ao jornalista o Prêmio Esso de Telejornalismo
em 2001. Segundo a polícia, ele também usa o nome
de Anderson Martins de Carvalho, e é um dos homens mais
importantes do bando de Elias Maluco. Acusado de tráfico
de entorpecentes e associação para o tráfico,
é o responsável pelo fornecimento de munição
para a Favela da Grota e foi o primeiro a sugerir a execução
do repórter.
Elias acatou a idéia e ordenou que fosse feito um julgamento.
Por quatro votos a zero, o jornalista foi condenado à
morte. À meia-noite “Elias Maluco” pegou
um sabre do tipo samurai e com um golpe fez um corte diagonal
do ombro esquerdo até o estômago de Tim Lopes.
O corpo foi esquartejado, incendiado no local chamado “microondas”
pelos traficantes, e levado para um cemitério clandestino
na Pedra do Sapo no topo da Favela da Grota – Complexo
do Alemão.
O Laboratório de Bioquímica da Universidade Federal
do Rio de Janeiro (UFRJ) através do exame de DNA, confirmou,
no dia 5 de julho, mais de um mês depois do desaparecimento
de Tim Lopes, que os fragmentos enterrados no cemitério
clandestino eram mesmo do jornalista. O material analisado foi
um fragmento de costela encontrado no dia 12 de junho, junto
aos restos da microcâmera que Tim carregava. Ao anunciar
a confirmação do assassinato do jornalista, o
delegado Zaqueu Teixeira, chefe de Polícia Civil, informou
que vai pedir prorrogação do inquérito
por mais 30 dias, para juntar laudos e outras provas, que garantam
a condenação do traficante Elias Pereira da Silva
e de outros sete acusados do crime, já indiciados, também
por homicídio. “Não queremos que mais tarde
a Justiça liberte qualquer um deles alegando falhas nas
investigações. Como há indícios
suficientes para se pedir a prorrogação da prisão
temporária dos quatro suspeitos já presos, não
vejo por que concluir o inquérito de forma apressada”,
ponderou.
Autor intelectual - Considerado
um dos traficantes mais violentos do Rio, Elias Pereira da Silva
ou Elias Maluco, domina o Complexo do Alemão, região
com mais de 65 mil habitantes e que inclui entre suas 13 favelas
a Vila Cruzeiro e Grota Funda – onde Tim Lopes foi morto.
Em 1996, o traficante cumpriu pena por tráfico de drogas
durante três anos e 50 dias, mas ganhou liberdade em 2000,
através de um habeas corpus. “É
um bandido que tem todo o aparato de armas e bandidos a seu
favor”, diz Marina Maggessi, chefe de investigação
da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DER), ao justificar
a dificuldade de prender Elias Maluco. Apontado pela polícia
como o responsável pela distribuição de
metade da droga vendida no Rio, é acusado de comandar
um exército de mais de 300 homens. O secretário
de Segurança do Rio, Roberto Aguiar, anunciou no dia
11 de junho que o valor da recompensa para quem der informações
sobre seu paradeiro subiu de R$ 30 mil para R$ 60 mil. Desde
o desaparecimento de Tim Lopes, a polícia tem recebido
cerca de 80 denúncias anônimas por dia, referentes
ao suposto esconderijo do traficante. |
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