Bild,
em alemão, significa imagem. E desde 24 de junho de
1952 virou sinônimo do jornal mais vendido do país,
atualmente com uma tiragem de 4,5 milhões de exemplares.
Inicialmente inspirado nos tablóides britânicos,
o Bild completa 50 anos com uma receita própria de
jornalismo. Vendido a 45 centavos de euro, é lido por
cerca de 12 milhões de pessoas, e seu conteúdo
é uma mistura de notícias sobre celebridades
e reportagens policiais. Também não faltam títulos
sensacionalistas e uma primeira página com fotografias
de mulheres nuas. Fórmula que conquista um grande público,
e faz dele um “diário para gente simples”,
como resume Kai Dieckmann, diretor de redação,
ao jornal português Público.
O jornal foi, durante anos, considerado pela esquerda um exemplo
da imprensa reacionária e conservadora. Tanto, que
no final dos anos 70, em pleno movimento hippie, se tornou
famoso por suas campanhas contra os movimentos ecologistas
e pacifistas. Sua linha editorial pró-americana e anticomunista
lhe rendeu acusações de ser “o ópio
do povo”. Quando os russos começaram a construção
do muro de Berlim, o Bild manchetou: “O Ocidente não
fez nada”
Ética na apuração jornalística
nunca foi o forte do jornal. Pesam acusações
contra o Bild sobre troca de favores políticos, já
que alguns dos diretores e jornalistas do tablóide
foram promovidos a cargos de assessores no governo alemão.
O diário também é acusado de favorecer
a vitória do primeiro-ministro Gerard Schroeder sobre
Helmut Kohl nas eleições legislativas de 1998,
quando publicou segredos de alcova do ex-chanceler. Mas as
denúncias mais graves vêm do jornalista alemão
Günter Wallraff, autor do livro Fábrica de Mentiras
– publicado no Brasil. Wallraff revela que a redação
do diário é uma “oficina profissional
de falsificações”, e não usa um
modelo de jornalismo investigativo, analítico ou ético
como o do Le Monde ou Washington Post. “No Bild a realidade
externa pouco importa, ela é inventada dentro do próprio
jornal. As histórias são primeiro sugeridas
(ou criadas) dentro da redação. O repórter
vai para rua apenas para justificar a pauta dos editores”,
acrescentou o jornalista brasileiro Marcos Faerman, que assina
o prefácio de Fábrica de Mentiras.
Briga de cachorro grande - O
cinqüentenário do Bild é marcado por disputas
internas pelo poder. O magnata do setor de mídia Leo
Kirch, que detém 40% de participação
na editora Axel Springer, empresa que publica o jornal, acusa
os membros do conselho diretor da empresa e seu principal
acionista, Friede Springer, de enfraquecer o gurpo Kirch.
A Axel Springer comprou US$ 760 milhões de dólares,
12% do capital da ProSibienSat Media, a maior rede de TV comercial
da Alemanha, também controlada por Kirch.
Para a Axel Springer, a compra da participação
na ProSieben foi o primeiro passo para transformar o grupo
editorial num gigante da mídia. Atualmente a empresa
é proprietária do Bild, do jornal conservador
Die Welt, de jornais regionais cuja tiragem somada é
de 1 milhão de exemplares e também de revistas.
‘O conselho ouviu Springer e desconsiderou o interesse
da empresa e de acionistas menores’, diz Ronald Frohne,
advogado de Kirch, lembrando que a editora também tem
problemas financeiros e até o fim do ano pretende reduzir
14 mil vagas que equivalem a 10% dos postos de trabalho.
O grupo Kirch declarou falência este ano, com uma dívida
estimada em 6,5 bilhões de euros (R$ 13,7 bilhões).
É a maior bancarrota da história alemã
desde a II Guerra Mundial, e 9.500 trabalhadores estão
ameaçados de perder o emprego. A Kirch é uma
das maiores empresas do ramo de comunicação
do mundo, mas vem sofrendo nos últimos tempos, com
maus investimentos feitos nas áreas de cinema e TV
paga. As pesadas dívidas se devem principalmente à
compra de direitos de filmes a preços exorbitantes
e ao lançamento de um canal pay-per-view, o Premiére,
num país com mais de 30 canais de TV aberta.
Antes de pedir concordata na Alemanha, a matriz da Kirch transferiu
seus direitos de transmissão da F-1 e da Copa do Mundo
de 2002 e 2006 para uma subsidiária, a KirchSport,
que é totalmente baseada na Suíça. Caso
a KirchSport também vá a lona, os direitos de
transmissão da Copa, avaliados em cerca de US$ 1,67
bilhão, retornam para a FIFA.
Solução política
- Os bancos estudam soluções
para o problema. Edmund Stoiber, governador da Baviera, sede
da Kirch, tem grande interesse em ajudar, pois a empresa desempenha
papel importante na economia do Estado. Stoiber, conservador,
usa a prosperidade econômica bávara para alavancar
sua candidatura ao cargo de chanceler, atualmente ocupado
pelo rival social-democrata Gerhard Schroeder. Este seria
o motivo pelo qual o banco do estado emprestou 2 bilhões
de euros à Kirch. “Falência não
significa destruição da companhia, mas oportunidade
e novos donos”, diz o político.
Outra solução seria Leo Kirch vender sua participação
na Axel Springer. Não faltam interessados nos 40% de
ações detidos pelo Grupo Kirch. Desde o magnata
Rupert Murdoch até o grupo de imprensa WAZ. Dono de
28 diários regionais na Alemanha, com tiragem diária
de 4,5 milhões de exemplares, e associado da Bertelsmann,
segundo maior grupo de mídia do mundo, sediado na Alemanha.
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