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Há
dez anos, o inimigo número um da máfia italiana,
o magistrado Giovanni Falcone, foi morto em um automóvel
atingido pela explosão de 500 quilos de dinamite. A carga
havia sido colocada numa tubulação destinada ao
escoamento de águas pluviais, sob a pista da estrada
A/29 que liga Palermo e Trapani, na direção Punta
Raisi – Palermo. Segundo a perícia, às 17h56
do dia 23 de maio de 1992, da colina de Capaci, ao lado da auto-estrada,
o boss Giovanni Brusca detonou por telecomando a carga
de dinamite. Brusca foi ajudado por seus comandados da mafiosa
famiglia de San Giuseppe di Jato. De binóculo,
assistiu à explosão, que acabou de completar uma
década.
Eram três carros. O primeiro, com três policiais
da escolta, projetou-se a 62 metros do local da explosão.
Na pista, abriu-se um buraco com 3,5 metros de profundidade.
Morreram todos os seus ocupantes. No segundo carro, estava Falcone,
sua mulher Francesca Morvillo e o motorista, o único
sobrevivente. A explosão jogou o carro do juiz, que voltava
de Roma para sua casa em Palermo, para fora da estrada. Levado
inconsciente, Falcone morreu no Hospital Cívico Benfratelli
de Palermo. Os outros três agentes da escolta que estavam
no terceiro automóvel, saíram feridos e se recuperaram.
Foram 15 feridos no ataque de técnica libanesa - explodir
dinamite com controle remoto -, entre eles, três turistas
austríacos, que se recuperaram. Além disso, restaram
50 metros de estrada danificados, fragmentos de asfalto e de
alumínio espalhados num raio de 70 metros e sete automóveis
atirados a grandes distâncias.
“A máfia golpeia, desafia e derrota o Estado”,
disse o líder socialista Bettino Craxi ao saber da morte
de Falcone. A máfia já havia tentado matar seu
principal inimigo em junho de 1989, quando colocou 50 cartuchos
do explosivo tritol escondidos a 20 metros da casa de férias
de Falcone, perto da capital siciliana. Mas a polícia
encontrou os explosivos antes que eles fossem acionados. No
entanto, a declaração a Falcone estava feita:
“Morrerá, sabe que morrerá”.
O
siciliano Falcone, nascido em Palermo em 1939, tinha 53 anos
e ocupava desde 1991 o cargo de diretor de Assuntos Penais no
Ministério da Justiça, em Roma. Antes disso, passou
11 anos combatendo a Máfia – sempre sob ameaças
de morte – no “escritório-bunker” do
Palácio da Justiça de Palermo. O juiz foi um dos
principais responsáveis pela ofensiva judicial contra
os mafiosos promovida no país, que teve seu ponto culminante
no julgamento em massa de 1987 – quando 361 deles foram
condenados a longas penas.
No dia seguinte ao atentado, a eleição para presidente
da República foi suspensa. Um dia antes da votação,
Giulio Andreotti, primeiro-ministro demissionário e presidente
do conselho, se mostrou indignado. “Quando um homem como
Falcone é vítima de tal ataque, você sente
um ódio particular”, afirmou. O papa João
Paulo II também lamentou a morte de Falcone.
Há duas teses opostas sobre o crime. A primeira considera
o assassinato de Falcone um sinal de força da máfia,
disposta a desafiar e a mostrar a fraqueza do Estado. A segunda
afirma que os mafiosos enfraquecidos pelos sucessivos processos
e temendo pelo seu fim, reagiram optando pelo terrorismo.
Falcone afirmava: “Para combater a máfia é
preciso conhecê-la”. Mas o conhecimento que o Estado,
até o momento da detenção de Tommaso Buscetta,
tinha da organização era superficial. Segundo
Falcone, foi graças ao interrogatório de Buscetta
que conseguiram, finalmente, ter uma visão global da
Máfia, de sua estrutura e técnica de recrutamento.
Falcone sabia que a máfia não pretendia poupá-lo.
“Se o senhor não for embora de Palermo, não
se salva”, alertou Tommaso Buscetta. “Depois deste
interrogatório o senhor se tornará uma celebridade,
mas estará marcado pelo resto da vida. Tentarão
destruí-lo seja física ou profissionalmente. Não
se esqueça: a Casa Nostra não desistirá”.
Um artigo no jornal Corriere della Sera constatou a
facilidade com que o crime aconteceu, em pleno dia, enquanto
o Parlamento não conseguia eleger o presidente da Itália.
E concluiu “o terrorismo cresce proporcionalmente à
impotência política dos partidos”.
À jornalista francesa Marcelle Padovani, que com ele
escreveu o livro Cose di Cosa Nostra (Coisas da Cosa
Nostra), observou: “Morre-se por estar sozinho. Porque
entrou-se num grande jogo. Freqüentemente, morre-se por
não dispor de necessárias alianças e porque
se está privado de sustentação. Na Sicília,
a Máfia mata os servidores do Estado, que o próprio
Estado não consegue proteger”.
Falcone enfrentou e desvendou os segredos dessa potente e secular
organização criminosa, que mantinha sob controle
o poder político na Sicília. Desde criança,
conhecia suas máximas, dentre elas: “Somos sempre
os mais fortes. A máfia tem memória de elefante,
não esquece os traidores e os seus inimigos”. Falcone
conseguiu quebrar a omertà. Ou seja, pôs
fim a cultura do silêncio. A omertà, ensinou Falcone,
era a intimidação difundida pela organização
criminosa.
Um grupo de juízes antimáfia foi criado por Rocco
Chinicci. Esse magistrado também foi assassinado pela
máfia quando estacionava o automóvel em frente
à sua casa. Neste primeiro processo, que terminou em
16 de dezembro de 1987, foram acusadas 475 pessoas, 361 delas
receberam condenações e 19 receberam a pena de
prisão perpétua.
Durante o maxiprocesso contra a máfia, a televisão
mostrou vários acusados em espécies de jaulas,
colocadas na sala de audiências. Os defensores dos mafiosos
procuraram desacreditar Buscetta, que iniciou sua colaboração
em julho de 1984 e posteriormente declarou: “Não
sou um arrependido. Fui um mafioso. Desejo revelar tudo que
está guardado na minha consciência sobre esse câncer
que é a máfia, a fim de que as novas gerações
possam viver de modo mais digno e humano”. Com o fim do
processo, chegou também a sentença de morte de
Falcone, cumprida no dia 23 de maio de 1992.
Logo depois, no dia 19 de julho, ocorreu outro assassinato.
Quando o juiz Paolo Borsellino apertou o botão do interfone,
na portaria do prédio onde morava sua mãe, em
Palermo, aconteceu uma violenta explosão. Junto com ele
morreram seus cinco seguranças e, pela primeira vez,
uma mulher, a policial Emanuela Loi. Borselino tinha trabalhado
com Falcone e era considerado seu sucessor.
Em junho de 1993, aconteceram explosões em Roma, Firenze
e Milão. Elas representavam a continuação
da máfia contra o Estado, desencadeada pelo foragido
Totó Riina, “o chefe dos chefes”. Ele estava
inconformado com as condenações no maxiprocesso,
incluída a sua como mandante do assassinato de Falcone.
No curso da luta, Falcone conseguiu mudanças legislativas.
Uma delas foi a delação premiada a mafiosos arrependidos.
Por ironia do destino, os matadores de Falcone arrependeram-se
e ganharam liberdade, com exceção de Brusca. |
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