Número 1 - Ano I - Edição fechada em 29 de Julho de 2002 Florianópolis-SC
História Prêmios Capas Jornal Laboratório Expediente Contato Home
Zero comemora 20 anos!
Conheça sua história.
Entre em contato com a gente.
Envie sua mensagem.
Zero garante verba para semestre 2002/2.
JORNALISMO - UFSC
Leia. Recomende aos amigos.
OUTROS LINKS DA UFSC


Buschetta: vendetta puniu todos os parentes e amigosRomances e filmes já falaram bastante da máfia - organização criminosa formada na Sicília, Itália, a partir do século 18, quando a dinastia espanhola dos Bourbons conquistou a coroa daquela ilha e de Nápoles, no continente. A fragilidade do poder regional, aliada ao sentimento de autonomia da população, propiciou o surgimento de uma sociedade secreta, hierarquicamente ordenada, arregimentada em famiglias, que passou a atuar arbitrariamente naquele território.

Sobrevivendo até hoje, suas ações se amparam na vendetta (vingança) e na violência contra as pessoas que não querem se sujeitar a ela, e na milenar omertà (lei do silêncio) respeitada pela população rural. A maioria dos trabalhos sobre a máfia enfatiza sua ramificação americana, a Cosa Nostra, que imigrantes sicilianos levaram para os Estados Unidos.

Um filme sempre lembrado quando o assunto é máfia é O Poderoso Chefão, de Francis Ford Coppola. Na verdade, três filmes. O primeiro e mais atraente, feito em 1972, narra a história do imigrante siciliano Don Vito Corleone, interpretado por Marlon Brando - que deixou a terra natal para “fazer a América” e ali se tornou líder da Cosa Nostra - e da ascensão de seu filho americano Mike, vivido por Al Pacino. Chefões e subalternos da organização criminosa foram retratados no cinema vivendo em Chicago, Nova York e outras metrópoles dos Estados Unidos, que eles tumultuaram entre as décadas de 20 e 60.

Segundo informações obtidas junto à Direção Investigativa Antimáfia, nos livros Diciotto Anni di Mafia, de Saverio Lodato, Mafia e antimafia, de Luciano Violante, e Processo alla’Ndrangheta, de Enzo Ciconte, a máfia italiana, atualmente, apresenta a seguinte estrutura: Cosa Nostra, da Sicília, Palermo, com 5.400 membros; ‘Ndrangheta, da Calábria, Reggio Calábria, com 5.600 membros; Camorra, da Campânia, Nápoles, com 7.200 associados; e Sacra Corona Unita, de Puglia, Bari, com 2.000 mafiosos.

As fontes de renda destas societas sceleris são, entre outras, o tráfico de drogas e de armas, os jogos, seqüestros, extorsão de pessoas e empresas, fraudes em serviços e obras públicas e lavagem de dinheiro.

A máfia adota como estrutura clãs e famílias. Grupos são ligados por vínculos sentimentais, que procuram imitar os laços familiares, usando nomes como “padrinho”. Os membros da máfia são conhecidos como uomini d’onore, homens de honra. Os capo são os chefões dos principais clãs, o membro mais poderoso da família ou da cidade.

Os clãs recebem os nomes de famílias. Por exemplo, Morabito, Mazzaferro, Pesce. Na Sicília, é comum o clã ser associado à cidade de origem como os corleoneses ou os palermitanos. Cada grupo da máfía tem um território. A Cosa Nostra, da Sicília, tem amplas ligações com a Máfia americana. Os demais ramos somente agem nos EUA com aprovação da Cosa Nostra. A ‘Ndrangheta atua no tráfico de cocaína e heroína para a maior parte da Europa Ocidental.

Falcone, que entre outros êxitos, conseguiu o arrependimento e a confissão do mais famoso “chefão”, Tommaso Buscetta, foi o primeiro a enxergar a transnacionalidade do crime organizado, e a orientar investigações e repressão neste sentido. Esta transnacionalidade, entendia Falcone, significa, por um lado, a multiplicação dos interesses e dos investimentos mafiosos para além das fronteiras dos seus países de origem, e por outro lado, a integração crescente dos vários grupos criminosos do mundo inteiro numa rede interligada. Seria necessário então, para o juiz siciliano, seguir as conexões internacionais para poder atingir os centros do poder alternativo ao Estado, representado pelos mafiosos.

Atrás do procedimento judicial praticado por Falcone, havia uma visão clara da ameaça à democracia representada pelo crescimento do poder dos grandes grupos criminosos, e da necessidade de enfrentar e vencer o desafio do crescimento mundial da criminalidade organizada.

Esta ameaça, exemplificada pelos casos bem conhecidos da Itália com a máfia e da Colômbia com a guerrilha, existe no Brasil também. O narcotráfico e o jogo do bicho representam somente a parte mais visível e exposta do crime organizado. As ligações entre a política e os negócios escusos, a reciclagem do dinheiro sujo, a penetração de capitais mafiosos em empresas legais e atividades lícitas, os investimentos num mercado financeiro hoje estabilizado mas ainda muito rentável, o tráfico de armas e de material nuclear são alguns dos aspectos da inserção no Brasil da rede criminosa internacional; muito além e acima dos bandos, das quadrilhas, dos “comandos” e das lideranças dos morros, às quais eles são geralmente atribuídos.

Mariana Romani

Leia também:
Itália sem Falcone há dez anos

página principal
Se você tiver algum problema ao navegar nesta página envie um email para zero@cce.ufsc.br.
Visite a geleria de capas do jornal impresso e conheça um pouco
mais da história do Zero.