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JORNALISMO
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Romances
e filmes já falaram bastante da máfia - organização
criminosa formada na Sicília, Itália, a partir
do século 18, quando a dinastia espanhola dos Bourbons
conquistou a coroa daquela ilha e de Nápoles, no continente.
A fragilidade do poder regional, aliada ao sentimento de autonomia
da população, propiciou o surgimento de uma sociedade
secreta, hierarquicamente ordenada, arregimentada em famiglias,
que passou a atuar arbitrariamente naquele território.
Sobrevivendo até hoje, suas ações se amparam
na vendetta (vingança) e na violência
contra as pessoas que não querem se sujeitar a ela, e
na milenar omertà (lei do silêncio) respeitada
pela população rural. A maioria dos trabalhos
sobre a máfia enfatiza sua ramificação
americana, a Cosa Nostra, que imigrantes sicilianos levaram
para os Estados Unidos.
Um filme sempre lembrado quando o assunto é máfia
é O Poderoso Chefão, de Francis Ford
Coppola. Na verdade, três filmes. O primeiro e mais atraente,
feito em 1972, narra a história do imigrante siciliano
Don Vito Corleone, interpretado por Marlon Brando - que deixou
a terra natal para “fazer a América” e ali
se tornou líder da Cosa Nostra - e da ascensão
de seu filho americano Mike, vivido por Al Pacino. Chefões
e subalternos da organização criminosa foram retratados
no cinema vivendo em Chicago, Nova York e outras metrópoles
dos Estados Unidos, que eles tumultuaram entre as décadas
de 20 e 60.
Segundo informações obtidas junto à Direção
Investigativa Antimáfia, nos livros Diciotto Anni
di Mafia, de Saverio Lodato, Mafia e antimafia,
de Luciano Violante, e Processo alla’Ndrangheta,
de Enzo Ciconte, a máfia italiana, atualmente, apresenta
a seguinte estrutura: Cosa Nostra, da Sicília, Palermo,
com 5.400 membros; ‘Ndrangheta, da Calábria, Reggio
Calábria, com 5.600 membros; Camorra, da Campânia,
Nápoles, com 7.200 associados; e Sacra Corona Unita,
de Puglia, Bari, com 2.000 mafiosos.
As fontes de renda destas societas sceleris são,
entre outras, o tráfico de drogas e de armas, os jogos,
seqüestros, extorsão de pessoas e empresas, fraudes
em serviços e obras públicas e lavagem de dinheiro.
A máfia adota como estrutura clãs e famílias.
Grupos são ligados por vínculos sentimentais,
que procuram imitar os laços familiares, usando nomes
como “padrinho”. Os membros da máfia são
conhecidos como uomini d’onore, homens de honra.
Os capo são os chefões dos principais
clãs, o membro mais poderoso da família ou da
cidade.
Os clãs recebem os nomes de famílias. Por exemplo,
Morabito, Mazzaferro, Pesce. Na Sicília, é comum
o clã ser associado à cidade de origem como os
corleoneses ou os palermitanos. Cada grupo da máfía
tem um território. A Cosa Nostra, da Sicília,
tem amplas ligações com a Máfia americana.
Os demais ramos somente agem nos EUA com aprovação
da Cosa Nostra. A ‘Ndrangheta atua no tráfico de
cocaína e heroína para a maior parte da Europa
Ocidental.
Falcone, que entre outros êxitos, conseguiu o arrependimento
e a confissão do mais famoso “chefão”,
Tommaso Buscetta, foi o primeiro a enxergar a transnacionalidade
do crime organizado, e a orientar investigações
e repressão neste sentido. Esta transnacionalidade, entendia
Falcone, significa, por um lado, a multiplicação
dos interesses e dos investimentos mafiosos para além
das fronteiras dos seus países de origem, e por outro
lado, a integração crescente dos vários
grupos criminosos do mundo inteiro numa rede interligada. Seria
necessário então, para o juiz siciliano, seguir
as conexões internacionais para poder atingir os centros
do poder alternativo ao Estado, representado pelos mafiosos.
Atrás do procedimento judicial praticado por Falcone,
havia uma visão clara da ameaça à democracia
representada pelo crescimento do poder dos grandes grupos criminosos,
e da necessidade de enfrentar e vencer o desafio do crescimento
mundial da criminalidade organizada.
Esta ameaça, exemplificada pelos casos bem conhecidos
da Itália com a máfia e da Colômbia com
a guerrilha, existe no Brasil também. O narcotráfico
e o jogo do bicho representam somente a parte mais visível
e exposta do crime organizado. As ligações entre
a política e os negócios escusos, a reciclagem
do dinheiro sujo, a penetração de capitais mafiosos
em empresas legais e atividades lícitas, os investimentos
num mercado financeiro hoje estabilizado mas ainda muito rentável,
o tráfico de armas e de material nuclear são alguns
dos aspectos da inserção no Brasil da rede criminosa
internacional; muito além e acima dos bandos, das quadrilhas,
dos “comandos” e das lideranças dos morros,
às quais eles são geralmente atribuídos. |
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