Número 1 - Ano I - Edição fechada em 29 de Julho de 2002 Florianópolis-SC
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Fred - Zero“Foi o evento mais importante do FAM”. A frase é do cineasta catarinense Eduardo Paredes e se refere ao Congresso Brasileiro de Cinema (CBC). Suas primeiras edições ocorreram nas décadas de 60 e 70 e foram retomadas em 2000, para resgatar os bons momentos do cinema nacional. Mas essa foi a primeira vez que o CBC realizou um encontro regional, no qual foi firmado o Pacto do Sul, em que os dirigentes das áreas culturais nos estados do Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina se comprometeram a promover um intercâmbio de projetos, idéias e sobre infra-estrutura.

A criação desse bloco visa quebrar a hegemonia do eixo Rio-São Paulo na distribuição das verbas federais. Agência Nacional de Cinema (Ancine), criada em setembro do ano passado, vai contar com um orçamento de R$ 80 milhões para incentivar a produção de novos filmes. “Esse país é grande demais e não queremos, que todo esse dinheiro vá para meia dúzia de cineastas do sudeste”, diz Paredes. Ele informa que estão sendo rodados atualmente na região Sul, 20 longas e 40 curtas, empregando mais de 10 mil pessoas. A inauguração do mais moderno laboratório cinematográfico do país, em Porto Alegre contribuiu para a criação desse pacto. Este complexo vai facilitar a finalização de filmes dos três estados. “Não queremos criar o pólo de cinema gaúcho ou catarinense, mas sim unir forças para criar um grande pólo de cinema no sul do país. E já estamos exportando esta idéia para outras regiões do Brasil”, conclui Paredes. Ele cita a lei catarinense, que determina um edital anual para o financiamento de novos filmes, e atraiu o interesse de cineastas cearenses , que querem implantar o mesmo modelo.

A Ancine é fruto do trabalho do Grupo Executivo de Desenvolvimento da Indústria Cinematográfica (Gedic), que reuniu diversos segmentos ligados a cinema como produtores, distribuidores, exibidores, infra-estrutura, acervo, escolas e críticos para elaborar novas políticas audiovisuais no país. O principal objetivo da agência é fortalecer a distribuição dos filmes brasileiros e aumentar o número de salas de cinema. Atualmente há apenas 1700 salas em todo o país, número pequeno para uma população de mais de 170 milhões de pessoas. Nos Estados Unidos essa relação é de 35 mil salas para 260 milhões de habitantes.. “Na Galícia, Espanha, uma cidade do tamanho de Florianópolis tem 40 salas de cinema. Nós só temos oito e é claro que isso gera problemas tanto na produção como na distribuição e exibição”, afirma Peter Lorenzo, representante do curso de cinema da Unisul. A meta da Ancine é atingir 3000 salas em dez anos, número igual ao da década de 70.


Jeitinho brasileiro - Esse problema pode ser solucionado de maneira barata e com criatividade. É o caso de idéias como o RodaCine, realizado pelo governo do Rio Grande do Sul. Trata-se de um furgão, equipado com um projetor 35 milímetros e quatro caixas de som, que percorre o interior gaúcho fazendo a exibição de filmes nacionais em municípios onde não existem salas de cinema. Outro projeto é o carioca Central do Brasil, que exibe filmes na estação mais movimentada da cidade. Cadeiras de plástico e pipoca fazem parte da receita de sucesso que contagia os espectadores fluminenses. Já o Vale-cultura é uma ação conjunta entre o governo do Rio de Janeiro, empresas, sindicatos e produtores culturais que torna cultura acessível à praticamente toda a população. O projeto, em fase embrionária, funciona como um vale-alimentação e é distribuído por empresas credenciadas que recebem incentivos fiscais. Os projetos que aceitam esse vale podem ganham mais verbas culturais. “Ações como essas são importantes para tornar a cultura brasileira popular, e não elitista. Eu acredito que esse será o grande desafio da Ancine”, diz Paredes. Atualmente, o setor fatura R$ 400 milhões por ano e somente 10% desse total corresponde a produção nacional.

Paredes não concorda com as críticas feitas à Ancine - muita gente a vem compara ela com a Embrafilme, extinta no governo de Fernando Collor, quando havia se tornado um gigante de dívidas e maracutaias. “É completamente diferente”, pondera. “A Embrafilme era uma empresa estatal que produzia, já a agência além de ser um órgão de fomento, regula e fiscaliza o setor audiovisual, sem nenhuma atividade comercial direta”. Outra diferença, segundo ele, é a vinculação da Ancine à presidência da República, o que eleva a indústria cinematográfica a um nível de importância equivalente a outras atividades econômicas, como o setor energético.

Viva la France - Depois dos Estado Unidos, a França é hoje o país, que detém o maior porcentual de rendas de seu próprio mercado cinematográfico, com produtos nacionais - este ano, mais de 50%, por conta do sucesso estrondoso da comédia O Fabuloso Destino de Amélie Poulain. O filme foi visto por mais de oito milhões de franceses, 13% da população do país. Isso se deve, em boa parte, ao consistente sistema de financiamento da produção, que não vem nem de impostos nem de dinheiro público, e sim de uma legislação que obriga emissoras de TV abertas e a cabo a destinarem de 5 a 9% de sua renda anual para fundos de fomento. Destes fundos, que recebem também um porcentual dos ingressos dos cinemas, saem os orçamentos não só para os filmes franceses, como para as co-produções de diversos filmes asiáticos, africanos e latino-americanos.

A medida provisória que criou a Ancine não imita o melhor deste modelo francês, pois a TV aberta foi excluída de pagar uma taxa 4% sobre seu faturamento. Segundo estimativas isso significaria cerca de R$ 260 milhões por ano, dinheiro que impulsionaria a produção de novos filmes. “É incrível a falta de consciência das emissoras de televisão. Elas teriam que ser as maiores interessadas em criar uma indústria audiovisual no Brasil”, protesta Paredes. Mas a Ancine não descarta a hipótese de que seja elaborado um projeto de lei para taxar a receita das emissoras de TV. Declarações de seu presidente, o cineasta Gustavo Dahl, mostram que o tema voltará à tona após as eleições deste ano.

As emissoras não concordam com a taxação, nem com outro projeto que prevê cotas mínimas para exibição de filmes nacionais. Pelo projeto inicial do Gedic, as TVs abertas deveriam exibir pelo menos um filme nacional por semana, e os canais fechados, dois. Atualmente, a produção nacional fica com uma fatia de apenas 20% na programação. “Uma maior participação da produção brasileira na programação é essencial para fortalecer o cinema nacional no mercado interno”, afirma Dahl, que também cita os mercados de DVD e vídeo como espaços a serem melhor explorados pelo cinema brasileiro.

Além disso, as emissoras estimam um aumento de aproximadamente 12% nos custos para a compra de filmes estrangeiros devido aos impostos e à necessidade de registros criados pela Ancine. A agência espera arrecadar R$ 37 milhões com a taxação de títulos importados pelas operadoras de TV paga nacionais, redes de TV abertas, publicidade e mercado de vídeo caseiro. Cerca de 80% dessa verba virá das licenças de obras publicitárias.

Se a TV aberta reclama, a TV fechada retirou o processo que movia na justiça contra a Agência. Conforme a lei, todas as operadoras de TV paga devem colocar no ar um canal exclusivo com programação de filmes nacionais. Também vão sofrer uma taxação de 3% sobre suas remessas de lucro ao exterior. Com o acordo, as operadoras de TV por assinatura vão reverter esse prejuízo em mecanismos de fomento à produção nacional para seus canais.

Se o lobby da televisão pode conseguir barrar a taxação sobre seu faturamento, nas distribuidoras não foi tão eficiente. Uma das medidas editadas pelo governo cria a Condecine (Contribuição para o Desenvolvimento da Indústria Cinematográfica), cujo ponto principal, revê os valores das remessas de lucros de produções estrangeiras exibidas no Brasil. Até a edição da lei, os distribuidores eram taxados em 25% do valor arrecadado em bilheteria. Agora eles têm duas opções. A primeira é associar-se a um produtor nacional e obter um desconto de 70%. A segunda alternativa é não fazer nenhuma parceria, e pagar, além dos 25%, outros 11% para o Condecine. Esse aumento de impostos para exibição e distribuição de obras estrangeiras no Brasil pode se refletir no bolso do consumidor com a elevação do preço dos ingressos.


Made in Brazil - A participação de empresas estrangeiras no capital de produções nacionais reflete a nova política adotada pela Ancine: exportar o cinema brasileiro pelo mundo. Entretanto a entrada de filmes brasileiros nos principais festivais internacionais não está crescendo na mesma medida que sua produção. Este ano, por exemplo, o Brasil participou da competição oficial de apenas um dos três principais festivais do mundo, Veneza, ficando de fora da disputa em Berlim e Cannes. Acaba sendo um ciclo. “Sem a visibilidade externa, a arte brasileira não sai do isolamento, nem consegue atrair a parceria de produtores estrangeiros, e sem associações com o exterior é impossível lançar um filme lá fora”, diz Gustavo Dahl. Por isso a Ancine pretende criar uma política externa na área de audiovisual com o objetivo de exportar filmes, documentários e produções independentes para outros mercados. Dahl acentua que a agência está atenta à nova rodada de negociações da Organização Mundial do Comércio (OMC), quando poderá buscar a abertura de mercados para o filme brasileiro no exterior.

Wendel Martins

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