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Apesar
do cenário ser chamado de “arena”,
o que menos se viu no “debate” organizado
pela rede Globo em formato importado dos Estados Unidos,
foi o embate direto entre os candidatos. Cercados por
150 eleitores indecisos de várias regiões
do país, os candidatos Luiz Inácio Lula
da Silva, da Coligação Lula Presidente
(PT, PL, PC do B, PCB, PMN), e José Serra, da
Grande Aliança (PSDB, PMDB), não puderam
fazer perguntas um ao outro. Serra ainda tentou indagar
o adversário sobre questões como o reajuste
do salário mínimo para 2003, enquanto
respondia as cerca de 15 perguntas dos eleitores, mas
foi ignorado por Lula.
Os momentos mais tensos do programa, que teve média
de 36 pontos no Ibope, se restringiram a duas reclamações
de Lula sobre intervenções do adversário.
Na segunda reclamação, o candidato petista
ganhou direito de resposta, apesar de não ter
ocorrido nenhuma ofensa pessoal, para explicar a origem
do programa de progressão continuada que impede
a repetência no ensino público. Serra insinuou
que Lula seria incoerente ao condenar o programa criado
pelo educador Paulo Freire, do próprio PT.
Serra também criticou o que chamou de “arrogância”
do adversário que se apresentou como “a
única chance que o Brasil tem de fazer um novo
pacto social”. Mas se revelou excessivamente auto-confiante.“Eu
não me considero o único não. Eu
me considero o melhor”, disse o tucano, que nesse
debate defendeu as políticas do governo FHC e
continuou a tática usada nos programas eleitorais
de mostrar os problemas das administrações
petistas. Lula sorria irônico diante das provocações.
“Eu posso falar do futuro. Meu adversário
não pode porque é governo”, cutucou.
Perguntado pelo pesquisador carioca José Paulo
Gallardi Leite sobre a previdência, Luiz Inácio
Lula da Silva defendeu que nenhum aposentado pode receber
menos do que quando estava no mercado de trabalho. “No
mundo inteiro, a pessoa, quando se aposenta, ganha um
prêmio. No Brasil, ganha um castigo”, alertou
o petista. Serra replicou que só o aumentou na
arrecadação pode melhorar a aposentadoria
da população.
Lula também criticou a política social
do atual governo que gastaria anualmente R$ 3,3 bilhões.
“Nós estamos confundindo programas sociais
com esmola dada a pessoas muito pobres”, disse
ao que o tucano rebateu, garantindo que são gastos
anualmente R$ 28 bilhões na área social
e que o adversário esquecia de contabilizar os
benefícios do INSS. Lembrou que o presidente
Fernando Henrique deve receber o prêmio Mahbub
ul Haq da Organização das Nações
Unidas (ONU) pela melhora no Índice de Desenvolvimento
Humano (IDH) durante seus oito anos de governo.
O comerciante de Pernambuco José Carlos Flores
se mostrou preocupado com o tráfico de drogas.
Serra defendeu que o combate não deve esquecer
do viciado e prometeu criar 200 clínicas de recuperação
que atendam pelo Sistema Único de Saúde
(SUS). Lula criticou a idéia do adversário.
“Fica mais barato para o Estado evitar o problema
do que conbatê-lo depois”, disse.
A pergunta da empresária baiana Taíse
Santos sobre salário mínimo foi a oportunidade
de Serra de cobrar promessas mais específicas
do petista. “Parece que vai chegando a eleição
e as propostas vão ficando mais vagas quanto
a juros, salário mínimo.” Ele propôs
um aumento de pelo menos 50% em termos reais nos próximos
quatro anos e um mínimo de R$ 220 para o próximo
ano.
O tucano aproveitou a questão dos impostos em
cascata para criticar administrações petistas.
“Nas prefeituras do PT, o ISS (Imposto sobre Serviços)
e o IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano) são
o dobro do que o de outras capitais”, disse o
candidato que prometeu diminuir a carga tributária
em um ponto percentual por ano. Lula lembrou que durante
o governo FHC ela aumentou nove pontos e chegou a 36%.
Os candidatos repetiram seus slogans de campanha nas
considerações finais. Serra lembrou que
os eleitores estariam decidindo seus próximos
quatro anos na votação do dia 27 e pediu
que cada eleitor seu conseguisse mais um voto para reverter
o resultado. Lula ironizou o discurso do tucano. “Eu
não posso fazer o mesmo pedido que o Serra, porque
senão nós iremos passar os 100%”,
disse, apostando na vitória da esperança
sobre o medo. |
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