Número 2 - Ano I - Edição fechada em 21 de Novembro de 2002 Florianópolis-SC
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Plim-plim curvou-se ao Lula lá / Foto Bob Paulino - TV GloboEntre os aspectos positivos do processo eleitoral deste ano deve-se destacar o comportamento surpreendentemente imparcial e democrático das redes de televisão, principalmente da rede Globo. A emissora carioca tem um histórico de colaboração com os políticos conservadores, que vai desde ignorar a campanha Diretas Já em 1984, até só noticiar com destaque a campanha de Impeachment de Fernando Collor quando era certo que iria triunfar. Isto sem esquecer a edição do debate para o Jornal Nacional em 1989, quando o ex-presidente Collor foi beneficiado no confronto contra Luís Ignácio Lula da Silva.

A iniciativa de entrevistar os quatro principais candidatos por dez minutos no telejornal com mais audiência do país foi o primeiro grande passo da cobertura. Sem menosprezar a cobertura das outras redes, num país em que um canal de televisão tem mais audiência que todos os outros juntos, era natural que as jogadas da Globo conduzissem a cobertura jornalísticas. Mas o mais importante não foi a idéia, mas a maneira como os apresentadores fizeram as entrevistas. Os candidatos foram igualmente pressionados a explicar pontos obscuros de seus projetos políticos e situações do passado. Muito bem preparados para cada um dos encontros, Willian Bonner e Fátima Bernardes deixaram uma impressão tão boa, que o escritor Luís Fernando Veríssimo chegou a propor o nome de Bonner para presidente.

A audiência e a enorme repercussão dessas entrevistas foram o sinal verde para aumentar a cobertura de política na TV. Entrevistas em moldes semelhantes foram marcadas na Bandeirantes, SBT e Record. Além disso, houve quatro debates para a presidência e outros para os candidatos aos governos estaduais. No segundo turno, as entrevistas continuaram, mas o único debate presidencial foi o de sexta-feira, 25 de outubro, na rede Globo. Talvez para se redimir da edição que fizeram no debate de 89, o formato escolhido não deu a José Serra o confronto direto que o tucano tanto queria. Ambos candidatos ficaram em pé caminhando por uma arena e respondendo a perguntas de eleitores indecisos. O formato não convenceu porque àquela altura os candidatos já não tinham nada de novo para acrescentar. Mesmo assim muitos jornalistas como Alberto Dines consideraram o cenário em arena muito melhor que o tradicional.

O modelo de cobertura posto em prática em 2002 pode não sobreviver até as próximas eleições. Se houverem candidatos inexpressivos com alguma representação no Congresso, eles devem ter igual espaço na cobertura. Em 1998, por exemplo, o candidato Zé Maria, do PSTU participou dos debates - e foi solenemente ignorado pelos outros candidatos. Caso houvessem entrevistas nos telejornais, ele teria direito aos mesmos dez minutos que candidatos com a expressividade de Lula ou Garotinho. Nas próximas eleições talvez tenhamos uma overdose de Enéas.

Vitor de Brites

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