Número 2 - Ano I - Edição fechada em 21 de Novembro de 2002 Florianópolis-SC
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Recolhidos os panfletos, bandeiras e cartuchos de fogos de artifício deixados pelas ruas do país após a festa da eleição de Lula, é hora de olhar novamente para os resultados do primeiro turno, que definiu as bancadas no Congresso Nacional. Afinal, o governo é muito mais que o presidente, e sem uma ampla base parlamentar, será difícil Lula cumprir as promessas de reformas que convenceram tantos brasileiros a elegê-lo chefe da nação. A oposição aumentou bastante sua representação no Congresso (só o PT cresceu 56% na Câmara e 75% no Senado), mas apesar das baixas que sofreram, PSDB, PFL, PMDB e PPB ainda detêm largas fatias no Congresso. É hora de negociar.

Os partidos da coligação que elegeu Lula, somados às legendas que apoiaram Ciro Gomes e Anthony Garotinho no primeiro turno - e o PT no segundo -, somam 212 cadeiras na Câmara. É pouco em comparação com a maioria simples (50% da casa), que corresponde a 257 parlamentares, e menos ainda em relação à maioria qualificada (60%), que é composta por 308 deputados, quantidade de votos necessários para se aprovar uma emenda constitucional. No Senado, onde a maioria simples é 41 e a qualificada, 49, a situação é semelhante. A coligação de Lula (PT, PL, PC do B e PMN), o PSB de Garotinho e a coligação de Ciro (PPS, PDT e PTB) somam 30 senadores.

Carreirão prevê dificuldades para a aprovação de reformas constitucionais e sugere que petistas tentem atrair setores do PSDB / Foto: Wagner  Maia - ZeroYan Carreirão, professor do Departamento de Sociologia e Ciências Políticas da UFSC, avalia que alianças devem ser feitas para que o governo eleito consiga formar um bloco de maioria no Congresso. Ele acredita que o PV – partido que não apoiou nenhum candidato à presidência, mas que está incluído entre os partidos de esquerda e centro-esquerda – deve somar seus cinco deputados ao bloco governista. O professor também aposta na agregação dos pequenos partidos de centro e centro-direita (PSD, PST, PSC, PSDC, PSL e Prona), o que permitiria ao governo contar com mais 16 deputados e 1 senador. Mesmo assim, o bloco não atingiria sequer a maioria simples em nenhuma das casas.

“O PMDB é a chave”, diz o professor. Ele acredita que o partido, embora tenha sofrido uma racha ao dividir no apoio a Lula e Serra, é fundamental para a composição do bloco do governo. Se Lula puder contar com os 19 senadores e 74 deputados do PMDB, terá exatamente um parlamentar a mais que a maioria qualificada em ambas casas, ou seja, 50 no Senado e 309 na Câmara. Os números, assim, seriam ainda desconfortáveis para o governo.

“A reforma constitucional vai ser difícil de aprovar”, diz o professor Carreirão. E acrescenta, com ceticismo que “seria bom para o governo e para o país que o PT atraísse o PSDB”. A aliança, pouco provável, criaria um bloco governista confortavelmente composto por 61 senadores e 380 deputados. “Se o Lula está se propondo a criar um pacto social, unindo empresários, sindicatos e toda a sociedade, poderia tentar fazer o mesmo no Congresso”, avalia. A possibilidade foi considerada pelo PT logo após a divulgação dos resultados do primeiro turno. Aloizio Mercadante, o senador eleito por São Paulo, disse haver espaço para o PSDB no pacto partidário, “do qual ninguém seria excluído”.

Mas a formação de um bloco governista forte também pode ser auxiliada por um fenômeno comum na política nacional: as migrações interpartidárias. Os votos para cargos no Legislativo não contam somente para o candidato, mas também para o partido - fato que muitos eleitores só descobriram depois que o deputado federal eleito por São Paulo, Enéas Carneiro, carregou consigo mais cinco candidatos do Prona à Câmara, isto não impede que, eleito, o parlamentar se filie a outro partido. Segundo o professor Carreirão, não é tradição do eleitorado brasileiro “penalizar nas urnas” os parlamentares que trocam de partido durante o mandato.

Ele acredita que as migrações mais prováveis devem acontecer do PFL e do PPB para o PL, e do PSDB para o PPS. E atesta que, os parlamentares tentam manter um mínimo de coerência na escolha do novo partido, buscando legendas que tenham uma certa identificação com seu partido de origem. Como exemplo, cita os pefelistas que ao se filiarem ao PL não estarão abandonando a orientação liberal.

Para explicar o crescimento da oposição no Congresso, aponta uma causa básica: o descontentamento do eleitorado com o segundo mandato do presidente Fernando Henrique Cardoso. A votação para a presidência no primeiro turno foi um bom indicador dessa insatisfação: os votos dos candidatos de oposição representaram 76% do total. E essa vontade de mudar se refletiu na votação para o Congresso. Os partidos que fazem oposição a FHC ampliaram em média, 40%.

Apesar do crescimento notável da oposição, menos da metade do novo Congresso será de novos parlamentares. A taxa de renovação na Câmara foi de 47%. No Senado, correspondeu a 75% das 54 vagas disputadas, o que significa menos de 50% do total de 81 cadeiras. A maior renovação das últimas eleições aconteceu em 1990, quando apenas 37% dos parlamentares se reelegeram.

Dilson Branco

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