Um
ano e quatro meses foi o tempo necessário para
que os vereadores de Florianópolis manifestassem
interesse em conhecer e discutir o Sistema Integrado
de Transporte Coletivo (SITC), projeto que interfere
diretamente na rotina dos cidadãos da capital.
A atual legislatura começou em fevereiro de 2001
e apenas em maio de 2002 foi solicitada a realização
de audiência pública ao Núcleo de
Transportes, instituição ligada à
Prefeitura e responsável pela implantação
do sistema. “Somos representantes do povo e fico
constrangido de dizer numa entrevista do nosso desconhecimento
dessa matéria. A Câmara falhou, deveria
ter despertado antes para a importância do tema”,
reconhece o vereador e deputado federal eleito, Mauro
Passos (PT). A maioria dos vereadores não teve
nenhum tipo de contato com os detalhes do projeto antes
da audiência pública, que ocorreu em junho
de 2002.
Acácio Garibaldi (PSDB), líder do governo
na Câmara, único vereador a participar
das reuniões semanais na prefeitura sobre o Sistema
Integrado por ser o líder da bancada situacionista,
justifica a posição dos vereadores. “Nossa
função é fiscalizar e fazer leis.
Não podemos interferir em projetos técnicos,
como o do Sistema Integrado. Isso é determinação
do Executivo”, diz Garibaldi. O vereador faz as
afirmações baseado na lei complementar
34, aprovada pela Câmara de Vereadores em fevereiro
de 1999, que determina que os projetos municipais relativos
ao transporte coletivo passam para a alçada do
Executivo. Cabe exclusivamente à Prefeitura planejar
e controlar os transportes, com poder para mudar a estrutura
dos sistemas, aumentar tarifas e determinar horários.
Tudo feito por decreto ou decidido por resoluções
administrativas que circulam apenas no próprio
Executivo.
Desinformação
- Não cabe à Câmara, portanto, intervir
na elaboração do projeto. Isso não
justifica, no entanto, desinteresse e falta de informação
sobre tema tão relevante por parte dos homens
eleitos e pagos para defender os interesses do cidadão
– e contribuinte. “Quem não quer
discutir diz que não é da alçada
do Legislativo, mas como é tema que mexe com
a vida das pessoas tem que ser tratado na Câmara”,
provoca o vereador Mauro Passos. “A Câmara
é conivente com os interesses das empresas. Os
vereadores foram omissos por desconhecer os detalhes
do projeto”, acusa Ricardo Freitas, assessor do
Sindicato dos Trabalhadores do Transporte Coletivo Urbano
de Florianópolis e Região (Sintraturb).
O vereador Aloísio Piazza (PMDB), autor do requerimento
que marcou a primeira audiência pública,
diz que, por causa do desconhecimento dos seus colegas
sobre o SITC, ao final da primeira audiência,
foi marcada uma segunda. O tema da primeira discussão,
realizada na Comissão do Trabalho e Legislação
Social em conjunto com a Comissão de Viação,
Obras Públicas e Urbanismo, nem era o de um sistema
integrado, mas um dos detalhes que ele modifica: o da
instalação das catracas eletrônicas.
A grande quantidade de informações trazidas
pelos técnicos do Núcleo de Transportes
e o desconhecimento dos vereadores sobre elas foi o
motivo da reunião seguinte.
O vereador Acácio Garibaldi contesta a versão
de que os vereadores estão mal informados. “Nunca
foi negado direito à informação.
Foi dada ampla publicidade ao projeto. Aconteceram várias
audiências em que o Executivo sempre esteve presente,
através do Núcleo de Transportes. O Sistema
não foi posto por goela abaixo de ninguém.
Quem solicitou esclarecimentos, teve”, diz.
Nildomar Freire, o Nildão (PC do B), concorda
que faltou informações para os vereadores
e reclama também da falta de discussão
nas comunidades. “Se não existe possibilidade
de participação na elaboração
por parte dos usuários de ônibus, pelo
menos que se explique, com reuniões, de forma
bem descentralizada, em vários bairros”,
diz.
O Sistema – Sobre o Sistema em
si, Mauro Passos, diz que um novo sistema de transportes
para a cidade só faz sentido se beneficiar o
usuário. “Tem ser melhor, mais barato ou
mais rápido. Se não for assim, não
adianta para a população. S povo não
ganha, ganha o outro lado, o das empresas. Alguém
tem que lucrar”. Passos argumenta que se o Sistema
Integrado de Transporte Coletivo fosse bom, teria sido
implantado antes das eleições. “Sempre
se ganha politicamente com uma obra desse tamanho.”
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