Número 3 - Ano I - Edição fechada em 13 de Dezembro de 2002 Florianópolis-SC
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Guilardi aguarda um modelo semelhante ao de Caxias e Chapecó / Foto: Wagner Maia - ZeroAlém da sociedade não ter garantias de que o novo sistema de transporte público de Florianópolis trará benefícios, cobradores e motoristas temem que ele possa causar desemprego. Sindicalistas prevêem que a instalação de catracas eletrônicas, diminuição da frota e utilização de ônibus maiores vão causar cerca de 500 demissões. Exemplos de cidades como Chapecó e Caxias do Sul (RS), no Rio Grande do Sul, mostram que é possível modernizar o transporte público evitando o desemprego e até criando novos postos de trabalho. Os motoristas e cobradores de Florianópolis lutam por isso.

O decreto 1636, publicado pela prefeita Ângela Amin em 18 de outubro, proíbe “a demissão de cobradores, no serviço regular ou convencional, quando o veículo estiver em controle eletrônico de bilhetagem”. É uma garantia importante, mas ainda insuficiente, segundo o Sindicato dos Trabalhadores do Transporte Coletivo Urbano de Florianópolis e Região - Sintraturb. Os sindicalistas questionam até quando essa legislação terá vigência; por que não foi criado um projeto de lei, e sim um decreto que pode ser cancelado a qualquer momento, e que garantias serão mantidas para a categoria.

O volume da voz do administrador do Setuf (Sindicato das Empresas de Transporte Urbano de Passageiros de Florianópolis), João Savas, fica mais alto quando se tenta conversar sobre o possível desemprego de cobradores e motoristas. “Esse assunto de demissões para nós não existe, não sei por que o pessoal gosta tanto de falar disso”, protesta. Ele baseia-se no decreto da prefeitura para garantir que “o novo sistema não vai causar demissões”.

Segundo cálculos do sindicato, a catraca eletrônica não é a única ameaça aos empregos. Julcemar Guilardi, diretor de Imprensa e Comunicação do Sintraturb, diz que para o novo sistema conseguir desafogar o trânsito da capital, a nova frota terá 60 ônibus a menos que a atual. Em cada veículo trabalham três cobradores e três motoristas, cada um num turno de 06h40 minutos por dia. Com a diminuição prevista, 360 profissionais ficariam desempregados.

Outra questão levantada pelo Sintraturb está relacionada aos novos ônibus articulados e biarticulados que estão previstos para ser adotados no sistema. Os primeiros, que hoje já são utilizados na linha Expresso, entre o centro e a UFSC, levam o mesmo número de passageiros que dois ônibus normais. Os biarticulados, três. No primeiro caso, seis profissionais por dia conduzem o número de passageiros que, em dois ônibus normais, exigiriam o dobro, seguindo a mesma lógica. Nos biarticulados, seis trabalhadores por dia rendem o mesmo que 18 trabalhando em ônibus convencionais. Resumindo: para cada ônibus biarticulado, há 12 desempregados em potencial; para cada novo articulado, são seis.

“Você pode ter certeza que as projeções do Sintraturb não são confiáveis, porque somos nós que fazemos o planejamento”, diz Rodolfo Philippi, engenheiro do Núcleo de Transportes da Prefeitura,. Ele afirma que não há previsão de uso de ônibus biarticulados e que só em janeiro será o núcleo anunciado o tamanho da nova frota e quantos ônibus biarticulados serão usados. “O novo sistema não necessariamente vai reduzir a frota. Vai racionalizar seu uso”, prevê Philippi.

Onde deu certo
- Em Caxias do Sul, ao invés de desemprego, o novo
sistema de transporte coletivo gerou contratações. Conforme Juliano de Ros, diretor técnico da secretaria de transportes da cidade, o modo como as linhas foram integradas permitiu um aumento na frota de ônibus e, conseqüentemente, dos empregos de motoristas e cobradores. O sistema da cidade gaúcha não é baseado em terminais de integração. Na mesma lei, de 1999, que determinou a licitação pública para instalar o novo sistema, foi garantido que nos ônibus que operassem com catraca eletrônica haveria necessariamente dois profissionais, o que garantiu o emprego aos cobradores, agora chamados de “auxiliares operacionais”.

Em Chapecó, distante 576 quilômetros de Florianópolis, não houve aumento de vagas, mas as catracas eletrônicas também não causaram desemprego. Assim como em Caxias do Sul, os cobradores tiveram o emprego garantido por decreto e foram transformados em “auxiliares de bordo”: orientam o uso do cartão, controlam entrada e saída de passageiros e auxiliam motorista, gestantes, idosos e deficientes físicos. As catracas eletrônicas já foram instaladas em 60% da frota de Chapecó. O novo sistema viário da cidade ainda está em fase de estudo.

Luta - Julcemar Guilardi é o representante do Sintraturb no Conselho Municipal de Transportes, do qual também participam o Setuf, entidades comunitárias, IPUF e Câmara de Vereadores. Segundo ele, o discurso dos representantes das empresas tem mudado nos últimos meses. Guilardi diz que quando o projeto foi anunciado, as demissões eram dadas como inevitáveis, mas agora as empresas admitem que é necessário remanejar para outras funções os trabalhadores que seriam demitidos.

Um dos motivos desta conscientização seria a campanha que o sindicato está promovendo desde junho. Por meio de reuniões com comunidades, debates, participação em audiências públicas e publicação do Jornal do Ônibus, os envolvidos com a campanha pretendem discutir o futuro do transporte coletivo e convencer sociedade e autoridades de que é importante manter o emprego dos 3,4 mil trabalhadores do setor em Florianópolis. “Não vamos abrir mão de nenhum posto de trabalho”, avisa Guilardi.


Dilson Branco

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