Número 3 - Ano I - Edição fechada em 13 de Dezembro de 2002 Florianópolis-SC
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D'Acâmpora fala como funcionará as linhas de ônibus e novos terminais / Foto: Wagner Maia - ZeroFlorianópolis parece ter sido finalmente alçada à posição de grande centro urbano. Seguindo o exemplo de Curitiba, Fortaleza, Belo Horizonte e outras cidades catarinenses como Blumenau e Joinville, a capital terá, a partir de março de 2003, um Sistema Integrado de Transporte. Nome pomposo, que prevê a doação de catracas eletrônicas, terminais interligados, frota nova – mas as semelhanças com os outros sistemas param por aí. Sem nunca ter tido um plano diretor de transportes, Florianópolis vai integrar apenas as linhas de ônibus, e ainda assim, de maneira parcial. Um exemplo disso, é o fato de que a capital, ao contrário de 90% das cidades brasileiras que utilizam o sistema, não terá uma tarifa única.

O transporte integrado, que estava previsto para ser implantado ainda em 2002, tem o objetivo de racionalizar o uso dos ônibus, desafogando o centro da cidade e oferecendo ao usuário mais opções de viagens, sem que tenha de passar pelo centro da cidade, além da possibilidade de trocar de veículo em uma mesma região pagando uma única passagem. A idéia é fazer com que os florianopolitanos deixem seus carros em casa e tornem-se usuários do transporte coletivo, tarefa complicada em uma cidade onde existem dois habitantes para cada automóvel. “É impossível resolver o problema do trânsito em Florianópolis somente com obras de engenharia, há necessidade de se mudar hábitos provincianos, como a cultura do automóvel”, justifica Francisco de Assis Filho, secretário municipal de Transportes e Obras.

Faltando poucos meses para ser implantado, o novo sistema ainda é cercado de mistérios, mesmo na prefeitura. Enquanto os técnicos do Núcleo de Transporte definem o tipo da tarifa, é impossível garantir que ela será mais barata. Boa parte da população, superficialmente informada pela mídia, não sabe como o sistema vai funcionar - e nem que servirá para incrementar o negócio das empresas de ônibus.

Como será o sistema - Atualmente, todas as linhas convergem para o centro da cidade e se concentram em corredores como o da avenida Mauro Ramos, por onde passam, em média, 1,7 ônibus por minuto. Com o novo sistema, haverá uma descentralização, pois os ônibus sairão de sete terminais espalhados pela ilha e de dois no continente. Esses terminais estão localizados, além do centro, nos bairros: Trindade, Santo Antônio de Lisboa, Lagoa da Conceição, Rio Tavares, Saco dos Limões, Canasvieiras, Capoeiras e Jardim Atlântico (estes dois últimos no continente).

Os terminais vão conectar o centro com os bairros e com outros terminais. Por exemplo, o de Canasvieiras vai receber passageiros vindos de outros lugares do norte da ilha, para que possam ir até o outro terminal, como o central ou da Trindade, ligados a outros terminais. O sistema tem o objetivo de facilitar a vida de quem precisa tomar duas linhas ônibus diariamente – cerca de 21% dos passageiros de Florianópolis.

O projeto prevê a existência de 131 linhas, divididas em quatro tipos: principais, complementares, alimentadoras e periféricas. As linhas principais farão o trajeto de qualquer terminal até o centro da cidade, em viagens que podem ser expressas (sem paradas), semi-expressas (com passagem por outro terminal), ou paradoras (parando sempre que for necessário).

As linhas complementares deverão ligar um terminal a outro e serão do tipo circular ou paradora. No caso de Capoeiras e Jardim Atlântico, a ligação entre os dois terminais poderá ser feita pelo continente ou pelo bairro Abraão; o trajeto do Centro até a Trindade, através do Pantanal ou da Carvoeira; o terminal de Canasvieiras, por exemplo, terá ligação direta com o de Santo Antônio de Lisbôa.

Já as linhas alimentadoras vão recolher os passageiros dos bairros e concentrá-los no terminal de cada região; do mesmo modo, são estas linhas que vão distribuir pelos bairros os passageiros que chegam aos terminais. Por exemplo: para você ir até Ingleses, deverá tomar uma linha expressa de qualquer terminal até Canasvieiras, para então pegar uma linha alimentadora para Ingleses. No sistema atual, o ônibus que vai para os Ingleses sai do terminal central e faz paradas ao longo do percurso.

As linhas periféricas farão os trajetos usuais como o das escolas, além do Madrugadão, Volta ao Morro, UFSC – Centro, e linhas circulares norte e leste, bem como as ligações Canasvieras-Daniela e Ingleses-Rio Vermelho.

Todos os terminais estão interligados, mesmo que indiretamente. Por exemplo, não existirá uma linha que vai unir diretamente os terminais de Canasvieiras e Lagoa da Conceição, mas o usuário poderá fazer o trajeto passando pelo terminal da Trindade. “A união entre terminais se dá conforme a proximidade, mas é possível que surjam novas linhas, sempre que houver uma demanda que justifique sua implantação”, prevê Luiz D’Acâmpora, gerente do Núcleo de Transporte, órgão diretamente ligado ao gabinete da prefeita Ângela Amin.

Rodolfo Philippi, engenheiro do Núcleo, argumenta que a localização dos terminais é resultado de dez anos de estudos, e estão tecnicamente corretas, já que a lógica do sistema é reunir os passageiros no ponto de cruzamento das estradas. No norte da ilha, as estradas se cruzam no trevo do Ilha Shopping, ou seja, Canasvieiras seria o local ideal para a fixação do terminal. “A prefeitura até tinha terrenos ideais para a construção dos terminais, mas não serviam para o sistema integrado. Então, foi necessária a desapropriação de terras”, explica Philippi. No caso da construção do terminal do Rio Tavares, a prefeitura teve problemas com um morador que não queria deixar o local. Segundo o IPUF (Instituto de Planejamento Urbano de Florianópolis), a questão foi contornada com o pagamento de indenização a “preço de mercado”.

Em decorrência da renovação dos veículos, da troca de ônibus comuns por articulados e do melhor aproveitamento das linhas, o Núcleo de Transporte adianta que haverá uma redução da frota atual - que é de 413 ônibus, sem contar os micro-ônibus conhecidos como “amarelinhos”. Não informa, entretanto, qual será a porcentagem da diminuição, mas estima-se que seja de ao menos 10%. Haverá um aumento de veículos pesados e articulados. Dos atuais oito, que servem à linha expressa, estão previstos 40 ônibus articulados, 23 já comprados.

Um projeto dessas proporções não seria barato. Conforme dados da Secretaria de Transportes e Obras, o custo total do sistema foi de R$ 78 milhões, divididos entre prefeitura, Bndes e iniciativa privada. Foram três as etapas do financiamento. Primeiro, foram necessárias obras de adequação da estrutura viária, como a construção dos elevados do CIC e Rita Maria, o asfaltamento de corredores, vias e sistema de monitoramento de semáforos. A prefeitura precisou entrar com R$9 milhões de recursos próprios para poder receber R$18 milhões do Bndes, e assim poder realizar a primeira etapa. Depois vieram os custos com a construção de terminais, a cargo da iniciativa privada e por fim, a aquisição da nova frota pelas empresas de ônibus – também subsidiadas pelo Bndes.

Mariana Faraco

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