Número 3 - Ano I - Edição fechada em 13 de Dezembro de 2002 Florianópolis-SC
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O protótipo de Porto Alegre adotado na Indonésia / Imagem: Aeromovel SystemA implantação do novo Sistema Integrado de Transporte Coletivo deve acabar com boa parte dos problemas do transporte coletivo em Florianópolis nos próximos vinte anos, mas peritos da área, como o professor Carlos Campos, do curso de Arquitetura da UFSC, já planejam substituir os ônibus por uma tecnologia de maior capacidade de locomoção. A sugestão do perito é que se use a tecnologia do aeromóvel desenvolvida pela Faculdade de Engenharia Industrial de Porto Alegre. O sistema é mais barato e menos poluente que os convencionais e pode transportar mais de 27 mil pessoas por hora. Para Campos “seria a solução definitiva dos problemas de transporte coletivo em Florianópolis”.

Os aeromóveis são espécies de trens que trafegam por vias elevadas e funcionam pelo mesmo princípio dos barcos à vela. Os vagões não têm motores e andam em trilhos sobre um túnel de vento, sendo que cada vagão possui uma “vela” metálica voltada para baixo que impulsiona o aeromóvel adiante. O vento necessário para impulsionar o sistema é criado por motores espalhados ao longo do trajeto. A velocidade é controlada pelos operadores desses “grandes ventiladores”, portanto não existem motoristas.

Limpo, barato e eficiente - O professor Campos vê diversas vantagens no sistema sobre os meios de transporte convencionais disponíveis no mercado. “O aeromóvel tira os veículos coletivos do tráfego e como as vias são elevadas, quase não há gasto com desapropriações - até as estações são elevadas. Além disso, custa entre US$ 5 e US$ 7 milhões por quilômetro, enquanto os sistemas de monotrilho (como o “fura-fila”que começou a ser implantado por Celso Pitta em São Paulo) custa entre de US$15 a US$20 milhões e sistemas de trens e metrô não saem por menos de US100 milhões e são grandes demais para uma cidade do tamanho de Florianópolis. O veículo pode ser manobrado o suficiente para virar uma esquina e sobe inclinações de até 12 graus”, compara.

Como são mais leves, os aeromóveis precisam de viadutos menores para trafegar e usam uma estrutura que causa poucos danos ao meio ambiente. Ideal para uma cidade como Florianópolis, com mangues, restingas e dunas - ecossistemas frágeis, que não seriam prejudicados com novas rotas de transporte. Além disso, as obras necessárias não causam transtornos porque toda a estrutura é pré-fabricada e os motores são não-poluentes, pois substituem os combustíveis fósseis por energia elétrica.

Um sistema com seis estações e cerca de 18 quilômetros poderia integrar toda a região central da cidade passando pela Beira-Mar, UFSC e terminais do Saco Grande e da Agronômica em viagens de até sete minutos a um custo aproximado de US$ 90 milhões, quase três vezes o que vai custar a implantação do novo sistema integrado. “É mais caro, mas uma vez investido esse dinheiro a manutenção do sistema é muito mais barata que a atual e não seria preciso investir muito mais em transporte”, diz o especialista.

Projeto enfrenta lobbys - Se o aeromóvel for realmente utilizado na próxima reforma do sistema de transporte, deve substituir os ônibus expressos entre terminais na parte central - que reúne 73% dos usuários. Embora não substitua completamente os ônibus, Campos diz que os empresários regionais do setor fazem lobby contra s implantação desse tipo de tecnologia. “É um erro, eles poderiam participar do processo de implantação e continuar lucrando com o novo sistema”. Para Campos a idéia de usar o princípio do barco a vela sobre trilhos é fantástica, simples e eficiente, mas também bate de frente com o interesse de empresas poderosas como a petrolífera e automotiva.

Como se isso não fosse o bastante, o sistema ainda teria de lutar contra a noção de que se foi desenvolvido no Brasil, não presta. “Eu falo com técnicos do setor, mas eles não acreditam, dizem que se funcionasse, já estava na rua” critica. No Brasil só foi construída na década de 80 a linha experimental entre a usina do Gasômetro e a Secretaria da Fazenda em Porto Alegre, mas a tecnologia já está sendo exportada antes de ser usada comercialmente no país. Em apenas oito meses, foi construída uma linha contornando o centro de Jacarta (capital da Indonésia), construído em torno de um pântano. Talvez se os americanos tivessem desenvolvido a tecnologia, estaríamos mais perto de implantá-la.

Vitor de Brites

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