Número 2 - Ano I - Edição fechada em 21 de Novembro de 2002 Florianópolis-SC
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Saddam Hussein e George Walker Bush ainda se preparam para a guerra mas já atacam um inimigo comum: a imprensa. O governo do Kuwait, aliado dos Estados Unidos, fechou, no dia 03, a sucursal local da rede de televisão Al-Jazeera, alegando que o canal não é objetivo. O comunicado foi feito por telefone pelo ministro da informação ao chefe do escritório local, jornalista Saad al Enezi, que sequer sabe se a medida é provisória ou permanente. A programação autêntica conquistou cerca de 40 milhões de telespectadores e transformou a Al-Jazeera na rede de maior audiência do Oriente Médio, atingindo, via satélite, uma longa faixa de vai de Damasco a Hong-Kong. Thomas Friedman, colunista do The New York Times, em março de 2001, definiu que “não é somente o maior fenômeno de mídia no mundo árabe desde o advento da televisão, é também o maior fenômeno político”.

Perseguição - A Al-Jazeera está acostumada ao cerceamento. É impedida de operar em Bahrain e Jordânia. Em 1999, o emir do Kuwait Jaber al-Ahmed al-Sabah proibiu, durante um mês, a estação de produzir reportagens no país porque um iraquiano o insultou pelo telefone em um programa ao vivo. Yasser Arafat fechou temporariamente a sucursal da emissora em Ramallah por conta de uma propaganda de um documentário sobre a guerra civil libanesa. Em abril do ano passado, um tribunal civil penalizou a emissora com uma multa de US$ 1.650 por ter publicado comentários ofensivos a cidadãos kuwaitianos. A condenação, porém, foi derrubada em instância superior.
Foto: AP Photo / Al Jazeera TV
Foto: AP Photo / Al Jazeera TV
Foto: AP Photo / Al Jazeera TV

Desde que foi fundada em 1996, a Al-Jazeera motiva a emissão de mais de 100 reclamações oficiais por ano de países árabes aos diplomatas do Qatar, país sede da emissora. Kuwaitianos dizem que a cobertura jornalística é favorável aos iraquianos. Sauditas insistem que os programas são anti-islâmicos. Por conta de programas da Al-Jazeera, Líbia e Tunísia chegaram a retirar seus embaixadores temporariamente de Doha, capital do Qatar. Até o governo do Líbano, mais acostumado com a imprensa livre, também não gostou quando a emissora entrevistou Roger Hatem, membro das Forças Cristãs Libanesas.

Fora do mundo árabe, os americanos são os maiores críticos. Oficiais do país pediram ao emir do Qatar, Hamad bin Khalifa al-Thani, que usasse seu poder para controlar a Al-Jazeera, numa conferência de imprensa em Washington no ano passado. No contexto dos atentados de 11 de setembro, o governo Bush acusou a Al-Jazeera de imparcialidade e anti-americanismo; disse que as repetições de entrevistas com Osama Bin Laden estariam estimulando sentimentos fundamentalistas e propagando códigos secretos que levariam a novos ataques terroristas. Além disso, condenou a emissão de uma notícia supostamente não confirmada sobre a captura de soldados americanos por guerreiros Talibã. Ahmad Sheik, um dos editores de telejornalismo da Al-Jazeera, se surpreende com a reação americana: “Porque vem dos Estados Unidos, que se considera o maior defensor da liberdade de expressão, isso é muito estranho, e inaceitável”.

Dilson Branco

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