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Cansados
da guerra civil que já dura mais de 40 anos, e de grupos
armados e guerrilhas ligados ao narcotráfico sequestrando
intensamente, os colombianos provaram, nas eleições
de 26 de maio, que não têm mais paciência
para aturar negociações de paz que não
funcionam. Por isso, elegeram, no primeiro turno, um candidato
direitista e de passado suspeito: o “linha-dura”
Alvaro Uribe de 49 anos.
Uribe anunciou, desde o início da candidatura, que não
vai dar trégua para a guerrilha, e que somente ele tem
a força e as idéias para combatê-la. Antes
de ser eleito, já falava em pedir mediação
internacional para os alarmantes problemas da Colômbia.
“Segurança significa ordem e liberdade. Se usam
o terrorismo, os enfrentamos. Se o abandonam, dialogamos. Creio
no diálogo, mas isso não significa que abraçarei
delinqüentes.”
O ex-presidente, Andrés Pastrana, passou os últimos
quatro anos negociando com os guerrilheiros e chegou a ceder
territórios para as FARC (Forças Armadas Revolucionárias
da Colômbia, principal organização do gênero).
Desistiu depois de perceber que os rebeldes não estavam
interessados no processo de paz. Foi nesse clima de desânimo
que surgiu Uribe surgiu com sua proposta de não negociar
com guerrilheiros, mas tentar combatê-los à força,
numa demonstração de autoridade que, acredita
ele, é o que falta ao governo.
Suas propostas chamaram a atenção da população
amedrontada com tanta violência e forçada a conviver
com atentados diários contra sua liberdade. Uma pesquisa
realizada antes das eleições pela revista
Semana mostrou que 64% dos colombianos acreditam que a
guerrilha pode ser derrotada militarmente. O fracasso do governo
de Pastrana e as ações de enfrentamento das Farc
seriam, portanto, fatores responsáveis pelo avanço
de Uribe.
Triste realidade - A guerra civil
na Colômbia, iniciada nos anos 60, vive sua fase mais
sangrenta, após a ruptura do processo de paz com as FARC
em fevereiro. O narcotráfico, que nos anos 80 desestruturou
as instituições do país e trouxe uma onda
de violência sem precedentes, acabou incorporado à
guerra, como meio de financiamento dos grupos rebeldes e paramilitares,
alimentando ainda mais o conflito.
A Colômbia ainda atravessa a mais grave crise econômica
desde 1930, tem o título de “país campeão
de seqüestros”, com uma média anual superior
a três mil crimes desse tipo, uma multidão de três
milhões de refugiados internos pelo conflito (quase 7%
da população) e um fluxo cada vez mais intenso
de pessoas e empresas rumo ao exterior – só no
primeiro trimestre deste ano 54 mil colombianos já deixaram
o país.
Neste momento duas mil pessoas encontram-se sequestradas no
país – entre elas, Ingrid Betancourt, senadora
e ex-candidata à presidência, refém das
FARC. Entre janeiro e março, pelo menos 128 pessoas morreram
em 23 massacres, e 42 autoridades e líderes comunitários
foram assassinados. Lutando contra as tropas do governo e os
paramilitares de direita, as FARC matam em média 3.500
pessoas por ano. Foi nesse contexto que muitos viram em Uribe
uma esperança para a solução dos problemas.
Inclusive, o governo dos Estados Unidos. O presidente americano
George Walker Bush só não manifestou abertamente
seu apoio a Uribe por pressões do Congresso e divergências
no Departamento de Estado americano. Porém o apoio, não
explícito, existiu antes, durante e depois de Uribe ser
eleito o novo presidente da Colômbia, com 53% dos votos
válidos. A perspicácia, do então candidato,
em classificar as guerrilhas colombianas de organizações
terroristas caiu agradou os irmãos do norte. Consumidores
de 90% de toda a cocaína produzida na Colômbia,
os EUA sempre insistiram em vincular a guerrilha ao narcotráfico.
Em 2000, aprovaram o controverso Plano Colômbia, que destina
US$ 1,3 bilhão para o combate do tráfico de drogas.
O plano, até agora, não teve grandes resultados,
mas a Colômbia tornou-se o terceiro país que mais
recebe ajuda americana. Com os empréstimos, em apenas
um ano, sua dívida externa dobrou, atingindo US$ 34 bilhões.
Adversários de Uribe - Entre
os defensores dos direitos humanos, as propostas de Uribe causaram
revolta. Uma de suas idéias é duplicar os efetivos
do exército e da polícia. O novo presidente pretende,
ainda, criar uma rede nacional com um milhão de delatores
para combater a guerrilha nos bairros e nas zonas comerciais.
Tudo isso terá um custo enorme, num país que já
gasta 12,5% do orçamento com defesa e segurança,
enquanto a educação consome 4,4% e a saúde,
míseros 1,7%.
Os gastos, contudo, não devem ser uma das preocupações
de Uribe, uma vez que, ao que tudo indica, terá auxílio
financeiro e militar dos EUA. Especialistas acreditam que os
grupos guerrilheiros – FARC, Exército de Libertação
Nacional (ELN) e paramilitares de direita – atrapalham
os interesses americanos, que equiparam a ação
dos guerrilheiros colombianos ao terrorismo internacional. A
“caridade” americana seria, nesse caso, desculpa
para intervir nos conflitos.
Passado obscuro - Alvaro
Uribe é acusado de ter envolvimento com os paramilitares
de direita, apesar de já tê-lo negado publicamente.
Entre 1995 e 1997, como governador do estado de Antioquia, patrocinou
grupos de cidadãos armados acusados por críticos
do governo acusam de terem ligação com a guerrilha.
A região oeste do Estado sofria, desde os anos 80, com
disputas constantes entre produtores rurais e sindicatos de
trabalhadores e com a interferência de narcotraficantes,
grupos guerrilheiros e paramilitares. Ao assumir o governo,
Uribe criou mais de 70 cooperativas privadas de segurança,
chamadas Convivir, que foram uma de suas bandeiras como governador,
impulsionando-o no imaginário popular como aquele que
poderia pôr fim à guerrilha. Mais tarde, porém,
as Convivir foram acusadas de serem embriões de grupos
paramilitares. Apesar de sempre ter negado essas acusações,
Uribe não conseguiu fugir do estigma de “candidato
paramilitar”.
Também pesam contra ele acusações de ter
mantido ligações com o narcotráfico. O
jornalista americano Joseph Contreras lançou, apenas
uma semana antes das eleições da Colômbia,
uma biografia não-autorizada de Uribe que denuncia um
suposto acordo, entre o ele o “chefão” do
narcotráfico Pablo Escobar. O plano era capitalizar,
como se fosse um projeto da prefeitura, a construção
de casas populares, promovida pelo narcotraficante então
em campanha para o congresso. Uribe nega tudo e acusa Contreras
de ter escrito o livro com motivações eleitorais.
Em março, expulsou Contreras de uma entrevista, após
ser questionado sobre parte das denúncias, afirmando
que não aceitava que correspondentes estrangeiros viessem
à Colômbia para lhe fazer esse tipo de pergunta.
Sua recusa em falar do assunto não impede que se divulguem
informações contra ele. Quando o seu pai foi assassinado
em 1983, supostamente por guerrilheiros das Farc, Uribe pediu
emprestado a Escobar um helicóptero para chegar à
fazenda da família. Também é acusado de
ter fornecido licenças de piloto para integrantes do
cartel de Medellín, quando dirigiu a Agência de
Aeronáutica Civil da Colômbia, nos anos 80. |
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