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JORNALISMO
- UFSC
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O
Brasil passou a integrar o Plano Colômbia, habilitando-se
a receber verbas do governo americano para o combate ao narcotráfico.
“O Plano Colômbia não existe mais no papel,
na forma em que foi inicialmente concebido” assegurou
Asa Hutchinson, diretor da DEA, ao jornal colombiano El
Tiempo. “A ajuda estadunidense para a Colômbia
figura agora em um novo pacote chamado Iniciativa Regional Andina”,
diz “que inclui também Peru, Bolívia, Equador,
Venezuela, Panamá e Brasil”. Conforme o Departamento
de Estado americano, no final de dezembro do ano passado, o
Congresso aprovou uma verba de US$ 660 milhões para “operações
antinarcóticos na América Latina”, que deverá
ser distribuída entre os sete países. Hutchinson
informa ainda que o Plano Colômbia, da forma como está
sendo administrado, está recebendo críticas no
Congresso, por uma aparente falta de resultados. Para ele, o
maior êxito até agora foi no plano judicial, onde
o sistema de justiça criminal colombiano beneficia também
os EUA.
O Plano Colômbia, criado em 1999 pelo presidente Andrés
Pastrana, é apresentado como uma operação
internacional de combate ao narcotráfico e pacificação
do país. Através de uma estratégia essencialmente
militar, estão previstos investimentos globais de US$
7,55 bilhões, financiados pelos EUA, Japão, cerca
de 20 países da União Européia e a própria
Colômbia. A efetivação do plano começou
em julho de 2000, com a aprovação, no Congresso
americano, de uma ajuda de cerca de US$ 1,3 bilhões,
sendo US$ 938 milhões destinados para a Colômbia
e US$ 382 milhões para outros países da região.
A maior parte desse dinheiro, cerca de U$ 1,1 bilhão,
segundo fontes do Departamento de Estado americano, será
destinada à guerra. O apoio também inclui a concessão
de aviões e helicópteros. A etapa seguinte do
processo prevê mais US$ 625 milhões para sustentar
os programas, além de “proporcionar treinamentos,
equipes e apoio de inteligência às Forças
Armadas colombianas”. Em outubro de 2000 a União
Européia concedeu US$ 300 milhões para “apoiar
os esforços de paz do governo Pastrana”.
O combate às forças guerrilheiras e aos paramilitares
também ganhou nova conotação, desde que
foram considerados forças terroristas pelos EUA e, depois
dos atentados de 11 de setembro de 2001, pela União Européia.
As Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia
(FARC) e o Exército de Libertação Nacional
(ELN) já eram considerados terroristas pelos americanos
desde 1997 e, no início deste ano, foi incluída
a Autodefesas Unidas da Colômbia (AUC), mais conhecidos
como paramilitares. No início de junho, a União
Européia, também designou as FARC como organização
terrorista internacional.
No final de julho, a Câmara dos EUA deliberou que a ajuda
anti-drogas seja usada também para o combate às
organizações consideradas terrorristas. A lei
menciona a FARC, ELN e paramilitares. Foi aprovado um pacote
especial de US$ 35 milhões, sendo 25 milhões para
prevenção de seqüestros, quatro milhões
para reforçar a polícia e seis milhões
para iniciar um programa de proteção do oleoduto
nacional colombiano. No entanto, o próprio congresso
aponta para a possibilidade de que a ajuda estadunidense saia
do controle, e que a Colômbia se envolva em uma guerra
similar à do Vietnã. O pacote deve ser aprovado
pelo Senado.
Álvaro
Uribe, presidente eleito da Colômbia (assume dia 7 de
agosto), apresentou seu Programa de Defesa, mas não explicou
como vai obter o financiamento. Ele pretende duplicar os efetivos
das forças armadas e policiais. Enquanto no exército
passariam de 50 para 100 mil homens, na polícia passariam
de 100 para 200 mil homens. Além disso, o futuro presidente
pretende a adesão de um milhão de ativistas, dispostos
a atuarem em frentes de segurança nos bairros e nas zonas
comerciais - não sendo proibidos de usar armas legalmente
adquiridas. Uribe também quer criar o “Dia da Recompensa”:
toda pessoa que ajudou a força pública a evitar
um ato de guerrilha ou capturar seus responsáveis, receberá
uma gratificação do governo na segunda-feira seguinte.
Atualmente, os gastos do governo colombiano com defesa e segurança
ficam apenas em segundo lugar, tomando 12,5% do orçamento
público. Perde apenas para o pagamento da dívida
externa, que representou 36,9% do gasto público em 2001,
enquanto a educação obteve investimentos de 4,4%
e a saúde 1,7%. Quando Uribe anunciou seu novo plano
de defesa, declarou que seriam necessários US$ 1 milhão
de dólares por ano para o seu financiamento. Questionado
sobre as fontes de arrecadação, o então
candidato, sinalizou que parte dele poderia ser obtido com impostos,
mas conforme observadores, “as despesas militares cresceriam
tanto, que não poderiam ser facilmente cobertas por aumentos
de impostos ou cortes em outras despesas”.
Estratégia militar - As
ações militares no combate ao narcotráfico
não se resumem à Colômbia. Os EUA montaram
em território sul-americano e em ilhas próximas,
nos dois últimos anos, um cordão de 20 guarnições
militares, divididas entre bases aéreas e de radar, a
um custo estimado de US$ 337 milhões, abrigando ao todo
1,5 mil soldados. Eles comandam três bases aéreas
na região: Manta, distante 320 quilômetros da Colômbia,
Rainha Beatrix (em Aruba) e Hato (em Curaçao), ambas
situadas na costa da Venezuela e próximas ao Suriname
- outro dos grandes corredores de exportação de
cocaína. Juntas, as bases contam com 665 militares americanos.
Guilherme Navarro Jiménez, economista mexicano, assegura
que os exércitos do Equador, Peru e Brasil já
apóiam o Plano, sob o argumento de impedir uma invasão
por parte da guerrilha colombiana aos seus territórios
nacionais. Para ele, a proposta de uma ação militar
conjunta entre os países de fronteira com a Colômbia,
coordenada pelos EUA, começou ainda em 2000. Já
foi elaborado o Plano Equador, que prevê para os americanos
o livre acesso e uso da base da Força Aérea ou
do Porto em Manta, “assim como instalações
relacionadas com a base ou suas cercanias”. O Brasil também
possui um plano de ação direta das forças
armadas no conflito, chamado Plano Cobra - iniciais de Colômbia
e Brasil. O deputado federal Fernando Gabeira (PT-RJ) diz que
o exército brasileiro se prepara para o conflito nas
fronteiras da Amazônia. “A base de Manaus é
considerada a melhor do mundo em termos de treinamento de guerra
na selva, o Brasil conta também com os dados de satélite
on line do projeto Sivam, e uma equipe de soldados
de origem indígena, que conhece muito bem as línguas
e as tribos da região”.
Críticas
- Na versão estadunidense, o Plano Colômbia teria
como objetivos combater o narcotráfico e, mais recentemente,
a guerrilha, além de instaurar a democracia na região.
No entanto, existem outras versões sobre o que seriam
“os reais objetivos norte-americanos”. O professor
de Ciências Sociais da UFSC, Fernando Pontes, afirma que
“essa intervenção é o resultado da
necessidade de garantir estabilidade política e militar
para um maior controle dos EUA na América do Sul”.
Mas outros passos complementam esta ação. O Acordo
de Livre Comércio das Américas (ALCA) seria o
início da dominação econômica e política,
enquanto o Plano Colômbia faria parte de uma estratégia
militar. Ele explica que os EUA é o maior devedor mundial,
e está à procura de novos mercados e matérias
primas para evitar uma estagnação econômica
em seu país. Para o professor, “o Plano Colômbia
não é um fato isolado, faz parte da estratégia
estadunidense mundial concernente para a região”.
Pontes lembra a histórica política de intervenção
militar dos EUA na América Latina, quando invadiram,
só no século passado, Cuba, Haiti, Panamá,
México, República Dominicana, Guatemala, Nicarágua
e agora a Colômbia, além das intervenções
políticas, inclusive nos governos militares de Argentina,
Chile e Brasil, entre outros.
Mas há outros interesses. Na região onde o Plano
Colômbia vai iniciar a guerra, Caquetá e Putummayo,
existem projetos para exploração de petróleo.
A embaixadora americana, Anne Patterson, admitiu recentemente
que “depois de 11 de setembro, as fontes internacionais
de reserva de petróleo ficaram menos seguras, e agora,
mais do nunca, é fundamental a diversificação
agregando as latino-americanas, até para evitar especulações
sobre o aumento do óleo bruto”. A principal exploradora
de petróleo na Colômbia é a multinacional
Oxy, com sede em Los Angeles. Sabe-se que o governo dos Estados
Unidos forneceu US$ 98 milhões para o exército
colombiano proteger os oleodutos da região de Arauca,
inclusive os da Oxy. Putummayo, território situado na
região do sul do país, onde as lutas do Plano
Colômbia serão concentradas, possui, ao lado da
cocaína, um grande potencial petrolífero. Fernando
Gabeira afirma que “ Os EUA estão de olho nesse
potencial, e a Shell e Occidental Petroleum investiram pesado
na área. Alguns ataques guerrilheiros já foram
feitos contra elas, e por causa disso as duas empresas foram
incentivadoras do Plano”.
Narcotráfico americano - A Colômbia produz hoje
80% da coca mundial. Da cocaína consumida nos EUA, 90%
é produzida ou se origina no país e os EUA é
o maior consumidor mundial da droga. A Colômbia é
também a terceira maior produtora de heroína,
perdendo apenas para o Afeganistão e Mianmar, e assim
como a cocaína, 90% da heroína produzida na Colômbia
supre o mercado americano. Ou seja, eles são os maiores
consumidores do narcotráfico que dizem combater. Pontes
explica que “a justificativa americana de combate ao narcotráfico
na Colômbia não se sustenta, à medida que
não adianta acabar com a produção sem rever
o consumo. Ninguém produz, indeterminadamente, sem que
o consumo não esteja assegurado”, lembra. Maurice
Lemoine, correspondente do Le Monde Diplomatique na
Colômbia, revela que “externalizando a Guerra Santa
contra a droga, evita-se o trabalho de questionar as condições
econômicas e sociais que prevalecem nas vilas e guetos
norte-americanos”. Dados da ONU confirmam que 3,6 milhões
de norte-americanos são viciados crônicos em cocaína.
Na luta contra as drogas, os Estados Unidos gastam US$ 18 bilhões
por ano, mas mesmo assim, conforme a revista britânica
The Economist, 500 mil dos dois milhões de presos
americanos estão detidos por crimes envolvendo drogas.
Calcula-se que a indústria das drogas ilícitas
movimenta anualmente cerca de US$ 400 bilhões, o que
representa entre 8% e 10% do comércio mundial, perdendo
apenas para a indústria do petróleo e da venda
de armas.
Os Estados Unidos possuem um importante papel na produção
da cocaína colombiana, como mostra Wálter Fanganiello
Maierovitch, colunista da revista Carta Capital. Ele
destaca o fato de a Colômbia não possuir indústrias
químicas - e não se refina sem insumos químicos,
que precisam ser importados. E o maior exportador de insumos
para a Colômbia são os EUA. Ele também afirma
que “o dinheiro da droga não é lavado e
reciclado na Colômbia. Corre pela potente rede telemática
da Swift - Sociedade de Telecomunicações Interbancárias
e Financeiras Mundial”, que foi fundada pelos 250 maiores
bancos americanos e europeus. Os aviões usados no tráfico
são, quase todos, fabricados e vendidos pelos americanos.
Não há fiscalização. |
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