|
Zero
comemora 20 anos!
Conheça sua história. |
|
|
|
Entre
em contato com a gente.
Envie sua mensagem. |
|
|
 |
Zero
garante verba para semestre 2002/2. |
|
|
JORNALISMO
- UFSC
Leia. Recomende aos amigos.
|
|
|
 |
Desde 1992, o governo colombiano realiza as
chamadas fumigações, através das quais
aviões lançam jatos de fumaça de compostos
químicos sobre culturas teoricamente ilícitas.
A fim de cumprir a meta inicial do Plano Colômbia - reduzir
em 50% a produção de cocaína - a medida
vêm sendo intensificada. Maurice Lemoine, correspondente
do Le Monde Diplomatique, apurou que os seis últimos
anos de fumigação, afetaram 110 mil hectares,
com um custo anual de aproximadamente US$ 300 milhões.
Apesar disso, houve crescimento na produção: dos
50 mil hectares cultivados em 1995, a cultura de coca colombiana
chegou a 120 mil hectares no final de 1999. A papoula partiu
do zero para atingir 6 mil hectares.
Além de não apresentar resultados efetivos, há
indícios de que os químicos utilizados prejudicam
a saúde dos camponeses. Lemoine conta que na vereda de
Santa Inés, na região do maciço colombiano,
há casos de intoxicação química.
As pessoas apresentam sintomas como febre, diarréias,
dores de estômago e cefaléia depois de tomarem
a água que abastece a vila. O médico da cidade
vizinha de Sucre, Luiz Eduardo Cerón examinou os pacientes
e afirmou que “todos apresentam os mesmos sintomas, trata-se
de uma intoxicação provocada por organoclorados.
Não é possível fazer previsões,
pois eu não a conheço”.
ONGs denunciam que o plano prevê o emprego do fungo Fursarum
Oxysporum, arma biológica criada durante a guerra
fria. A Acción Ecológica del Ecuador, denuncia
que o fungo é mutante, se dispersa facilmente e é
um dos mais daninhos que existem, provocando o ressecamento
das folhas, putrefação e morte da planta, além
de causar graves problemas de saúde no ser humano e poluição
das águas, sobrevivendo de 20 a 40 anos. O governo colombiano
desmentiu.
Armando
Sarmiento Santos, físico colombiano, doutorando em Engenharia
de Materiais na UFSC, confirma que muitas famílias perderam
tudo o que tinham com as fumigações “Utilizavam-se
os químicos errados nas regiões erradas. Assim
destruíam as plantações de mandioca, milho,
batata ou fruta, dependendo da altitude”. E aponta o grave
caso dos nativos de Santa Nevada, a maior reserva indígena
do país, que tiveram graves alergias, e onde se verificou
ocorrências de deformação nos fetos.
Quando o combate ao plantio mostra sua eficácia outros
países podem se beneficiar. É o que constata o
repórter Maurice Lemoine. Os peruanos, que já
passaram pelo processo de erradicação da coca,
parecem esperançosos com a possível queda da produção
colombiana. “O anúncio das fumigações
e do Plano Colômbia estimulou novamente a produção,
o preço da coca subiu e, daqui a três ou quatro
anos, o Peru voltará a ser, sem dúvida, um importante
produtor da região”, ouviu do agricultor Ricardo
Vargas, em Bogotá. A erradicação forçada,
implantada na Bolívia e Peru, transferiu a plantação
de coca para a Colômbia.
Plantações e narcotráfico - Desenvolver
as fumigações é uma forma, na estratégia
americana, de combater o narcotráfico e as guerrilhas.
No entanto, órgãos de defesa dos direitos humanos
chamam a atenção para a falta de apoio aos camponeses.
Afinal, se eles interromperem a produção de coca,
vão necessitar de apoio do governo para estabelecer outras
culturas.
A coca sustenta os agricultores colombianos. Para se produzir
um quilo de cocaína, são necessários 500
quilos de folha seca. Sarmiento Santos, atesta a inoperância
do governo. “Os camponeses acabam plantando coca por falta
de opção. Como a maioria das regiões no
interior não possuem infra-estrutura, a mandioca, milho
ou frutas precisam ser levadas a cavalo até o local de
venda ou até um caminhão que realiza o restante
do percurso”, diz. Mas o custo desse transporte não
compensa o trabalho, chega a dar prejuízo. E as cooperativas
que tentam se formar, são repreendidas pelo governo,
que vê nelas um núcleo da guerrilha potencial.
Se os agricultores plantam coca, os narcotraficantes pagam muito
bem e responsabilizam-se pelo transporte”. Sarmiento Santos
diz que a guerrilha “respeita a economia da região”
e não interfere, porque sabem, que de outro jeito, os
camponeses iriam morrer de fome. Já com os narcotraficantes,
é diferente. A guerrilha cobra a vacuna, imposto
revolucionário sobre a coca comprada dos agricultores
e produzida nos laboratórios. Para a acusação
de que são comandantes de uma narcoguerrilha, os comandantes
das FARC argumentam: “Não cabe a nós condená-los
à fome erradicando suas culturas ilícitas. Além
disso, as máfias ajudam o exército a financiarem
os paramilitares. Por que deveríamos ser os únicos
a considerar esse flagelo sob um ângulo ético?
É antes de mais nada um problema econômico-social”
.
Maurice Lemoine cita casos em que os camponeses tentaram se
dedicar a outras culturas mas não tiveram o mínimo
apoio do governo. Um deles é o dos índios yanacona,
da região do Rio Blanco, que no início da década
de 90 começaram a plantar papoula - já que os
EUA passaram a consumir heroína além da coca.
Como a violência aumentou muito na região, a ponto
de o hospital não aceitar mais feridos em 1998, os índios
decidiram em assembléia acabar com o plantio. Assinaram
um acordo com o governo para reduzir o plantio em troca de um
projeto de desenvolvimento. No final do ano não havia
mais papoula na região, tampouco algum projeto. Retomaram
o plantio ilícito. Na mesma época, os agricultores
de Santa Cruz passaram a plantar o palmito. O preço cai
pela metade e a polícia entende que, como não
existe na cidade um mercado específico para frutas e
verduras, não pode ser comercializado ali. Os ex-cocaleiros
são expulsos por cassetetes.
A única plantação legal que consegue êxito
atualmente na Colômbia é a da banana: sua produção
saltou de 3.083 hectares em 1986 para 8.300 hectares em 1999
- um aumento de mais de 100% em treze anos. No entanto, pertence
à iniciativa privada. Desde a abertura de seu mercado,
a Colômbia perdeu 700 mil hectares de terras agrícolas.
Era auto-suficiente na produção de arroz até
o início da década de 90, agora importa 420 mil
toneladas por ano.
O editorialista Andrés Oppenheimer afirma que “a
Europa e os EUA tornam cada vez mais difícil para os
países da América Latina, a exportação
de seus produtos legais”. Ele acrescenta que o Plano Colômbia
não destina dinheiro suficiente para auxiliar os camponeses
a compensarem suas perdas. |
|
Se você tiver algum problema
ao navegar nesta página envie um email para
zero@cce.ufsc.br.
|
 |
Visite
a geleria de capas do jornal impresso e conheça um
pouco
mais da história do Zero.
|
|
|