Número 1 - Ano I - Edição fechada em 29 de Julho de 2002 Florianópolis-SC
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Marulanda: agora só a via armadaRecentemente, o futuro presidente Álvaro Uribe propôs à guerrilha que abandonasse as armas e ingressasse na vida política, a fim de retomar o acordo de paz. Mas o ex-presidente Belessario Betancur já tentou essa via em 1984 e foi um fracasso. Na ocasião, estabeleceu-se o prazo de um ano para o cessar-fogo. Em novembro de 1985 a aliança das FARC-EP lança seu braço político, a União Patriótica (UP) e participa das eleições de 1986, elegendo 350 conselheiros municipais, 23 deputados e seis senadores. A consequência foi o assassinato de mais de 4 mil dirigentes e militantes da UP. Desde então, a guerrilha anunciou que, mesmo com acordos de paz, vai conservar suas armas. “Não incidiremos nunca mais nesse erro”, apostou Manuel Marulanda, líder e funbdador das FARC. A proposta de Uribe representou uma mera encenação. “Com a negativa da guerrilha”, assegura Maierovitch, “Uribe partirá para o ataque e os paramilitares continuarão incubidos dos massacres aos civis”. Sarmiento Santos, lembra que “lá não se tem essa tolerância com a esquerda, como no Brasil. O Partido Comunista foi dizimado. Se a direita acha que está perdendo força, dizima o partido opositor fisicamente”, explicando porque a guerrilha age clandestinamente.

Os diálogos entre governo e a guerrilha foram interrompidos este ano com o fim da concessão de uma área desmilitarizada de 42 mil quilômetros quadrados de onde o exército havia se retirado em novembro de 1998 por ordem do presidente Pastrana. A área abrangia cinco municípios - San Vicente del Caguán, La Macareña, Vista Hermosa, Mesetas e Uribe - e estava sob o comando das FARC.

As leis que vigoravam na região eram as da guerrilha: quem mata é condenado à morte; quem bate em alguém deve pagar uma multa de US$ 25 a US$ 50; ladrões prestam serviços à comunidade durante dois ou três meses e menores, são proibidos de beber álcool ou vagar pelas ruas depois da meia-noite. Houve uma drástica redução de homicídios, como testemunha Maurice Lemoine: de seis assassinatos registrados por semana, a região presenciou apenas seis assassinatos durante todo o primeiro ano de intervenção das FARC.

Sarmiento Santos conta, que com o fim do acordo, a população teme a violência do exército e dos paramilitares na região. “No campo, onde a guerrilha está, o povo está com ela” assegura. Ele explica que na cidade a guerrilha possui uma força importante, pois nasceu nas universidades, e é lá que desempenha sua influência política, com o apoio de sindicatos e estudantes, onde fazem propaganda.“A base do funcionamento da guerrilha é social, tanto na cidade como no campo”, diz.

Ele conta que a guerrilha orienta os camponeses a plantar uma pequena parte de alimentos para a subsistência e os protege dos grupos paramilitares. “Eles respeitam a forma de economia da região porque sabem que iriam morrer de fome com outro tipo de plantação”. A relação da guerrilha com o narcotráfico é no sentido de cobrar impostos sobre a coca comprada dos agricultores. Ele fala de outro imposto, cobrado nas cidades, onde quem um nível financeiro maior deve pagar uma porcentagem aos guerrilheiros ou sofre atentados. “Até multinacionais pagam uma porcentagem para a guerrilha, para não sofrer nenhum tipo de ameaça”, sustenta o colombiano. Para não pagar impostos ou se sujeitar às leis guerrilheiras, as oligarquias e narcotraficantes organizaram os grupos de auto defesas, com o apoio do exército, que treina e instrui a formação do grupo. Em troca, as oligarquias financiariam os paramilitares com armas.

As denúncias de Ongs sobre os excessos da guerrilha multiplicam-se. Eles são acusados de sequestros, extorsão, detenção de civis e assassinatos seletivos, entre outras denúncias. Em 2001 atribuiu-se à FARC, ELN e AUC, 3.500 assassinatos e 80% dos 3.000 sequestros/ano à FARC e ELN. Em muitos casos os guerrilheiros assumem a autoria do crime.

Leda Malysz

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