|
Zero
comemora 20 anos!
Conheça sua história. |
|
|
|
Entre
em contato com a gente.
Envie sua mensagem. |
|
|
 |
Zero
garante verba para semestre 2002/2. |
|
|
JORNALISMO
- UFSC
Leia. Recomende aos amigos.
|
|
|
 |
O
drama vivido pelos camponeses de Batata é idêntico
ao de milhares de outros habitantes das regiões rurais
da Colômbia. O deslocamento forçado foi considerado
por instituições de defesa dos direitos humanos
como o problema humanitário mais grave do país
em 2000. Um levantamento feito pela Consultoria para os Direitos
Humanos e o Deslocamento (Codhes), e pelo Centro de Investigação
e Educação Popular (Cinep), organizações
não governamentais com sedes na Colômbia, indicou
o país como o segundo maior índice no mundo em
número de refugiados internos naquele ano – atrás
apenas do Sudão.
Em 2000, a população total de refugiados na Colômbia,
considerados os quinze anos anteriores, somava 317.375 pessoas,
membros de 65 mil famílias, o número mais alto
registrado desde 1985, quando os grupos paramilitares ameaçavam
e matavam membros da União Patriótica e de todas
as organizações de esquerda. Esses dados, divulgados
pelo Sistema de Informação de Famílias
Deslocadas e Direitos Humanos (Sisdes), pertencente ao Codhes,
conflitam com os números oficiais do governo colombiano:
até 2000 seriam 128.843 refugiados, em 26.107 famílias.
De acordo com levantamentos do Sisdes, apenas em 2000 aconteceram
106 êxodos em massa na Colômbia, gerando um total
de 52.229 refugiados. A entidade governamental RSS, por outro
lado, divulgou 97 deslocamentos em massa naquele ano.
A pesquisa do Sisdes também revela que a população
camponesa é a mais afetada pela violência: 81%
dos refugiados viviam em zonas rurais. Desse total, 64% possuíam
uma casa. Depois do deslocamento, apenas 11% dos refugiados
continuam sendo proprietários de um imóvel.
O abandono forçado do campo é um fator que aumenta
a crise agrária e modifica a composição
demográfica e social das cidades colombianas. Pesquisas
do Sisdes revelam que a maior parte desses refugiados migra
para os grandes centros urbanos – em 1999 Bogotá
recebeu 12,5% dos deslocados de todo o país, cerca de
30 mil pessoas em um estado de absoluta pobreza. Naquele ano,
pessoas ameaçadas por grupos armados saíram de
243 pequenos municípios com destino a 400 cidades de
médio e grande porte – mais de 30% do total de
cidades existentes no país.
A conseqüência mais visível desse fenômeno
é o rápido aumento da taxa de desemprego, agravando
problemas de marginalidade, pobreza e exclusão. O nível
de desemprego no país cresceu de 15,9%, em 1998, para
20,4%, em 2000, quando foi lançado o Plano Colômbia.
Antes do deslocamento, apenas 2% dos chefes das famílias
hoje refugiadas estavam desempregados. Esse número sobe
para 48% depois que abandonam suas terras.
A segregação das classes sociais, sempre visível
no país, tornou-se ainda maior no final dos anos 90.
Nessa época, 57% dos colombianos viviam abaixo da linha
de pobreza, enquanto 20% da população, os ricos
do país, detinham 52% da renda do país. Na mesma
época, dois grandes grupos financeiros eram proprietários
de 47% dos meios de comunicações da Colômbia.
Desemprego e pobreza afetam diretamente o desenvolvimento das
crianças, que crescem desnutridas e privadas de educação.
Ainda de acordo com dados do Sisdes, 57% das crianças
de famílias refugiadas são obrigadas a abandonar
a escola devido aos deslocamentos. Esse dado, porém,
não é o que mais preocupa os deslocados. As maiores
necessidades, apontadas pela pesquisa, são serviços
médicos (70%) e atenção psicológica
(13%).
O temor dos camponeses é generalizado: a maioria tem
medo tanto de guerrilheiros quanto de paramilitares e do exército.
Mas, no levantamento feito pelo Sisdes, 54% dos refugiados em
1999 indicaram ações paramilitares como razão
das fugas. Dando como razão a insegurança ainda
existente em seus lugares de origem, 53% dos deslocados manifestaram
o desejo de permanecer no local para onde migraram. Outros 26%
se disseram dispostos a um reassentamento. Apenas 19% concordariam
em voltar para suas terras, mas com uma ressalva fundamental:
dentro de condições de justiça e dignidade.
Desde quando esta reportagem começou a ser elaborada,
em julho de 2001, até sua finalização,
em abril de 2002, a situação da Colômbia
não melhorou. O fim dos diálogos de paz e das
zonas desmilitarizadas em fevereiro de 2002 incitou a onda de
seqüestros e chantagens por parte das Farc.
As ações violentas de todas as facções
armadas ganham atualmente uma nova dimensão, com ataques
cada vez mais freqüentes aos centros urbanos. Em Barrancabermeja,
uma cidade de 283 mil habitantes no centro da Colômbia,
sede de companhias refinadoras de petróleo, 216 pessoas
foram assassinadas nos primeiros sete meses de 2001, quando
os paramilitares tomaram o poder das mãos dos guerrilheiros
do ELN. Nessa época, 350 famílias abandonaram
suas casas na cidade. A ONG Assembléia pela Paz denunciou
à imprensa internacional que a tomada paramilitar de
Barrancabermeja teve início em janeiro de 2001, “com
a ajuda da polícia local e do exército”.
O diretor do Programa de Desenvolvimento e Paz do Madalena Médio
(região ao norte da Colômbia), padre Francisco
de Roux, também denunciou conivência de autoridades
com grupos paramilitares. Segundo ele, também em 2001
os paramilitares tomaram a cidade de Peque – no Estado
de Antioquia, também ao norte do país –
sem qualquer oposição dos militares que faziam
a segurança da área. Ao mesmo tempo, paramilitares
detidos em flagrante foram colocados em liberdade. Centenas
de famílias fugiram para Medellín. Importante
notar que, segundo dados do Banco Interamericano de Desenvolvimento
(BID), 24,7% do PIB da Colômbia é destinado ao
combate à violência – no Brasil esse índice
é de 10,5%. |
|
Se você tiver algum problema
ao navegar nesta página envie um email para
zero@cce.ufsc.br.
|
 |
Visite
a geleria de capas do jornal impresso e conheça um
pouco
mais da história do Zero.
|
|
|