Número 1 - Ano I - Edição fechada em 29 de Julho de 2002 Florianópolis-SC
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“... um jipe e um Renault 18 bloquearam pela frente e por trás o automóvel do chefe de redação de El Tiempo, Francisco Santos, numa rua secundária do bairro de Las Férias, na zona oeste de Bogotá (...) os quatro assaltantes que o rodearam traziam não apenas pistolas 9 milímetros e submetralhadoras Mini Uzis com silenciador, mas um deles tinha um martelo especial para quebrar os vidros. Nada disso foi necessário. Francisco Santos, que os amigos chamam de Pacho, é um discutidor incorrigível. Antecipou-se para abrir a porta e falar com os assaltantes (...) Um dos seqüestradores imobilizou-o com uma pistola na testa e obrigou-o a sair do carro com a cabeça abaixada. Outro abriu a porta dianteira e disparou três tiros: um se desviou contra o vidro blindado, e dois perfuraram o crânio do chofer, Oromansio Ibánez, de 38 anos. Pacho não percebeu.”

Gabriel García Márquez
Em Notícias de um seqüestro, 1996



O trecho do livro do célebre escritor García Márquez seria apenas mais um relato de seqüestro na Colômbia, não fosse a vítima em questão: Francisco Santos, jornalista de 40 anos, é hoje o vice-presidente do país, ao lado de Álvaro Uribe, eleito em 26 de maio com a promessa de acabar com a guerrilha. Ironia do destino ou não, o seqüestro de que foi vítima durante oito meses, entre 1990 e 1991, foi realizado a mando de Pablo Escobar – o mesmo que financiou projetos de Uribe enquanto foi prefeito de Medellín na mesma época.

Jovem de boa família, Francisco Santos, o “Pacho”, nunca havia se envolvido com a política. Em 1991, ao deixar o cativeiro, fundou a organização “País Livre”, criada para prestar assistência àqueles que, como ele, foram vítimas de seqüestro e tiveram a sorte de sair vivos. A fundação promoveu manifestações com mais de três milhões de pessoas.

No ano 2000, Santos era diretor de redação do jornal El Tiempo quando foi revelado um plano das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) para matá-lo. O medo fez com que Santos deixasse a Colômbia, mudando-se para a Espanha, onde foi assistente de direção do jornal El País, até ser convidado, este ano, para integrar a chapa de Uribe.

Santos acredita que é possível vencer as FARC com armas e que o governo colombiano vai precisar de dinheiro, vindo de impostos de guerra e de ajuda americana. Acha que, assim a guerrilha e os grupos paramilitares ligados ao narcotráfico também devem ser combatidos. Do governo brasileiro, espera ajuda militar na fronteira e acredita que o país vizinho também é muito prejudicado pela existência das guerrilhas. “O Brasil é o segundo ou terceiro maior consumidor de drogas do mundo. Se não o fizerem (o combate às FARC) terão um problema muito sério, muito em breve”, acredita.

Apesar de ter consciência do passado suspeito do presidente Uribe, Santos o considera um homem de “patrimônio transparente” e “que tem sido honesto”. Está absolutamente seguro que não existe relação entre ele e grupos paramilitares de direita. Uribe e Santos se conheceram em Harvard, onde estudaram entre 1996 e 1997.


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