“... um
jipe e um Renault 18 bloquearam pela frente e por trás
o automóvel do chefe de redação de El Tiempo,
Francisco Santos, numa rua secundária do bairro de Las
Férias, na zona oeste de Bogotá (...) os quatro
assaltantes que o rodearam traziam não apenas pistolas
9 milímetros e submetralhadoras Mini Uzis com silenciador,
mas um deles tinha um martelo especial para quebrar os vidros.
Nada disso foi necessário. Francisco Santos, que os amigos
chamam de Pacho, é um discutidor incorrigível.
Antecipou-se para abrir a porta e falar com os assaltantes (...)
Um dos seqüestradores imobilizou-o com uma pistola na testa
e obrigou-o a sair do carro com a cabeça abaixada. Outro
abriu a porta dianteira e disparou três tiros: um se desviou
contra o vidro blindado, e dois perfuraram o crânio do
chofer, Oromansio Ibánez, de 38 anos. Pacho não
percebeu.” Gabriel
García Márquez
Em Notícias de um seqüestro, 1996
O trecho do livro do célebre escritor
García Márquez seria apenas mais um relato de
seqüestro na Colômbia, não fosse a vítima
em questão: Francisco Santos, jornalista de 40 anos,
é hoje o vice-presidente do país, ao lado de
Álvaro Uribe, eleito em 26 de maio com a promessa de
acabar com a guerrilha. Ironia do destino ou não, o
seqüestro de que foi vítima durante oito meses,
entre 1990 e 1991, foi realizado a mando de Pablo Escobar
– o mesmo que financiou projetos de Uribe enquanto foi
prefeito de Medellín na mesma época.
Jovem de boa família, Francisco Santos, o “Pacho”,
nunca havia se envolvido com a política. Em 1991, ao
deixar o cativeiro, fundou a organização “País
Livre”, criada para prestar assistência àqueles
que, como ele, foram vítimas de seqüestro e tiveram
a sorte de sair vivos. A fundação promoveu manifestações
com mais de três milhões de pessoas.
No ano 2000, Santos era diretor de redação do
jornal El Tiempo quando foi revelado um plano das
Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia
(FARC) para matá-lo. O medo fez com que Santos deixasse
a Colômbia, mudando-se para a Espanha, onde foi assistente
de direção do jornal El País,
até ser convidado, este ano, para integrar a chapa
de Uribe.
Santos acredita que é possível vencer as FARC
com armas e que o governo colombiano vai precisar de dinheiro,
vindo de impostos de guerra e de ajuda americana. Acha que,
assim a guerrilha e os grupos paramilitares ligados ao narcotráfico
também devem ser combatidos. Do governo brasileiro,
espera ajuda militar na fronteira e acredita que o país
vizinho também é muito prejudicado pela existência
das guerrilhas. “O Brasil é o segundo ou terceiro
maior consumidor de drogas do mundo. Se não o fizerem
(o combate às FARC) terão um problema muito
sério, muito em breve”, acredita.
Apesar de ter consciência do passado suspeito do presidente
Uribe, Santos o considera um homem de “patrimônio
transparente” e “que tem sido honesto”.
Está absolutamente seguro que não existe relação
entre ele e grupos paramilitares de direita. Uribe e Santos
se conheceram em Harvard, onde estudaram entre 1996 e 1997.
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